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  • Transtornos da Personalidade e os Critérios Diagnósticos do DSM5

    Transtorno da Personalidade Paranoide Critérios Diagnósticos 301.0 (F60.0) A. Um padrão de desconfiança e suspeita difusa dos outros, de modo que suas motivações são interpretadas como malévolas, que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes: 1. Suspeita, sem embasamento suficiente, de estar sendo explorado, maltratado ou enganado por outros. 2. Preocupa-se com dúvidas injustificadas acerca da lealdade ou da confiabilidade de amigos e sócios. 3. Reluta em confiar nos outros devido a medo infundado de que as informações serão usadas maldosamente contra si. 4. Percebe significados ocultos humilhantes ou ameaçadores em comentários ou eventos benignos. 5. Guarda rancores de forma persistente (i.e., não perdoa insultos, injúrias ou desprezo). 6. Percebe ataques a seu caráter ou reputação que não são percebidos pelos outros e reage com raiva ou contra-ataca rapidamente. 7. Tem suspeitas recorrentes e injustificadas acerca da fidelidade do cônjuge ou parceiro sexual. B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressivo com sintomas psicóticos ou outro transtorno psicótico e não é atribuível aos efeitos fisiológicos de outra condição médica. Nota: Se os critérios são atendidos antes do surgimento de esquizofrenia, acrescentar “pré-mórbido”, isto é, “transtorno da personalidade paranoide (pré-mórbido)”. Transtorno da Personalidade Esquizoide Critérios Diagnósticos 301.20 (F60.1) A. Um padrão difuso de distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita de expressão de emoções em contextos interpessoais que surgem no início da vida adulta e estão presentes em vários contextos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes: 1. Não deseja nem desfruta de relações íntimas, inclusive ser parte de uma família. 2. Quase sempre opta por atividades solitárias. 3. Manifesta pouco ou nenhum interesse em ter experiências sexuais com outra pessoa. 4. Tem prazer em poucas atividades, por vezes em nenhuma. 5. Não tem amigos próximos ou confidentes que não sejam os familiares de primeiro grau. 6. Mostra-se indiferente ao elogio ou à crítica de outros. 7. Demonstra frieza emocional, distanciamento ou embotamento afetivo. B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressivo com sintomas psicóticos, outro transtorno psicótico ou transtorno do espectro autista e não é atribuível aos efeitos psicológicos de outra condição médica. Nota: Se os critérios são atendidos antes do surgimento de esquizofrenia, acrescentar “pré-mórbido”, isto é, “transtorno da personalidade esquizoide (pré-mórbido)”. Transtorno da Personalidade Esquizotípica Critérios Diagnósticos 301.22 (F21) A. Um padrão difuso de déficits sociais e interpessoais marcado por desconforto agudo e capacidade reduzida para relacionamentos íntimos, além de distorções cognitivas ou perceptivas e comportamento excêntrico, que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes: 1. Ideias de referência (excluindo delírios de referência). 2. Crenças estranhas ou pensamento mágico que influenciam o comportamento e são inconsistentes com as normas subculturais (p. ex., superstições, crença em clarividência, telepatia ou “sexto sentido”; em crianças e adolescentes, fantasias ou preocupações bizarras). 3. Experiências perceptivas incomuns, incluindo ilusões corporais. 4. Pensamento e discurso estranhos (p. ex., vago, circunstancial, metafórico, excessivamente elaborado ou estereotipado). 5. Desconfiança ou ideação paranoide. 6. Afeto inadequado ou constrito. 7. Comportamento ou aparência estranha, excêntrica ou peculiar. 8. Ausência de amigos próximos ou confidentes que não sejam parentes de primeiro grau. 9. Ansiedade social excessiva que não diminui com o convívio e que tende a estar associada mais a temores paranoides do que a julgamentos negativos sobre si mesmo. B. Não ocorre exclusivamente durante o curso de esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressivo com sintomas psicóticos, outro transtorno psicótico ou transtorno do espectro autista. Nota: Se os critérios são atendidos antes do surgimento de esquizofrenia, acrescentar “pré-mórbido”, isto é, “transtorno da personalidade esquizotípica (pré-mórbido)”. Transtorno da Personalidade Antissocial Critérios Diagnósticos 301.7 (F60.2) A. Um padrão difuso de desconsideração e violação dos direitos das outras pessoas que ocorre desde os 15 anos de idade, conforme indicado por três (ou mais) dos seguintes: 1. Fracasso em ajustar-se às normas sociais relativas a comportamentos legais, conforme indicado pela repetição de atos que constituem motivos de detenção. 2. Tendência à falsidade, conforme indicado por mentiras repetidas, uso de nomes falsos ou de trapaça para ganho ou prazer pessoal. 3. Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro. 4. Irritabilidade e agressividade, conforme indicado por repetidas lutas corporais ou agressões físicas. 5. Descaso pela segurança de si ou de outros. 6. Irresponsabilidade reiterada, conforme indicado por falha repetida em manter uma conduta consistente no trabalho ou honrar obrigações financeiras. 7. Ausência de remorso, conforme indicado pela indiferença ou racionalização em relação a ter ferido, maltratado ou roubado outras pessoas. B. O indivíduo tem no mínimo 18 anos de idade. C. Há evidências de transtorno da conduta com surgimento anterior aos 15 anos de idade. D. A ocorrência de comportamento antissocial não se dá exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou transtorno bipolar. Transtorno da Personalidade Borderline Critérios Diagnósticos 301.83 (F60.3) Um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem e dos afetos e de impulsividade acentuada que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes: 1. Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado. (Nota: Não incluir comportamento suicida ou de automutilação coberto pelo Critério 5.) 2. Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização. 3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da autoimagem ou da percepção de si mesmo. 4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas (p. ex., gastos, sexo, abuso de substância, direção irresponsável, compulsão alimentar). (Nota: Não incluir comportamento suicida ou de automutilação coberto pelo Critério 5.) 5. Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante. 6. Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor (p. ex., disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração geralmente de poucas horas e apenas raramente de mais de alguns dias). 7. Sentimentos crônicos de vazio. 8. Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la (p. ex., mostras frequentes de irritação, raiva constante, brigas físicas recorrentes). 9. Ideação paranoide transitória associada a estresse ou sintomas dissociativos intensos. Transtorno da Personalidade Histriônica Critérios Diagnósticos 301.50 (F60.4) Um padrão difuso de emocionalidade e busca de atenção em excesso que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes: 1. Desconforto em situações em que não é o centro das atenções. 2. A interação com os outros é frequentemente caracterizada por comportamento sexualmente sedutor inadequado ou provocativo. 3. Exibe mudanças rápidas e expressão superficial das emoções. 4. Usa reiteradamente a aparência física para atrair a atenção para si. 5. Tem um estilo de discurso que é excessivamente impressionista e carente de detalhes. 6. Mostra autodramatização, teatralidade e expressão exagerada das emoções. 7. É sugestionável (i.e., facilmente influenciado pelos outros ou pelas circunstâncias). 8. Considera as relações pessoais mais íntimas do que na realidade são. Transtorno da Personalidade Narcisista Critérios Diagnósticos 301.81 (F60.81) Um padrão difuso de grandiosidade (em fantasia ou comportamento), necessidade de admiração e falta de empatia que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes: 1. Tem uma sensação grandiosa da própria importância (p. ex., exagera conquistas e talentos, espera ser reconhecido como superior sem que tenha as conquistas correspondentes). 2. É preocupado com fantasias de sucesso ilimitado, poder, brilho, beleza ou amor ideal. 3. Acredita ser “especial” e único e que pode ser somente compreendido por, ou associado a, outras pessoas (ou instituições) especiais ou com condição elevada. 4. Demanda admiração excessiva. 5. Apresenta um sentimento de possuir direitos (i.e., expectativas irracionais de tratamento especialmente favorável ou que estejam automaticamente de acordo com as próprias expectativas). 6. É explorador em relações interpessoais (i.e., tira vantagem de outros para atingir os próprios fins). 7. Carece de empatia: reluta em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e as necessidades dos outros. 8. É frequentemente invejoso em relação aos outros ou acredita que os outros o invejam. 9. Demonstra comportamentos ou atitudes arrogantes e insolentes. Transtorno da Personalidade Evitativa Critérios Diagnósticos 301.82 (F60.6) Um padrão difuso de inibição social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade a avaliação negativa que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes: 1. Evita atividades profissionais que envolvam contato interpessoal significativo por medo de crítica, desaprovação ou rejeição. 2. Não se dispõe a envolver-se com pessoas, a menos que tenha certeza de que será recebido de forma positiva. 3. Mostra-se reservado em relacionamentos íntimos devido a medo de passar vergonha ou de ser ridicularizado. 4. Preocupa-se com críticas ou rejeição em situações sociais. 5. Inibe-se em situações interpessoais novas em razão de sentimentos de inadequação. 6. Vê a si mesmo como socialmente incapaz, sem atrativos pessoais ou inferior aos outros. 7. Reluta de forma incomum em assumir riscos pessoais ou se envolver em quaisquer novas atividades, pois estas podem ser constrangedoras. Transtorno da Personalidade Dependente Critérios Diagnósticos 301.6 (F60.7) Uma necessidade difusa e excessiva de ser cuidado que leva a comportamento de submissão e apego que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por cinco (ou mais) dos seguintes: 1. Tem dificuldades em tomar decisões cotidianas sem uma quantidade excessiva de conselhos e reasseguramento de outros. 2. Precisa que outros assumam responsabilidade pela maior parte das principais áreas de sua vida. 3. Tem dificuldades em manifestar desacordo com outros devido a medo de perder apoio ou aprovação. (Nota: Não incluir os medos reais de retaliação.) 4. Apresenta dificuldade em iniciar projetos ou fazer coisas por conta própria (devido mais a falta de autoconfiança em seu julgamento ou em suas capacidades do que a falta de motivação ou energia). 5. Vai a extremos para obter carinho e apoio de outros, a ponto de voluntariar-se para fazer coisas desagradáveis. 6. Sente-se desconfortável ou desamparado quando sozinho devido a temores exagerados de ser incapaz de cuidar de si mesmo. 7. Busca com urgência outro relacionamento como fonte de cuidado e amparo logo após o término de um relacionamento íntimo. 8. Tem preocupações irreais com medos de ser abandonado à própria sorte. Transtorno da Personalidade Obsessivo-compulsiva Critérios Diagnósticos 301.4 (F60.5) Um padrão difuso de preocupação com ordem, perfeccionismo e controle mental e interpessoal à custa de flexibilidade, abertura e eficiência que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos, conforme indicado por quatro (ou mais) dos seguintes: 1. É tão preocupado com detalhes, regras, listas, ordem, organização ou horários a ponto de o objetivo principal da atividade ser perdido. 2. Demonstra perfeccionismo que interfere na conclusão de tarefas (p. ex., não consegue completar um projeto porque seus padrões próprios demasiadamente rígidos não são atingidos). 3. É excessivamente dedicado ao trabalho e à produtividade em detrimento de atividades de lazer e amizades (não explicado por uma óbvia necessidade financeira). 4. É excessivamente consciencioso, escrupuloso e inflexível quanto a assuntos de moralidade, ética ou valores (não explicado por identificação cultural ou religiosa). 5. É incapaz de descartar objetos usados ou sem valor mesmo quando não têm valor sentimental. 6. Reluta em delegar tarefas ou trabalhar com outras pessoas a menos que elas se submetam à sua forma exata de fazer as coisas. 7. Adota um estilo miserável de gastos em relação a si e a outros; o dinheiro é visto como algo a ser acumulado para futuras catástrofes. 8. Exibe rigidez e teimosia. FONTE: American Psychiatric Association. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM5. Porto Alegre: Artmed, 2014.

  • Livro: Eu Autista, um caso clínico de TEA de Alto Funcionamento

    SINOPSE: Diagnosticado com o Transtorno do Espectro Autista – TEA, aos 35 anos, Marcos relata neste livro as características que possui, atribuídas ao autismo. Dada a sua condição recém descoberta, Marcos procura evoluir como ser humano. Nesse processo, aprende a compreender em si e em seus filhos, também autistas, os principais gatilhos por trás de seus comportamentos. Este livro é um convite ao mundo de Marcos, que através do olhar de sua psicóloga/neuropsicóloga Livia, tem sido instigado a se desafiar e a se tornar, a cada dia, a sua melhor versão. AUTORES: Marcos A. P. Junior & Livia F. B. Carreira CAPA e ILUSTRAÇÕES: Michel Pereira PREFÁCIO: Prof. Dr. Francisco B. Assumpção Jr. & M.a Sabrina Fernandez Prieto Ebook na Amazon, clique aqui. Livro físico na Editora Uiclap, clique aqui. Este é um livro que foi escrito com muito carinho e com grande empenho. Surgiu do desejo de trazer à tona questões relevantes a serem esclarecidas aos familiares, cuidadores, amigos e colegas de pessoas com Transtorno do Espectro Autista de Alto Funcionamento, antigamente chamado de Síndrome de Asperger, aos profissionais da saúde que possam ter dúvidas sobre o diagnóstico desafiador na fase adulta de um autista, ou mesmo de uma criança ou adolescente, assim como aos próprios portadores dessa condição que muitas vezes não se conhecem, que se tornaram adultos “diferentes”, que se camuflaram de forma consciente ou inconsciente para se adequarem às demandas sociais. Após uma avaliação neuropsicológica e alguns meses de psicoterapia, pude perceber o quanto Marcos tem uma grande habilidade verbal. Sua capacidade de nomear e detalhar sua visão do mundo e suas emoções diante da realidade são contagiantes. A cada encontro, a cada conversa, é uma viagem que nos faz entender o seu universo e que traz ao mundo dos neurotípicos um entendimento de um ponto de vista e de uma lógica talvez ainda não analisada. Marcos nos faz mergulhar profundamente no mundo dos aspies. Conhecê-lo foi como um encontro de almas gêmeas. Cada palavra sua, que por muitas vezes na sua vida foi interpretada como algo estranho e esquisito, me soa como algo tão familiar e óbvio e, ao mesmo tempo, algo jamais ouvido. A sua didática e criatividade faz descortinar uma realidade, tida como irreal, louca ou sem sentido para muitos, porém fazendo todo o sentido - se é que algo não faz sentido nessa vida - quando observada intimamente em suas pequenas sutilezas. Com suas peculiaridades, sua idiossincrasia, com frases longas e perdidas e já reencontradas, delineiam-se caminhos de descobertas mútuas, de enriquecimento recíproco, de admiração e de afinidade. O Marcos é apenas um ser humano como todos nós que faz parte da neurodiversidade. O conceito de neurodiversidade foi utilizado pela primeira vez pela socióloga australiana Judy Singer1 e postula que condições como autismo e outros transtornos não são doenças a serem tratadas e curadas, mas, sim, diferenças neurológicas, diferenças humanas a serem respeitadas. Como disse Jung (1875-1961): “o encontro de duas personalidades é como a mistura de duas substâncias químicas diferentes: no caso de se dar uma reação, ambas se transformam”. E como disse o filósofo Nietzsche (1844-1900): “É preciso ter ainda o caos dentro de si, para poder dar à luz uma estrela dançante”. Um verdadeiro mergulho ao “caos” para o encontro da alma, da plenitude, da essência, do SER! O leitor encontrará neste volume as confidências de um ser humano que deve ser tratado com igualdade, respeito e dignidade, sendo neurotípico ou neuroatípico. No primeiro capítulo, há um breve resumo sobre o autismo. No segundo capítulo, expus a minha visão do caso como profissional da área da saúde e alguns resultados obtidos nos testes psicológicos de Marcos. Do terceiro capítulo em diante, Marcos se mostra em todos os seus detalhes, pensamentos, fantasias e emoções. Nestes capítulos, utilizou-se a primeira pessoa do singular para melhor entendimento de como o Marcos enxerga o mundo. Finalizando o livro, há uma lista de instituições que apoiam o autismo e uma lista de famosos autistas. Em todos os capítulos, é mostrada originalidade para que o leitor possa usufruir de uma jornada compreensível ao mundo do autismo de alto funcionamento. É uma honra poder fazer parte desse projeto de vida que se inicia com este livro. Livia Furlan Barbosa Carreira

  • Mulheres com autismo leve têm mais facilidade em observar e imitar não autistas do que homens

    Pesquisas indicam que autistas do sexo feminino costumam ter um desejo mais forte de nutrir relações sociais, de fazer amizades do que os do sexo masculino. Meninas e mulheres podem ter habilidades imaginativas superiores e um mundo de fantasia muito rico em comparação a homens e meninos com TEA. Elas têm maior facilidade do que eles em observar os amigos não autistas e imitar seus comportamentos – que é justamente o que mascarou o TEA em Niamh. “Copia e cola”. A ferramenta que usamos para editar textos em formato digital foi a escapatória utilizada pela jovem irlandesa Niamh McCann para se adaptar a uma sociedade que nem sempre compreendia. Niamh é autista e levou 14 anos para passar pelo primeiro teste para descobrir se tinha o transtorno. Nem assim foi diagnosticada. Sete anos mais cedo, seu irmão mais novo já havia recebido o diagnóstico. A que se deve a diferença? “Garotas com Asperger são normalmente brilhantes e sensíveis. Quando somos mais jovens, nós usamos essas qualidades para realçar algumas das nossas competências sociais superficiais. Como detetives, nós observamos, nós escutamos, e tentamos encontrar sentido nas coisas que as pessoas fazem e no porquê elas fazem. É um trabalho duro”, conta a jovem. Jovem conta como habilidade de imitar pessoas não autistas dificultou a busca por diagnóstico de TEA Em palestra de 2018, no TEDxDunLaoghaire (legendada), em Dublin, na Irlanda, ela conta que seu irmão tinha características clássicas de Transtorno do Espectro Autista. Ele tinha 3 anos e meio quando recebeu o diagnóstico. Naquela época, apresentava atrasos na fala. Pulava e abanava as mãos com frequência (estereotipias frequentes) e não fazia contato visual, um dos principais sinais precoces do transtorno. O processo de diagnóstico durou dois meses e, após o resultado, o garoto passou a ter acesso a tratamentos adequados para o seu desenvolvimento. No caso de Niamh, a ferramenta de “copia e cola” a ajudou a sobreviver sem que destoasse tanto da maior parte das crianças. “Eu não pulava. Eu não abanava as mãos. Eu era tímida, mas uma estudante dedicada. Tirava boas notas e não causava problemas. Mas o que eu fazia estava escondido debaixo do tapete. Eu cobria meus ouvidos na hora do recreio porque o barulho da conversa das pessoas era excessivo para mim. Eu era quieta. Deixava os outros criarem as regras dos jogos que a gente brincava e dividia minhas canetas brilhantes quando ninguém mais fazia isso”, contou a jovem na palestra. A imitação de pessoas típicas (que não são autistas), diz Niamh, é algo que ela sempre fez de forma espontânea, para se encaixar. “Nós fazemos isso de forma inconsciente, mas resulta na camuflagem dos nossos traços autistas e isto é chamado mascaramento”, diz. Viés de gênero no diagnóstico de autismo é discutido e pesquisado pela comunidade médica atualmente Existe hoje no meio médico a percepção de um viés de gênero no diagnóstico de autismo. Atualmente, de acordo com dados do CDC*, há 1 autista a cada 44 pessoas. O debate atual leva em consideração que os próprios métodos usados no diagnóstico são focados nos comportamentos masculinos. Detectar autismo em si já é um processo delicado. Mesmo entre pessoas de um mesmo gênero, o autismo se manifesta de maneiras diferentes, ainda que em um grau parecido. Mas identificar o autismo leve em mulheres é um grande desafio, que se reflete nas dificuldades que elas sofrem de ter acesso a serviços de saúde adequados e também dificuldades para conseguir trabalhos e manter emprego e renda. Humorista nunca conseguiu emprego formal e jornalista foi diagnosticada com TDAH antes de TEA Entre os diversos relatos de mulheres diagnosticadas tardiamente está o da humorista australiana Hannah Gadsby. Ela nunca conseguiu se adaptar a um emprego formal e chegou a viver viajando, acampando pelo país, até aparecer uma oportunidade para se apresentar como comediante em um show de stand up. Hannah se encaixou perfeitamente na função, em que já tem um roteiro pré-definido do que dizer e dificilmente o comportamento do público foge da expectativa. Em seu show mais recente, Douglas, disponível na Netflix, a humorista fala sobre sua relação com o transtorno e com as pessoas típicas de forma hilária. A brasileira Renata Simões é outro caso. Formada em jornalismo, atua como diretora, produtora, editora, roteirista e ainda como apresentadora e repórter, com trabalhos em canais de abrangência nacional, como TV Cultura e Rede Globo. Descobrir que tinha autismo pouco antes de completar 40 anos, trouxe um alívio e um entendimento maior sobre características que ao longo da vida teve dificuldades para compreender. O diagnóstico veio tardiamente mesmo tendo acompanhamento psicológico desde a infância. O que ela já sabia, e tratava há anos, eram as crises de ansiedade e o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH. Musicista estudou sozinha e insistiu por diagnóstico; britânica só se descobriu autista após cegueira A musicista sueca Elizabeth Wiklander pesquisou por conta própria e teve que colocar em cima da mesa de um médico todo o material de seu estudo para argumentar que, sim, tinha autismo e precisava do diagnóstico. “Já li tudo isso. Eu tenho essa condição. Por favor, me escute”, disse. Em uma palestra no TEDxGöteborg (legendada), ela fala sobre a Neurodiversidade. A britânica Carrie Beckwith-Fellows contou em palestra no TEDxTalks (legendada), em Vilnius, capital da Lituânia, que só conseguiu descobrir que era autista sete anos depois de um episódio traumático – ela ficou cega por dois anos após uma aplicação de lítio quando estava internada em um serviço de atenção à saúde mental na Inglaterra. A medicação que causou a cegueira foi aplicada por ter sido considerada a única alternativa depois de tentarem, sem sucesso, tratá-la com eletrochoque. Por muitos anos seu autismo foi confundido com outras questões de saúde mental como Transtorno Bipolar, Transtorno de Personalidade Limítrofe (Borderline), Depressão e Transtorno de Ansiedade Mista. Adotar o processo de imitação é mentalmente exaustivo e emocionalmente destrutivo, diz Niamh Niamh diz que este processo de imitação é exaustivo. “Nós trabalhamos dia e noite. As pistas normalmente nos indicam caminhos equivocados, mas nós não temos outra escolha, porque são os nossos meios de adaptação em um mundo que é socialmente muito confuso para nós.” Na época em que deu a palestra, a jovem tinha 16 anos e já tinha recebido, enfim, o diagnóstico. Ela conta que quando era mais nova, costumava imitar seus personagens favoritos de desenho animado. “A maneira de andar, as palavras que eles usavam e como conversavam uns com os outros. Eu absorvi essa informação e apliquei às minhas interações sociais quase como copiar e colar. Mas aprendi rapidamente que a vida não é um desenho animado, as pessoas não são personagens que se comportam de forma previsível e a imitação não pode levar uma garota Asperger tão longe”. Ela relata que, ao chegar à adolescência, vivia uma rotina mentalmente exaustiva e emocionalmente destrutiva. As relações sociais neste período da vida se tornam muito mais sofisticadas. “E para uma garota com Asperger toda conversa se torna um problema de matemática”, afirma. “Eu consegui mascarar minha síndrome de Asperger por 14 anos e depois eu cheguei ao limite.” Métodos de diagnóstico atuais ainda não levam em conta a capacidade feminina de mascarar o transtorno Na busca por ajuda, ela foi avaliada por dois psicólogos. Porém, suas habilidades sociais eram desenvolvidas o suficiente para que descartassem o diagnóstico de TEA. Ela foi avaliada de acordo com o protocolo ADOS - Autism Diagnostic Observation Schedule, considerado padrão ouro na literatura internacional para auxiliar no diagnóstico do autismo. Foi o mesmo teste aplicado em seu irmão sete anos antes. “Eles me passaram algumas tarefas simples e me perguntaram sobre minha vida, minha família, meus interesses. Respondi da única maneira que eu sabia: copiando e colando a resposta correta. Então sorri, apertei as mãos, ofereci contato visual, como eu sabia que deveria fazer”, diz Niamh. “Então, eles disseram que eu não estava no espectro autista. Na verdade, marquei zero no teste, mas não fui eu quem falhei no teste, foi o teste que falhou comigo.” Niamh questiona quantas mulheres mais velhas estão sendo diagnosticadas nos seus 30, 40, 50 anos ou mesmo até mais velhas. Assim como Hannah, Renata, Elisabeth e Carrie. “E isso simplesmente não é bom o bastante. Essas mulheres passam décadas de suas vidas sem entender uma parte crucial delas mesmas”. Niamh faz apelo para que características femininas sejam levadas em conta na identificação do TEA Ela cita uma pesquisa recente em que 23% das garotas com anorexia se descobriram com autismo e que 40% delas lidam também com transtornos de ansiedade. “Incontáveis outras estão sendo tratadas com depressão”, alerta Niamh. “Eu me pergunto quantas dessas garotas poderiam ter sido poupadas dessas dificuldades em saúde mental se a velada Síndrome de Asperger tivesse sido identificada mais cedo. No fim das contas, eu consegui um diagnóstico correto, não por meio do ADOS, mas apesar do ADOS. Eu sou uma das sortudas”, afirma. O discurso da jovem termina com um apelo. “Não quero que haja uma brecha no diagnóstico de outras garotas como aconteceu comigo. Nós precisamos ser melhores em identificar dificuldades em meninas, mesmo quando essas dificuldades são sutis. Nós precisamos de uma ferramenta mais ampla e precisa para diagnosticar o autismo em todas as suas formas. Porque autismo não é preto e branco, é um espectro de cores e nós precisamos abrir nossos olhos para enxergá-lo por completo.” *CDC - Centro de Controle e Prevenção de Doenças, é uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, sediada na Geórgia. Com o objetivo de proteger o país das ameaças à saúde e à segurança, tanto no exterior quanto em território americano, conduz pesquisas e fornece informações de saúde em diversas áreas. O CDC vem rastreando o número e as características de crianças com o espectro autista há mais de duas décadas em diversas comunidades americanas. As pesquisas se baseiam em dados coletados quatro anos antes da publicação. O Brasil utiliza os estudos do CDC por não ter pesquisas concretas sobre a prevalência do autismo no país. FONTE: https://autismoerealidade.org.br/2020/11/26/niamh-mccann-e-o-mecanismo-de-copia-e-cola/ https://www.cdc.gov/ncbddd/autism/data.html

  • Livro: Mulheres que Correm com os Lobos, resgatando a mulher selvagem, a essência da alma feminina

    A volta ao lar: O retorno ao próprio Self Existe o tempo dos homens e o tempo selvagem. Quando eu era criança nas florestas do norte, antes de aprender as quatro estações do ano, eu imaginava que havia dezenas de estações: o tempo das tempestades noturnas, o tempo de relâmpagos silenciosos no horizonte, o tempo de fogueiras nos bosques, o tempo de sangue na neve; o tempo das árvores de gelo, o das árvores encurvadas, o das árvores chorando, o das árvores cintilantes, o das árvores empanadas, o das árvores ondulando apenas as folhas mais altas e o das árvores deixando cair seus frutos. Eu adorava as estações da neve de diamantes, da neve fumegante, da neve que chia e até mesmo da neve suja e da neve endurecida, pois estas últimas indicavam que estava chegando o tempo dos botões em flor no rio. Essas estações eram como visitantes sagrados e importantes, e cada uma mandava seus arautos: cones de pinheiros abertos, cones fechados, cheiro de folhas apodrecendo, cheiro da chuva que vem, cabelos quebradiços, cabelos escorridos, cabelos volumosos, portas frouxas, portas justas, portas que não fecham de jeito nenhum, vidraças cobertas de fios de neve, vidraças cobertas de pétalas úmidas, cobertas de pólen amarelo, salpicadas de resina. E a nossa própria pele também tem seus ciclos: ressecada, suarenta, empoeirada, queimada de sol, macia. A psique e a alma das mulheres também têm seus próprios ciclos e estações de atividade e de solidão, de correr e de ficar, de se envolver e de se manter distante, de procura e de descanso, de criar e de incubar, de participar do mundo e de voltar ao canto da alma. Enquanto somos crianças e meninas, a natureza instintiva percebe todas essas fases e ciclos. Ela paira bem perto de nós, e nós estamos conscientes e ativas em períodos diversos, segundo a nossa decisão. As crianças são a natureza selvagem e, sem que recebam ordens para isso, elas se preparam para a chegada dessas estações, saudando-as, vivendo com elas e guardando desses tempos recuerdos, lembranças: a folha cor-de-carmim dentro do dicionário; as penas de pássaros; as bolas de neve no congelador; aquela vagem, varinha, osso ou pedra especial; a concha diferente; a fita do enterro do passarinho; um diário de perfumes da época; o coração tranquilo; o sangue que se excita; e todas as imagens nas suas mentes. Houve um tempo em que vivíamos em harmonia com esses ciclos e estações ano após ano, e eles viviam em nós. Eles nos acalmavam, faziam com que dançássemos, nos sacudiam, nos tranquilizavam, faziam com que aprendêssemos instintivamente. Eles faziam parte da pele da nossa alma — um pelo que envolve a nós e ao mundo natural e selvagem — pelo menos até o momento em que nos diziam que na verdade havia apenas quatro estações no ano, e que as próprias mulheres tinham apenas três estações — a infância, a idade adulta e a velhice. E supostamente isso era tudo. No entanto, não podemos nos permitir perambular como sonâmbulas envoltas por essa invenção frágil e desatenta, pois ela faz com que as mulheres se desviem dos seus ciclos naturais e profundos e, portanto, sofram de aridez, exaustão e nostalgia. É muito melhor que voltemos aos nossos próprios ciclos exclusivos e profundos, a todos eles, a qualquer um deles. O conto que se segue trata dos ciclos mais importantes da mulher, a volta ao lar, ao lar selvagem, ao lar da alma. Esta história é contada em todo o mundo, pois é um arquétipo, um conhecimento universal sobre uma questão da alma. Às vezes os contos de fadas e os contos folclóricos brotam de um sentido de lugar, especialmente de lugares significativos da alma. Essa história é contada nos países frios do norte, em qualquer região onde haja um mar ou um oceano glacial. Versões desta história são contadas entre os celtas, os escoceses, as tribos do noroeste da América do Norte, os povos da Sibéria e da Islândia. A história geralmente se intitula "A Mulher-foca" ou "Selkie-o, Pamrauk, a pequena foca"; "Eyalirtaq, a carne de foca". Chamo a minha versão analítica e para representação de "Pele de foca, pele da alma". A história nos fala de onde realmente viemos, do que somos feitas e de como todas nós precisamos, com regularidade, usar nossos instintos e descobrir o caminho de volta ao lar. Pele de foca, pele da alma Houve um tempo, que passou para sempre e que irá logo estar de volta, em que um dia corre atrás do outro de céus brancos, neve branca... e todos os minúsculos pontinhos escuros ao longe são pessoas, cães ou ursos. Nesse lugar, nada viceja gratuitamente. Os ventos são fortes, e as pessoas se acostumaram a trazer consigo seus parkas, mamleks e botas, já de propósito. Nesse lugar, as palavras se congelam ao ar livre, e frases inteiras precisam ser arrancadas dos lábios de quem fala e descongeladas junto ao fogo para que as pessoas possam ver o que foi dito. Nesse lugar, as pessoas vivem na basta cabeleira da velha Annuluk, a avó, a velha feiticeira que é a própria Terra. E foi nessa terra que vivia um homem... um homem tão solitário que, com o passar dos anos, as lágrimas haviam aberto fundos abismos no seu rosto. Ele tentava sorrir e ser feliz. Ele caçava. Colocava armadilhas e dormia bem. No entanto, sentia falta de companhia. Às vezes, lá nos bancos de areia, no seu caiaque, quando uma foca se aproximava, ele se lembrava de antigas histórias sobre como as focas haviam um dia sido seres humanos e como o único remanescente daqueles tempos estava nos seus olhos, que eram capazes de retratar expressões, aquelas expressões sábias, selvagens e amorosas. Às vezes ele sentia nessas ocasiões uma solidão tão profunda que as lágrimas escorriam pelas fendas já tão gastas no seu rosto. Uma noite ele caçou até depois de escurecer, mas sem conseguir nada. Quando a lua subiu no céu e as banquisas de gelo começaram a reluzir, ele chegou a uma enorme rocha malhada no mar e seu olhar aguçado pareceu distinguir movimentos extremamente graciosos sobre a velha rocha. Ele remou lentamente e com os remos bem fundos para se aproximar, e lá no alto da rocha imponente dançava um pequeno grupo de mulheres, nuas como no primeiro dia em que se deitaram sobre o ventre da mãe. Ora, ele era um homem solitário, sem nenhum amigo humano a não ser na lembrança — e ele ficou ali olhando. As mulheres pareciam seres feitos de leite da lua, e sua pele cintilava com gotículas prateadas como as do salmão na primavera. Seus pés e mãos eram longos e graciosos. Elas eram tão lindas que o homem ficou sentado, atordoado, no barco, e a água nele batia, levando-o cada vez mais para junto da rocha. Ele ouvia o riso magnífico das mulheres... pelo menos elas pareciam rir, ou seria a água que ria às margens da rocha? O homem estava confuso, por se sentir tão deslumbrado. Entretanto, dispersou-se a solidão que lhe pesava no peito como couro molhado e, quase sem pensar, como se fosse seu destino, ele saltou para a rocha e roubou uma das peles de foca ali jogadas. Ele se escondeu por trás de uma saliência rochosa e ocultou a pele de foca dentro do seu qutnquq, parka. Logo, uma das mulheres gritou numa voz que era a mais linda que ele já ouvira... como as baleias chamando na madrugada... ou não, talvez fosse mais parecida com os lobinhos recém-nascidos caindo aos tombos na primavera... ou então, não, era algo melhor do que isso, mas não fazia diferença porque... o que as mulheres estavam fazendo agora? Ora, elas estavam vestindo suas peles de foca, e uma a uma as mulheres-focas deslizavam para o mar, gritando e ganindo de felicidade. Com exceção de uma. A mais alta delas procurava por toda a parte a sua pele de foca, mas não a encontrava em lugar nenhum. O homem sentiu-se estimulado — pelo quê, ele não sabia. Ele saiu de trás da rocha, dirigindo um apelo a ela. — Mulher... case-se... comigo. Sou um... homem... sozinho. — Ah — respondeu ela. — Eu não posso me casar, porque sou de outra natureza, pertenço aos que vivem temeqvanek, lá embaixo. — Case-se... comigo — insistiu o homem. — Em sete verões, prometo lhe devolver sua pele de foca, e você poderá ficar ou ir embora, como preferir. A jovem mulher-foca ficou olhando muito tempo o rosto do homem com olhos que, se não fossem suas origens verdadeiras, pareciam humanos. — Irei com você — disse ela, relutante. — Dentro de sete verões, tomaremos a decisão. E assim, com o tempo, tiveram um filho a quem deram o nome de Ooruk. A criança era ágil e gorda. No inverno, a mãe contava a Ooruk histórias de seres que viviam no fundo do mar enquanto o pai esculpia um urso em pedra branca com uma longa faca. Quando a mãe levava o pequeno Ooruk para a cama, ela lhe mostrava pelo buraco da ventilação as nuvens e todas as suas formas. Só que, em vez de falar das formas do corvo, do urso e do lobo, ela contava histórias da vaca-marinha, da baleia, da foca e do salmão... pois eram essas as criaturas que ela conhecia. No entanto, à medida que o tempo foi passando, sua pele começou a ressecar. A princípio, ela escamou e depois passou a rachar. A pele das suas pálpebras começou a descascar. O cabelo da sua cabeça, a cair no chão. Ela se tornou naluaq, do branco mais pálido. Suas formas arredondadas começaram a definhar. Ela procurava esconder seu caminhar claudicante. A cada dia seus olhos, sem que ela quisesse, iam ficando mais opacos. Ela passou a estender a mão para tatear porque sua vista estava escurecida. E as coisas iam dessa forma até uma noite em que o menino Ooruk despertou, ouvindo gritos e se sentou ereto nas cobertas de pele. Ele ouviu um rugido de urso, que era seu pai, repreendendo a mãe. Ouviu, também, um grito como o da prata que ressoa com uma pedra, que era sua mãe. — Você escondeu minha pele de foca há sete longos anos, e agora está chegando o oitavo inverno. Quero que me seja devolvido aquilo de que sou feita — gritou a mulher-foca. — E você, mulher — vociferou o marido. — Você me deixará se eu lhe der a pele. — Não sei o que eu faria. Só sei que preciso daquilo a que pertenço. — E você me deixaria sem mulher, e a seu filho, sem mãe. Você é má. Com essas palavras, o marido afastou com violência a pele da porta e desapareceu noite adentro. O menino adorava a mãe. Ele tinha medo de perdê-la e, por isso, chorou até dormir... só para ser acordado pelo vento. Um vento estranho... que parecia chama-lo. — Oooruk, Ooorukkkk. Ele pulou da cama, tão apressado que vestiu o parka de cabeça para baixo e só puxou os mukluks até a metade. Ao ouvir seu nome chamado insistentemente, ele saiu correndo na noite estrelada. — Ooooooorukkk. O menino correu até o penhasco de onde se via a água e lá, bem longe no mar encapelado, estava uma foca prateada, imensa e peluda... Sua cabeça era enorme. Seus bigodes lhe caíam até o peito. Seus olhos eram de um amarelo forte. — Ooooooorukkk. O menino foi descendo o penhasco de qualquer jeito e bem junto à base tropeçou numa pedra, não, numa trouxa, que rolou de uma fenda na rocha. O cabelo do menino fustigava seu rosto como milhares de açoites de gelo. — Ooooooorukkk. O menino abriu a trouxa e a sacudiu: era a pele de foca da sua mãe. Ah, ele sentia seu perfume na pele inteira. E, enquanto mergulhava o rosto na pele de foca e respirava seu cheiro, a alma da mãe penetrava nele como um súbito vento de verão. — Ah — exclamou ele com alegria e dor, e levou novamente a pele ao rosto. Mais uma vez, a alma da mãe passou pela dele. — Ah!!! — gritou ele de novo, porque estava sendo impregnado pelo amor infindo da mãe. E a velha foca prateada ao longe mergulhou lentamente para debaixo d'água. O menino escalou o penhasco, voltou correndo para casa com a pele de foca voando atrás dele e se jogou para dentro de casa. Sua mãe contemplou o menino e a pele e fechou os olhos, cheia de gratidão pelo fato de os dois estarem em segurança. Ela começou a vestir sua pele de foca. — Ah, mãe, não! — gritou o menino. Ela apanhou o menino, ajeitou-o debaixo do braço e saiu correndo aos trambolhões na direção do mar revolto. — Ai, mamãe, não me abandone! — implorava Ooruk. E logo dava para se ver que ela queria ficar com o filho, queria mesmo, mas alguma coisa a chamava, algo que era mais velho do que ele, mais velho do que ela, mais antigo que o próprio tempo. — Ah, mamãe, não, não, não — choramingou a criança. Ela se voltou para ele com uma expressão de profundo amor nos olhos. Segurou o rosto do menino nas mãos e soprou para dentro dos pulmões do menino seu doce alento, uma vez, duas, três vezes. Depois, com o menino debaixo do braço como uma carga preciosa, ela mergulhou bem fundo no mar e cada vez mais fundo. A mulher-foca e seu filho não tinham dificuldade para respirar debaixo d'água. Eles nadaram muito para o fundo até que entraram no abrigo subaquático das focas, onde todos os tipos de criaturas estavam jantando e cantando, dançando e conversando, e a enorme foca prateada que havia chamado Ooruk de dentro do mar da noite abraçou o menino e o chamou de neto. — Como você está se saindo lá em cima, minha filha? — perguntou a grande foca prateada. A mulher-foca afastou o olhar e respondeu. — Magoei um ser humano... um homem que deu tudo para que eu ficasse com ele. Mas não posso voltar para ele, porque, se o fizer, estarei me transformando em prisioneira. — E o menino? — perguntou a velha foca. — Meu neto? — Ele estava tão orgulhoso que sua voz tremia. — Ele tem de voltar, meu pai. Ele não pode ficar aqui. Ainda não chegou o seu tempo de ficar conosco. — Ela chorou. E juntos eles choraram. E assim passaram-se alguns dias e noites, exatamente sete, período durante o qual voltou o brilho aos cabelos e aos olhos da mulher-foca. Ela adquiriu uma bela cor escura, sua visão se recuperou, seu corpo voltou às formas arredondadas, e ela nadava com agilidade. Chegou, porém, a hora de devolver o menino à terra. Nessa noite, o avô-foca e a bela mãe do menino nadaram com a criança entre eles. Vieram subindo, subindo de volta ao mundo da superfície. Ali eles depositaram Ooruk delicadamente no litoral pedregoso ao luar. — Estou sempre com você — afiançou-lhe sua mãe. — Basta que você toque algum objeto que eu toquei, minhas varinhas de fogo, minha ulu, faca, minhas esculturas de pedra de focas e lontras, e eu soprarei nos seus pulmões um fôlego especial para que você cante suas canções. A velha foca prateada e sua filha beijaram o menino muitas vezes. Afinal, elas se afastaram, saíram nadando mar adentro e, com um último olhar para o menino, desapareceram debaixo d'água. E Ooruk, como ainda não era a sua hora, ficou. Com o passar do tempo, ele cresceu e se tornou um famoso tocador de tambor, cantor e inventor de histórias. Dizia-se que tudo isso decorria do fato de ele, quando menino, ter sobrevivido a ser carregado para o mar pelos enormes espíritos das focas. Agora, nas névoas cinzentas das manhãs, ele às vezes ainda pode ser visto, com seu caiaque atracado, ajoelhado numa certa rocha no mar, parecendo falar com uma certa foca fêmea que frequentemente se aproxima da orla. Embora muitos tenham tentado caçá-la, sempre fracassaram. Ela é conhecida como Tanqigcaq, a brilhante, a sagrada, e dizem que, apesar de ser foca, seus olhos são capazes de retratar expressões, aquelas expressões sábias, selvagens e amorosas. FONTE: LIVRO: Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. Clarissa Pinkola Estés. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.

  • Minha vida fez sentido ao descobrir o diagnóstico de autismo aos 26 anos de idade

    Conta Marina Amaral, a bem-sucedida colorista de fotos históricas, sobre como é ter o Transtorno do Espectro Autista de Alto Funcionamento. Descobri a colorização de fotos em 2015, sempre me fascinou a ideia de trazer para uma realidade mais próxima os momentos e as pessoas que moldaram o mundo. Meu amor pela história me acompanha desde criança. Na escola, era como se eu fosse transportada a outro lugar, tamanho o meu envolvimento. Entendi desde o início que juntar minhas maiores paixões — arte e história — e transformá-las naquilo que viria a ser a minha profissão era um privilégio. Sempre atribuí a essa consciência a “obsessão” que se desenvolveu em mim. A ansiedade para compreender as técnicas, as incontáveis horas que passava estudando, o perfeccionismo que sempre persegui, a inquietação para produzir trabalhos cada vez melhores, o jeito como o processo me envolvia tão intensamente que eu me esquecia até de fazer tarefas básicas, como dormir. Todo o esforço valeu a pena e aos poucos veio o reconhecimento; primeiro internacional, depois no Brasil. Num primeiro momento, senti uma euforia muito grande. Eu, que era uma menina quieta, que observava muito e falava pouco, tive as minhas emoções mais profundas escancaradas para o mundo através da minha arte, aos 21 anos. Entrevistas para veículos do mundo todo, projetos internacionais, viagens constantes, um primeiro livro em listas de best-sellers - The Colour of Time: A New History of the World - e um público cada vez mais interessado no meu trabalho. Sempre serei muito grata por tudo, mas não há escola que prepare a pessoa para uma mudança tão súbita e radical. Aos poucos, as crises de ansiedade voltaram. A depressão também. Tamanha era a cobrança que eu impunha sobre mim que ela começou a me paralisar. Passei por diversos profissionais desde a infância — psicólogos e psiquiatras —, todos com diagnósticos diversos: ansiedade generalizada, síndrome do pânico, depressão. Minhas inseguranças descabidas e pensamentos obsessivos eram “coisa da infância, daqui a pouco passa”. Meu interesse por assuntos não compatíveis com a minha idade era só “amadurecimento precoce”. Comecei a falar aos 8 meses, ler antes dos 4 anos, escrevi um livro aos 5. Cresci me sentindo diferente. Sabia que alguma coisa estava “errada”. Precisei tomar diversos remédios que pioravam minhas questões emocionais, crescer deslocada e esperar mais de vinte anos para que o diagnóstico correto chegasse: autismo. Foi como se uma venda tivesse sido arrancada dos meus olhos e tudo fez sentido instantaneamente. Era tão óbvio, e ainda assim ninguém foi capaz de juntar os pontos e perceber. Talvez por despreparo, talvez porque a imagem que as pessoas têm de autistas é muito equivocada, generalista e preconceituosa. “É impossível você estar no espectro. Autistas não fazem amigos, não trabalham, não estudam, não se casam”, dizem. Desde então, venho passando por uma transformação intensa e positiva. Ressignifiquei muitas coisas, venho entendendo outras, me conhecendo melhor. Sou capaz de me perdoar por situações do passado e traços da minha personalidade que antes eu não entendia. Compreendi que nada estava “errado” comigo. Tem sido um processo transformador. Devo a descoberta à doutora Raquel Del Monde e à amiga Andréa Werner, jornalista, ativista e mãe do Theo, que, para compreender o filho, se jogou nos estudos e virou uma das vozes mais fortes na luta pelo direito dos autistas e pessoas com deficiência. Foi ela quem percebeu os sinais e me incentivou a investigar. Tenho certeza de que, se não a conhecesse, morreria sem o diagnóstico. Infelizmente, esse é o caso de milhões de mulheres. Esse foi um dos motivos para que eu decidisse dividir a minha experiência com o meu público e escrever este texto. É preciso desfazer preconceitos e generalizações e entender que cada autista é único. Uns têm mais dificuldades, outros menos. Uns têm “talentos específicos”, outros não. Cada um tem a sua história. Respeitar a individualidade é essencial; um passo importante na direção de uma sociedade menos ignorante e mais inclusiva. FONTE: https://veja.abril.com.br/cultura/minha-vida-fez-sentido-diz-colorista-de-fotos-historicas/

  • Síndrome de McCune-Albright ou Displasia Fibrosa

    (Tradução livre) A Displasia Fibrosa ou Síndrome McCune-Albright é um distúrbio raro que afeta a pele, o sistema endócrino e os ossos. Ela surge a partir de uma mutação no gene GNAS. Na Displasia Fibrosa ou Síndrome McCune-Albright, a mutação GNAS está ativa, o que significa que o receptor permanece na posição "ligado". Isto causa um excesso de sinalização do receptor, levando às características clínicas da Displasia Fibrosa ou Síndrome McCune-Albright. As características clínicas envolvem doenças nas seguintes áreas: 1) a pele, levando a manchas pigmentadas café-com-leite; 2) as glândulas endócrinas, levando à superprodução de hormônios, e 3) o esqueleto, resultando em áreas de osso anormal chamadas displasia fibrosa. Os pacientes podem ter uma ou muitas características da doença, que podem ocorrer em qualquer combinação. Não há cura para a Displasia Fibrosa ou Síndrome de McCune-Albright. Entretanto, muitos aspectos da doença podem ser tratados com medicamentos ou cirurgia. Pele Os pacientes com Síndrome McCune-Albright podem ter áreas com aumento do pigmento da pele chamadas manchas café-com-leite. O termo "café-com-leite” se refere à cor das lesões em indivíduos de pele clara, que se assemelha à cor do café com leite. Em indivíduos de pele escura, as lesões podem ser mais difíceis de serem vistas. O padrão de distribuição do pigmento é único, muitas vezes começando ou terminando abruptamente na linha média do corpo. As bordas tendem a ser rugosas e irregulares, e são muitas vezes descritas como tendo uma aparência de mapa litorâneo. As manchas estão normalmente presentes no nascimento e não mudam significativamente durante a vida útil do paciente. Alterações Endócrinas Puberdade Precoce A puberdade precoce é o desenvolvimento da puberdade antes dos 8 anos de idade em uma menina, e antes dos 9 anos de idade em um menino. Na Síndrome McCune-Albright, há puberdade precoce periférica, ou seja, há ativação precoce dos ovários ou dos testículos. A puberdade precoce é a anormalidade endócrina mais comum em meninas. Os cistos ovarianos se desenvolvem intermitentemente, resultando no desenvolvimento mamário, sangramento vaginal e um aumento da taxa de crescimento. Como os cistos ovarianos na Síndrome McCune-Albright geralmente desaparecem por si mesmos, NÃO é indicada a cirurgia para removê-los, exceto em circunstâncias muito raras. Embora os cistos ovarianos possam continuar até a idade adulta, as mulheres são frequentemente capazes de engravidar e ter filhos saudáveis. A puberdade precoce é menos comum em meninos. Os sintomas nos meninos incluem um aumento da taxa de crescimento, dos pelos pubianos e um aumento do crescimento do pênis. Existem medicamentos disponíveis e geralmente úteis para o tratamento da puberdade precoce. Um medicamento comumente utilizado é o Letrozol, que bloqueia a formação de estrogênio. Os meninos podem ser tratados com uma combinação de Letrozol e Espironolactona, que bloqueia a ação da testosterona. Meninos e meninas com a síndrome também estão em risco para outro tipo de puberdade precoce, a chamada puberdade precoce central. Isto ocorre quando a área do cérebro responsável pelo início da puberdade, chamada glândula pituitária, é previamente ativada. A síndrome pode se apresentar com sinais de puberdade "avançada" em uma criança que anteriormente estava bem controlada com medicamentos. A puberdade precoce central é tratada com um medicamento injetável chamado Leuprolida, que suprime a glândula pituitária. Tireoide A tireoide é uma glândula localizada no pescoço, que controla muitos aspectos da energia e do crescimento. Na síndrome, a glândula da tireoide pode produzir excesso de hormônio tireoidiano, resultando em hipertireoidismo. Os sintomas do hipertireoidismo podem incluir perda de peso, ritmo cardíaco acelerado, aumento da taxa de crescimento e hiperatividade, entre outros. O hipertireoidismo na Síndrome de McCune-Albright é tratado com medicamentos e cirurgia. O Metimazol é um medicamento que bloqueia a produção do hormônio tireoidiano e pode ser usado por alguns anos. A maioria dos pacientes com a síndrome e o hipertireoidismo acabará tendo uma cirurgia chamada tireoidectomia, onde a glândula tireoide é removida. Após a tireoidectomia, os pacientes precisarão de reposição do hormônio tireoidiano, o que é muito seguro e eficaz. Os pacientes com a síndrome podem apresentar outras anormalidades da tireoide, incluindo o aumento da glândula (chamado de bócio), cistos e nódulos. Os pacientes suspeitos de ter a síndrome devem fazer um ultrassom da tireoide para procurar essas anormalidades. Os pacientes podem ter anormalidades no ultrassom da tireoide, mas não hipertireoidismo. Algumas dessas crianças podem desenvolver hipertireoidismo em um momento posterior. Por este motivo, crianças com a síndrome e com o resultado alterado da ultrassonografia da tireoide devem ter os níveis de hormônio tireoidiano verificados regularmente. Os pacientes com a síndrome que têm doença da tireoide podem ter um risco muito pequeno de desenvolver tumor de tireoide. Sendo assim, o tratamento com iodo radioativo NÃO é recomendado para o tratamento do hipertireoidismo na síndrome. Os pacientes com doença da tireoide também devem ter um médico para examinar fisicamente sua glândula pelo menos uma vez por ano. Hormônio do crescimento Alguns pacientes produzirão altos níveis de hormônio do crescimento a partir da glândula pituitária, tendo um excesso de hormônio. O principal sintoma do excesso de hormônio do crescimento é uma taxa acelerada de crescimento. O excesso de hormônio do crescimento pode causar displasia fibrosa, e se não tratado tem sido associado a um maior risco de perda de visão em pacientes com doença no crânio. Por esta razão, é importante examinar todos os pacientes quanto ao excesso de hormônio do crescimento e monitorar cuidadosamente o crescimento das crianças com a Síndrome. O excesso de hormônios do crescimento pode ser tratado com medicamentos. Octreotide é um medicamento que impede a liberação do hormônio de crescimento da hipófise. Pegvisomanto é um medicamento que bloqueia a ação do hormônio do crescimento em seu receptor. Os tratamentos como cirurgia pituitária ou radiação têm muitos efeitos colaterais, e só devem ser usados em circunstâncias muito raras. Síndrome de Cushing Síndrome de Cushing refere-se ao excesso de produção de cortisol, uma complicação rara e potencialmente grave da Síndrome McCune-Albright. A síndrome de Cushing se apresenta muito cedo na vida, durante a infância ou nos primeiros anos de vida infantil. Os sintomas da síndrome de Cushing podem variar de acordo com a idade da criança. Em bebês, ela pode se apresentar com baixo peso ao nascer e baixo ganho de peso. Em crianças mais velhas, a síndrome de Cushing geralmente leva a um crescimento fraco e a um ganho de peso anormal, especialmente no rosto e no tronco. Alguns pacientes podem ficar gravemente doentes e, em casos raros, crianças com síndrome de McCune-Albright e síndrome de Cushing já morreram. O tratamento da síndrome de Cushing na Síndrome McCune-Albright é complexo e depende de vários fatores, incluindo a idade da criança e a gravidade da doença. Os pacientes frequentemente são operados para remover as glândulas suprarrenais. Há também drogas que podem ser usadas para bloquear a produção do cortisol. Em alguns casos, a síndrome de Cushing simplesmente desaparece. Perda de fosfato Algumas crianças com a Síndrome McCune-Albright têm baixos níveis de fósforo no sangue, chamado de hipofosfatemia. Isto ocorre quando áreas de displasia fibrosa produzem quantidades excessivas de fator de crescimento fibroblástico 23 ou FGF23 (do inglês fibroblast growth factor 23), um hormônio que faz com que os rins percam fósforo na urina. A hipofosfatemia pode levar a dores ósseas, fraqueza muscular e aumento das fraturas. A hipofosfatemia é tratada com uma combinação de suplementos de fosfato oral e vitamina D. Displasia Fibrosa Displasia Fibrosa é uma condição em que áreas do esqueleto se formam anormalmente, produzindo osso fraco e deformável. A Displasia Fibrosa é extremamente variável entre os indivíduos. Quando um osso é afetado é denominado displasia fibrosa monostótica, e quando múltiplas áreas são afetadas é denominado displasia fibrosa poliostótica. A Displasia Fibrosa pode ser vista frequentemente em radiografias simples. Um método mais sensível de encontrar lesões é um escaneamento ósseo, onde uma pequena quantidade de um marcador radioativo é injetado em uma veia, absorvida pela Displasia Fibrosa, e detectada por um scanner. No crânio, a Displasia Fibrosa é melhor vista com um exame de tomografia computadorizada (TC). A Displasia Fibrosa geralmente se desenvolve durante a primeira infância. A maioria das lesões será visível em uma tomografia óssea aos 5 anos de idade, e a maioria das deficiências funcionais estará presente aos 10 anos de idade. A doença óssea geralmente progride durante a infância e no início da vida adulta, e se torna menos ativa na vida adulta posterior. O osso afetado por Displasia Fibrosa é mais fraco que o osso normal, e pode se expandir anormalmente. Como resultado, a maioria das complicações resulta de fratura, deformidade, deficiência funcional e dor. O tipo e a gravidade das complicações dependem da localização da Displasia Fibrosa no esqueleto. No fêmur, o osso da Displasia Fibrosa frequentemente se curva, formando uma deformidade, que pode interferir na mobilidade. Uma complicação potencialmente grave da Displasia Fibrosa na coluna vertebral é a escoliose, ou curvatura da coluna vertebral. A maioria da escoliose é leve, raramente os pacientes desenvolveram curvatura severa, levando à compressão dos pulmões e até mesmo à morte. Felizmente a cirurgia para corrigir a escoliose é muito eficaz, e os pacientes com Displasia Fibrosa na coluna vertebral devem ser monitorados regularmente por um cirurgião ortopedista. Na área craniofacial (ossos do crânio e da face), a maioria das complicações está relacionada à expansão da Displasia Fibrosa. Isto pode levar à assimetria facial, e raramente à perda da visão e da audição. Os pacientes com Displasia Craniofacial Fibrosa devem fazer uma tomografia computadorizada da cabeça para determinar a extensão da doença. É muito importante que todos os pacientes com Displasia Fibrosa Craniofacial tenham sua visão e audição testadas pelo menos uma vez por ano. A perda da visão pode ocorrer devido à lesão do nervo óptico. A Displasia Fibrosa é frequentemente localizada ao redor dos nervos ópticos, e na maioria das vezes isso não causa perda de visão. Se os pacientes desenvolvem alterações de visão, eles geralmente requerem uma cirurgia chamada descompressão do nervo óptico. Esta cirurgia deve ser realizada APENAS em pacientes que têm perda de visão devido à Displasia Fibrosa. Ela não é indicada para pacientes com visão normal, pois há um alto risco de dano ao nervo óptico devido à cirurgia. Tratamento da Displasia Fibrosa Atualmente não há tratamento para alterar o curso da Displasia Fibrosa. A cirurgia pode ser necessária para corrigir deformidades e reparar fraturas. É importante consultar um cirurgião que tenha conhecimento sobre os tipos de operações que são mais eficazes em Displasia Fibrosa. Displasia Fibrosa e Dor A dor na Displasia Fibrosa é comum e pode ocorrer em qualquer área. A dor pode ser devido à fratura ou hipofosfatemia, ou pode estar relacionada com a própria Displasia Fibrosa. Quando a dor se desenvolve repentinamente e ocorre em um local específico, a área deve ser avaliada como uma possível fratura. Os pacientes devem ser avaliados quanto à hipofosfatemia, pois a correção dos baixos níveis de fósforo pode aliviar a dor. Para dor que é intrínseca à Displasia Fibrosa, há várias opções de tratamento. Medicamentos de venda livre como Acetaminofeno, Ibuprofreno e Naprosyn são frequentemente eficazes para dor leve a moderada. Se a dor não for controlada com esses medicamentos, há os bisfosfonatos que podem ser eficazes. Os bisfosfonatos mais utilizados para tratar a dor da Displasia Fibrosa são o Pamidronato e o Ácido Zoledrônico, ambos administrados por via intravenosa. É importante usar a dose mais baixa necessária para controlar a dor. Os medicamentos narcóticos devem ser usados como último recurso para a dor que não é controlada com os medicamentos de venda livre ou com os bifosfonatos. Futuro Há pesquisas em andamento para melhorar nossa compreensão sobre a Displasia Fibrosa/Síndrome McCune-Albright e desenvolver tratamentos mais eficazes para os pacientes. Algumas áreas de interesse incluem o estudo de pacientes para entender melhor o curso sobre a Displasia Fibrosa/Síndrome de McCune-Albright, o desenvolvimento de medicamentos para a sinalização do receptor anormal de hormônio do crescimento e a exploração de terapias que possam diminuir as lesões da Displasia Fibrosa. A parceria entre pacientes, advogados, médicos e cientistas é importante para ajudar a desenvolver melhores tratamentos para pacientes com Displasia Fibrosa/Síndrome de McCune-Albright. Referências Dumitrescu, C. E. and M. T. Collins (2008). "McCune-Albright Syndrome." Orphanet J Rare Dis. 3:12. Collins MT, Singer FR, Eugster E (2012). "McCune-Albright Syndrome and the extraskeletal manifestations of fibrous dysplasia." Orphanet J Rare Dis. 24(7): Suppl 1:S4. Boyce A. M., M. Glover, et al. (2012) “Optic neuropathy in McCune-Albright Syndrome: effects of early diagnosis and treatment of growth hormone excess.” J Clin Endocrinol Metab. Brown, R. J., M. H. Kelly, et al. (2010). "Cushing syndrome in the McCune-Albright Syndrome." J Clin Endocrinol Metab 95(4): 1508-1515. Stanton, R. P.,E. Ippolito, et al. (2012). “The surgical management of fibrous dysplasia of bone.” Orphanet J Rare Dis 7: Suppl 1:S1. Lee J, Fitzgibbon E, Chen Y, Kim H, Lustig L, Akintoye S, Collins M, Kaban L. (2012) “Clinical guidelines for the management of craniofacial fibrous dysplasia.” Orphanet J Rare Dis 7: Suppl 1:S2 Kelly, M. H., B. Brillante, et al. (2008). "Pain in fibrous dysplasia of bone: age-related changes and the anatomical distribution of skeletal lesions." Osteoporos Int 19(1): 57-63. Kelly M. H., B. Brillante, et al. (2005). “Physical function is impaired but quality of life preserved in patients with fibrous dysplasia of bone.” Bone 37(3):388-94. FONTE: https://www.magicfoundation.org/Growth-Disorders/McCune-Albright-Syndrome-or-Fibrous-Dysplasia/

  • Relação entre Memória de Trabalho (ou Memória Operacional) e o TDAH

    (Tradução livre) Base Neural da Memória de Trabalho no TDAH: carga versus complexidade, 2021 Os déficits de Memória de Trabalho (MT) são significativos no Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). No entanto, a Memória de Trabalho não é universalmente prejudicada no TDAH. Além disso, a base neural para déficits de MT no TDAH não foi estabelecida de forma conclusiva, com regiões como o córtex pré-frontal, o cerebelo e o núcleo caudado sendo envolvidas. Essas contradições podem estar relacionadas a conceitualizações da capacidade da MT, como carga (quantidade de informações) versus complexidade operacional (recuperação da manutenção ou manipulação). Por exemplo, em relação a indivíduos neurotípicos (NT), operações complexas de MT podem ser prejudicadas no TDAH, enquanto operações mais simples são poupadas. Alternativamente, todas as operações podem ser prejudicadas com cargas mais altas. Aqui, comparamos o impacto comportamental e neurológico desses dois componentes da capacidade na MT: carga e complexidade operacional, entre TDAH e NT. Nossa hipótese é que o impacto da carga na MT seria maior no TDAH, e a ativação neural seria alterada. Os participantes (faixa etária 12-23 anos; 50 TDAH e 82 NT) recordaram três ou quatro objetos (carga) em ordem direta ou inversa (complexidade operacional) durante o uso de imagem por Ressonância Magnética Funcional. Os efeitos do diagnóstico e da tarefa foram comparados com o desempenho e o envolvimento neural. Comportamentalmente, encontramos interações significativas entre diagnóstico e carga, e entre diagnóstico, carga e complexidade. Neurologicamente, encontramos uma interação entre diagnóstico e carga no estriado direito, e entre diagnóstico e complexidade no cerebelo direito e giro occipital esquerdo. O grupo de TDAH apresentou hipoativação em comparação ao grupo de NT durante a exposição a maior carga e maior complexidade. Isso demonstra os mecanismos disfuncionais relacionados à MT em adolescentes e adultos jovens com TDAH (por exemplo, desempenho acadêmico) e em intervenções corretivas (por exemplo, treinamento de MT). Publicado pelo NIH - National Institutes of Health, ler mais… Mecanismos Neurocognitivos subjacentes à codificação e recuperação da Memória de Trabalho no Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, 2020 Deficiências de Memória de Trabalho no TDAH têm sido relatadas de forma consistente, juntamente com as deficiências no Controle Atencional. No entanto, não está claro quais processos específicos da MT são afetados nessa condição. Falha na ligação entre a Atenção e a MT tem sido descrita. No entanto, a maioria dos estudos foca na capacidade de reter as informações ao invés de focar nos estágios de codificação que são dependentes da Atenção e Recuperação. O estudo atual utiliza uma tarefa relacionada à Memória de Curto Prazo Visual, medindo tanto as respostas comportamentais quanto as respostas eletrofisiológicas para caracterizar a Codificação, Armazenamento e Recuperação da MT, comparando Adolescentes com TDAH e sem TDAH. Adolescentes com TDAH exibiram menor precisão e maior número de reações do que sem TDAH em todas as condições, especialmente quando havia uma alteração na Codificação ou na forma de exibição do teste. A manipulação do Armazenamento afetou igualmente os dois grupos. A Codificação P3 (exame neurofisiológico que identifica e mensura o potencial bioelétrico gerado na realização da tarefa) foi maior no grupo sem TDAH. A Recuperação P3 discriminou a mudança apenas no grupo sem TDAH. Modulações dependentes de Armazenamento ERP Event-related Potential (Potenciais Relacionados ao Evento - PRE) não revelaram diferenças de grupos. Codificação e Recuperação P3 foram significativamente correlacionadas apenas em não-TDAH. Esses resultados sugerem que, embora os processos de Armazenamento pareçam estar intactos no TDAH, os processos de Codificação e Recuperação relacionados à Atenção estão comprometidos, resultando em uma falha na priorização de informações relevantes. Esta nova evidência pode aprimorar as teorias recentes sobre o Armazenamento na Memória de Trabalho Visual. Publicado pela Universidade do Chile, ler mais… Memória de Trabalho Verbal no TDAH: revisão sistemática e meta-análise, 2015 Pesquisas científicas têm identificado reiteradamente que crianças e adolescentes com TDAH apresentam déficits em Memória de Trabalho. O objetivo desta revisão sistemática com síntese quantitativa de dados é investigar primariamente o effect size do déficit em Memória de Trabalho Verbal de crianças e adolescentes com TDAH, cuja avaliação (neuro)psicológica tenha aplicado o subteste Dígitos e/ou sua ordem indireta, com base em alguma versão das escalas WISC e/ou WAIS. Secundariamente, a Memória de Curto Prazo foi investigada considerando-se os escores da ordem direta do subteste. A busca sistematizada de artigos científicos foi feita nas bases de dados PubMed/MEDLINE, PsyINFO, PsyArticles e Web of Science, nos meses de junho e julho de 2015. O período de interesse abrange os anos de 2005 a 2014. A revisão sistemática gerou uma amostra de 5064 sujeitos com TDAH e outra amostra de 3867 sujeitos sem TDAH. Os resultados indicam que, em Memória de Trabalho Verbal, crianças e adolescentes com TDAH apresentam déficits de magnitude moderada (Hedges's g = 0,55), enquanto em Memória de Curto Prazo o effect size estimado foi de magnitude média a baixa (g = 0,46). Esses resultados replicam em grande parte os resultados de estudos anteriores de meta-análise que se valeram de variadas medidas de Memória de Trabalho Verbal. As evidências das sínteses quantitativas sugerem que o subteste Dígitos, mais especificamente a ordem indireta, é de fato uma medida de Memória de Trabalho Verbal, algo não compartilhado por todos os pesquisadores ao longo de 100 anos de pesquisas. A principal explicação para o déficit em sujeitos com TDAH provém, sobretudo, de evidências empíricas de que circuitos fronto-parieto-temporais (córtex pré-frontal dorsolateral, sobretudo), importantes para o funcionamento da Memória de Trabalho, estão deficitários em crianças e adolescentes diagnosticados com TDAH. Conclui-se que o subteste Dígitos possui eficácia semelhante ao de outras medidas neuropsicológicas na investigação da Memória de Trabalho Verbal. Entretanto, como há divergências na literatura científica sobre o assunto, sempre que possível é recomendável o emprego de outros instrumentos, conjuntamente, para avaliação da Memória de Trabalho Verbal. Publicado pela Universidade Federal do Paraná, ler mais… Qual área da Memória de Trabalho não está funcionando no TDAH? Memória de Curto Prazo, o Executivo Central e os Efeitos de Reforço, 2013 Os déficits na Memória de Trabalho estão relacionados aos sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Em crianças com TDAH, a MT Visuoespacial é a mais prejudicada. A MT é composta por Memória de Curto Prazo (MCP) e um Executivo Central (EC). Portanto, déficits em um ou em ambos MCP e EC podem ser responsáveis ​​por deficiências na MT em crianças com TDAH. Os estudos dos componentes da MT encontram déficits tanto no MCP quanto no EC. No entanto, estudos recentes mostram que não apenas os déficits cognitivos, mas também os déficits motivacionais dão origem ao desempenho atípico da MT de crianças com TDAH. Até o momento, a influência desses déficits motivacionais nos componentes da MT não foi investigada. Este estudo examinou os efeitos de um padrão (apenas feedback) e um alto nível de reforço (feedback + 10 euros) na MT Visuoespacial, MCP Visuoespacial e no desempenho EC de 86 crianças com TDAH e 62 crianças controles em desenvolvimento típico. Com o reforço padrão, o desempenho da MCP, EC e MT das crianças com TDAH foi pior do que o dos controles. O alto reforço melhorou o desempenho de MCP e MT mais em crianças com TDAH do que nos controles, entretanto foi incapaz de normalizar seu desempenho. O reforço alto não pareceu melhorar o desempenho relacionado à EC de crianças com TDAH e controles. Os déficits motivacionais têm um efeito prejudicial no desempenho Visuoespacial da MT e no desempenho da MCP de crianças com TDAH. Além dos déficits motivacionais, tanto o MCP Visuoespacial quanto o EC de crianças com TDAH são prejudicados e dão origem a seus déficits na MT Visuoespacial. Publicado pelo NIH - National Institutes of Health, ler mais… Memória de Trabalho em Crianças e Adolescentes com TDAH e Dificuldade na Matemática (DM) ou Transtorno na Matemática (TM), 2012 Nessa dissertação foi adotado o modelo de explicação do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade que prioriza o déficit da Memória de Trabalho como o seu núcleo. Os teóricos deste modelo apresentam evidências de que a desatenção e a hiperatividade de crianças e adolescentes com TDAH estejam relacionadas a (e até produzidas por) um déficit na Memória de Trabalho. As crianças e os adolescentes com TDAH também apresentam baixo desempenho matemático, associado ao desempenho na Memória de Trabalho. O objetivo deste estudo é entender o papel desempenhado pela Memória de Trabalho (Executivo Central, Alça Fonológica e Esboço Visuoespacial) em crianças e adolescentes com TDAH em relação à dificuldade e ao Transtorno de Matemática. O banco de dados utilizado faz parte da pesquisa intitulada “Scholar high risk cohort study for the development of psychopathology and resilience – Prevention Study” do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Psiquiatria do Desenvolvimento para Infância e Adolescência (INPD). Foram avaliados três componentes da Memória de Trabalho, através de quatro tarefas: span de dígitos na ordem direta – Alça Fonológica; span de dígitos na ordem inversa – Executivo Central mediado pela Alça Fonológica; Blocos de Corsi na ordem direta – Esboço Visuoespacial; Blocos de Corsi na ordem inversa – Executivo Central mediado pelo Esboço Visuoespacial. Os sujeitos com TDAH (n=205) foram avaliados para DM ou TM através do Teste de Desempenho Escolar de Stein (1994). Devido à pouca quantidade de sujeitos identificados com TM (n=7), foi necessário agrupá-los aos sujeitos com DM (n=23; n total=30). Foi realizada Análise de Regressão Logística Binária para verificar se os componentes da Memória de Trabalho poderiam explicar o diagnóstico de DM ou TM. Como a Alça Fonológica não teve poder explicativo nesta análise, compreende-se que o poder explicativo da tarefa span de dígitos na ordem inversa tenha sido significativo por exigir capacidade do Executivo Central, e não por causa da mediação da Alça Fonológica. O Esboço Visuoespacial não teve poder explicativo em relação ao diagnóstico de DM e TM no modelo multivariável. Os resultados desse estudo vão ao encontro de pesquisas que apontam o baixo desempenho em tarefas que avaliam o componente Executivo Central da Memória de Trabalho de crianças e adolescentes com TDAH. Este estudo também se alinha com as pesquisas que apontam a necessidade do Executivo Central para a execução de tarefas aritméticas; lembrando que cálculos aritméticos são a base do teste utilizado para diagnosticar a DM e o TM. Acredita-se que a perspectiva apresentada é promissora para a compreensão das relações entre o TDAH e a DM e o TM. A Memória de Trabalho pode estar desempenhando um papel mais importante do que os próprios sintomas de desatenção e hiperatividade/impulsividade na dinâmica do TDAH. Com isso não se pretende negar a influência que a desatenção e a hiperatividade exercem sobre a aprendizagem, mas sim vinculá-las e explicá-las pelos déficits na Memória de Trabalho apresentados por crianças e adolescentes com TDAH. Publicado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ler mais…

  • FILMES SOBRE TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE (Limítrofe)

    Para aumentar nossa compreensão sobre como esse problema de saúde mental afeta algumas pessoas, temos aqui uma seleção de filmes sobre o TPB - Transtorno de Personalidade Borderline (Limítrofe). Assistir a filmes sobre o transtorno torna mais fácil o entendimento sobre os sintomas e suas características. O TPB é uma condição em que as pessoas têm dificuldades com a autorregulação emocional. Eles podem sentir depressão, ansiedade ou padrão de instabilidade nas relações interpessoais, na autoimagem e nos afetos, com impulsividade acentuada. Muitos portadores do TPB temem a discriminação no ambiente de trabalho ou temem que os outros pensem que seus problemas não são "reais". A prevalência média do transtorno de personalidade borderline na população é estimada em 1,6%, embora possa chegar a 5,9%. A prevalência do transtorno pode diminuir nas faixas etárias mais altas e é diagnosticado predominantemente em mulheres, cerca de 75%. Dos 30 aos 50 anos, a maioria dos indivíduos com o transtorno alcança estabilidade maior nos seus relacionamentos e no seu funcionamento profissional. Estudos de seguimento de indivíduos identificados por meio de ambulatórios de saúde mental indicam que, após cerca de 10 anos, até metade deles não mais apresenta um padrão de comportamento que atenda aos critérios para o TPB. A luta constante, com tantas altas e baixas em suas histórias, e intensas emoções faz com que haja bons roteiros para os filmes de Hollywood. Segue a lista de alguns filmes: Bem-vindos ao meu mundo, 2014 (Welcome to me) Na comédia dramática, a atriz e comediante Kristen Wiig interpreta a personagem Alice Klieg, uma mulher com TPB que se torna milionária após ganhar na loteria. Frustrada com a atenção que está recebendo, Klieg interrompe a medicação, indo contra a recomendação de seu psiquiatra e com o seu prêmio, compra o seu próprio programa de entrevistas na televisão, chamado Bem-vindos ao meu mundo. Borderline – Além dos Limites, 2008 (Borderline) A história da personagem Kiki, interpretada pela atriz Isabelle Blais, é mostrada em diferentes fases de sua vida. Com a mãe internada, ela é criada pela avó, que não se preocupa com ela. Seu refúgio é a escola. Sua vida antes dos 30 está bem longe de ser um conto de fadas. Ela se envolve com diversos homens, um após o outro. Sexo e álcool são suas únicas saídas e sua rotina. Mas aos 30 anos, Kiki enfrenta o maior de todos os desafios: aprender a amar a si mesma. Garota, Interrompida, 2000 (Girl, Interrupted) Garota, Interrompida é um filme de época ambientado em uma instituição mental dos anos 60. Internada devido a crises do TPB, a personagem Susanna Kaysen, interpretada por Winona Ryder, cai sob a influência de outra paciente mais inconstante chamada Lisa Rowe, interpretada por Angelina Jolie. Conforme a história se desenrola, Kaysen deve decidir entre sua amizade com Rowe ou sua própria recuperação do transtorno de personalidade borderline. Atração Fatal, 1987 (Fatal Attraction) Um advogado, casado e pai de família, Dan personagem interpretado por Michael Douglas, sofre com a rotina e, aproveitando a viagem da família, se envolve com uma mulher, misteriosa e sedutora por uma noite. Alex, interpretada por Glenn Close, no entanto, revela um comportamento extremamente destrutivo e não aceita de forma alguma ser abandonada, gerando muitos problemas para Dan e tudo o que gira em torno dele.

  • Estudos revelam que ouvir música ajuda a reduzir o estresse

    (Tradução livre) Ouvir música pode ajudar a reduzir o estresse e aumentar as emoções positivas em adultos, revelou uma pesquisa da Queen’s University Belfast, na Irlanda do Norte. O estudo mostrou que não importa a idade do adulto, a música ajuda a diminuir os níveis de estresse. No entanto, os adultos mais velhos tiveram maior redução do estresse do que os adultos mais jovens - especialmente ao ouvir música. Nos últimos 20 anos, os pesquisadores estudaram os efeitos positivos em ouvir músicas, incluindo redução do estresse, melhoria do humor e regulação da emoção. Entretanto, este estudo examinou, pela primeira vez, as diferenças de faixa etária na redução do estresse ao ouvir música. O ensaio de pesquisa, liderado pela Escola de Psicologia da Queen’s University Belfast, foi realizado com 40 adultos jovens, com idades entre 18-30 anos, e com 40 adultos idosos, com idades entre 60-81 anos. A Dra. Jenny Groarke, da Escola de Psicologia da Queen’s University Belfast, liderou a pesquisa. Ela explica: “Ouvir música é parte da vida cotidiana de muitas pessoas. Os estudantes universitários passam até quatro horas por dia ouvindo música e 64% dos adultos com idades entre 65-75 anos relatam ouvir pelo menos uma vez por dia.” “A prevalência de estresse e ansiedade hoje, especialmente entre os jovens, é uma preocupação crescente. Há uma necessidade de intervenções econômicas e de fácil acesso para o controle do estresse. Os resultados deste estudo apoiam a ideia de que ouvir música ajuda a lidar com o estresse ao longo da vida." “Este estudo também oferece informações importantes sobre os efeitos da música em adultos mais velhos, que raramente foram incluídos em pesquisas anteriores.” Antes de visitar o laboratório, os participantes criaram playlists de músicas que ouviriam em situações estressantes. Quando eles chegaram ao laboratório, eles foram informados que teriam que fazer uma palestra que seria gravada em vídeo e avaliada, aumentando os níveis de estresse. Metade do grupo ouviu sua própria playlist de músicas, enquanto a outra metade ouviu um documentário de rádio. A redução do estresse foi maior no grupo que ouviu música. Os adultos idosos também mostraram maior redução do estresse em ambas as condições - ouvindo música escolhida por eles mesmos e ouvindo um documentário de rádio. A Dra. Groarke comenta: “Os resultados indicam que ouvir as músicas preferidas pode ajudar no controle do estresse para adultos jovens e adultos idosos. No entanto, o fato de os idosos apresentarem maior redução do estresse ao ouvir as músicas escolhidas por eles mesmos e ao ouvir um documentário de rádio também apoia a teoria existente de que as habilidades de regulação emocional se desenvolvem com o tempo e melhoram com a idade”. “Isso mostra que, à medida que as pessoas envelhecem, sua capacidade de reduzir seus sentimentos negativos e prolongar seus sentimentos positivos melhora.” FONTE: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0218017 https://www.qub.ac.uk/News/Allnews/2019/Studyfindsthatlisteningtomusichelpsreducestressandithasabiggerimpacttheolderyouget.html

  • Psiquiatria Molecular - Cientistas criam exame de sangue para Depressão e Transtorno Bipolar

    (Tradução livre) Pesquisadores da Indiana University School of Medicine, nos EUA, passaram quatro anos desenvolvendo um teste sanguíneo para identificar a Depressão e o Transtorno Bipolar - eles dizem que este trabalho levará a Psiquiatria "do século 19 para o 21". Ao longo de quatro anos, uma equipe em Indianápolis, EUA, analisou como a Medicina de Precisão poderia mudar o processo ambíguo e, muitas vezes, lento para obter um diagnóstico de saúde mental. Eles trabalharam com mais de 300 participantes, registrando seus biomarcadores sanguíneos. O professor Alexander B Niculescu, da Psiquiatria da IU School of Medicine, liderou a equipe de pesquisa. No passado, ele descobriu como os biomarcadores sanguíneos podiam sinalizar o suicídio, dor, TEPT - Transtorno de Estresse Pós-Traumático e a doença de Alzheimer. Apesar do progresso em relação ao preconceito em saúde mental, as pessoas continuam a rejeitar os transtornos mentais como sendo uma invenção da mente humana ou como uma experiência benéfica criada pelo paciente - a ser superada individualmente, sem tratamento adequado. A criação de um teste objetivo para avaliar padrões cognitivos relativamente subjetivos pode mudar a forma como a Depressão é compreendida e tratada. O que são biomarcadores sanguíneos? Os biomarcadores sanguíneos são uma característica natural do sangue, que podem ser analisados quase como sinais de saúde de um ser humano. A prática de análise de biomarcadores tem sido comum para doenças e cânceres, mas trazê-los para o campo da saúde mental é relativamente novo. Agora, a equipe acredita saber como usar os biomarcadores do sangue para analisar um paciente com Depressão e Transtorno Bipolar. O professor Niculescu comentou: “Fomos pioneiros na área da Medicina de Precisão em Psiquiatria nas últimas duas décadas, principalmente nos últimos 10 anos. Este estudo representa um resultado de “última geração” de nossos esforços. Isso faz parte do nosso empenho para trazer a Psiquiatria do século 19 para o século 21. “Para ajudar a Psiquiatria a se tornar como outras áreas modernas como a Oncologia. Em última análise, a missão é salvar e melhorar vidas.” Por meio deste estudo, os pesquisadores encontraram 26 biomarcadores que os informam sobre o humor de uma pessoa – tanto presente quanto futuro. Como funciona o exame de sangue para detecção de Depressão? A equipe criou um teste sanguíneo que é composto de biomarcadores de RNA, para entender o quão grave é a Depressão de um paciente. Eles também podem analisar o exame sanguíneo para ver se o paciente pode desenvolver Depressão grave no futuro, ao mesmo tempo em que analisam o risco de Transtorno Bipolar. Embora este teste sanguíneo analise biomarcadores para compreender a saúde mental de uma pessoa, ele também pode fornecer recomendações altamente específicas sobre que tipo de tratamento medicamentoso funcionaria melhor para o indivíduo. ‘Biomarcadores sanguíneos estão emergindo como ferramentas importantes’ O professor Niculescu disse: “Com este trabalho, queríamos desenvolver exames de sangue para Depressão e Transtorno Bipolar para distinguir entre os dois e fazer com que as pessoas recebessem os tratamentos corretos.” “Os biomarcadores sanguíneos estão surgindo como ferramentas importantes em distúrbios em que o autorrelato subjetivo de um indivíduo ou a opinião clínica de um profissional de saúde nem sempre são confiáveis. Esses exames de sangue podem abrir a porta para uma combinação precisa e personalizada com medicamentos e monitoramento objetivo para resposta ao tratamento.” Leia o estudo completo em inglês, clicando aqui. FONTE: https://www.openaccessgovernment.org/depression-and-bipolar-disorder/108303/

  • RINS - Doença como Símbolo, Sintomas e Planta Medicinal

    Os Rins No interior corpo humano, os rins representam o âmbito da parceria. Dores renais e moléstias dos rins costumam surgir quando existem problemas de relacionamento e de convivência. Não se trata tanto de relações sexuais, mas a capacidade de relacionamento com os seus semelhantes em sua essência. O modo como nos relacionamos com outras pessoas pode ser visto com mais clareza dentro de uma parceria, porém ele se aplica a quaisquer tipos de contato com os outros. Para se entender melhor a relação entre os rins e a comunicação com o próximo será conveniente, neste ponto, examinarmos as bases do relacionamento humano em termos psíquicos. A polaridade de nossa mente impede-nos de ter consciência daquilo que somos na totalidade e faz com que nos identifiquemos com uma parte apenas do nosso Ser. A essa parte chamamos Eu. Aquilo que não vemos constitui a nossa sombra que, por definição, desconhecemos. O caminho que o Ser Humano deve seguir é aquele que o conduza a uma consciência mais elevada. Ele é continuamente obrigado a tornar conscientes partes até então inconscientes de sua sombra e a integrá-las na sua autoimagem. Este é um processo de aprendizagem que não acaba enquanto não possuirmos uma consciência perfeita, enquanto não formos “perfeitos”. Falamos de uma unidade que abrange toda a polaridade sem distinção, ou seja, tanto o lado feminino como o masculino. O indivíduo completo é andrógino, ou seja, aquele que fundiu os aspectos masculinos e femininos de sua alma em uma unidade (casamento alquímico). Não se deve confundir androginia com hermafroditismo; naturalmente, a androginia refere-se ao aspecto psíquico: o corpo mantém sua sexualidade. Mas a mente deixa de se identificar com ela (tal como uma criança que não se identifica com o seu sexo ainda que o possua fisicamente). O objetivo da androginia também se expressa exteriormente no celibato e nos trajes dos sacerdotes e monges. Ser um homem significa identificar-se com o polo masculino da alma, o que relega automaticamente o polo feminino para a sombra. Por sua vez, ser mulher significa identificação com o polo feminino, o que força o polo masculino para a sombra. Nossa missão é tornarmo-nos conscientes de nossa sombra. No entanto, só podemos fazer isso através do recurso da projeção. Precisamos encontrar fora de nós, no mundo exterior, aquilo que nos falta e que, no entanto, já reside em nós, o tempo todo. Em princípio, isso parece paradoxal e, talvez, por isso sejam tão poucos os que o entendam. Contudo, o conhecimento requer divisão entre sujeito e objeto. Por exemplo, os olhos podem ver, mas são incapazes de ver a si mesmos; para tanto, eles necessitam de uma projeção sobre um objeto. Nós, os humanos, estamos na mesma situação. Só assim podem se reconhecer. O homem apenas pode tomar consciência do aspecto feminino da sua psique (C. G. Jung o chamou de anima) projetando-o numa mulher de carne e osso. O mesmo acontece com uma mulher, mas em sentido inverso (e neste caso, C. G. Jung o chamou de animus). Podemos imaginar que a sombra se compõe de camadas. Existem camadas muito profundas que nos infundem terror e das quais temos muito medo, e há camadas que ficam perto da superfície, esperando ser elaboradas e conscientizadas. Quando encontro uma pessoa que exibe qualidades que residem na superfície da minha sombra, apaixono-me por ela. A palavra Ela, refere-se tanto à outra pessoa como a essa parte da minha própria sombra, posto que uma e outra são, em última análise, idênticas. Aquilo que amamos ou odiamos nos outros está, em última instância, em nós mesmos. Falamos em amor, quando o outro espelha uma zona da sombra que gostaríamos de tornar consciente, e falamos de ódio quando aquilo que o outro reflete é uma camada muito profunda de nossa sombra com a qual ainda não queremos nos defrontar. O encontro com um parceiro é o encontro com o aspecto desconhecido de nossa própria alma. Uma vez que tenhamos compreendido com clareza este mecanismo de projeção de partes da nossa própria sombra sobre os outros, veremos sob nova luz os problemas conjugais. Todas as dificuldades que vivemos com nosso parceiro são dificuldades que temos com nós mesmos. A relação que estabelecemos com o inconsciente é sempre ambivalente: atrai-nos e atemoriza-nos simultaneamente. Não menos ambivalente costuma ser a nossa relação com o nosso parceiro: nós o amamos e o odiamos, desejamos possuí-lo completamente e nos livrar dele, achamos que é maravilhoso e também irritante. Todas as atividades e todos os atritos comuns à vida em parceria são elaborações de nossa sombra. É por isso que relativamente os opostos acabam com frequência juntos. Os opostos se atraem. Todos sabem disso e, no entanto, sempre nos surpreendemos de novo: “Como será que esses dois resolveram se unir? Eles não combinam um com o outro!” Quanto maiores as contradições, tanto melhor se darão, visto que cada parceiro vive da sombra do outro ou - mais precisamente - cada um deixa sua sombra viver no parceiro. Uniões conjugais entre pessoas muito semelhantes apresentam menos riscos, mas não ajudam muito em seu desenvolvimento: um cônjuge só espelha no outro o próprio âmbito consciente, ou seja, o âmbito descomplicado e monótono. Ambos se consideram mutuamente maravilhosos e projetam uma sombra comum sobre o seu entorno que tratam de evitar. Os atritos conjugais só são fecundos quando um parceiro elabora sua sombra através do outro, pois é assim que geram a intimidade. Que fique claro que o objetivo do trabalho de cada um deles está em alcançar a própria totalidade. O objetivo ideal de uma união é proporcionar a duas pessoas condições para se tornarem cada qual seu próprio todo ou, ao menos, - se formos bastante idealistas -, para se tornarem mais perfeitas por terem iluminado os aspectos inconscientes da própria alma e por terem integrado esses aspectos em sua consciência. Esse objetivo não é alcançado pelo par de pombinhos apaixonados que insistem em “não poder viver um sem o outro”. Uma tal afirmação revela apenas que as pessoas envolvidas estão usando uma à outra por pura conveniência (poderíamos também dizer, por pura covardia), para viver a sua sombra, sem tentar elaborar as próprias projeções ou, ao menos, sem recebê-las de volta. Nesses casos (e eles são a maioria!) um parceiro não permite o desenvolvimento do outro porque isso levantaria questionamentos acerca dos papéis que ambos desempenham. Se algum deles, depois, vier a se submeter a uma psicoterapia, o outro por certo se queixará das mudanças ocorridas… (Afinal, apenas queriam que a sintoma desaparecesse!) Uma união conjugal atinge sua finalidade quando um não precisa mais do outro. Só nesse caso é que se cumpre de fato a promessa do “amor eterno”. Amar é um ato consciente que implica abrirmos os limites de nossa própria consciência para que possamos nos unir àquilo que amamos. Isso só ocorre quando aceitamos na alma, tudo o que o parceiro representa – ou, em outras palavras –, quando acolhemos todas as projeções e nos unimos a elas. Dessa forma, a pessoa, como tela de projeções, fica vazia – vazia de atração e de repulsa – e o amor então torna-se eterno, isto é, independente do tempo, visto que foi concretizado na própria alma. Esse tipo de reflexão sempre inspira medo às pessoas cujas projeções estão tremendamente condicionadas pelo mundo material. Elas associam o amor às formas aparentes, em vez de associá-lo ao conteúdo da consciência. Com essa abordagem, a impermanência das coisas terrenas se transforma numa ameaça; é quando passam a ter esperanças de encontrar seus “entes queridos” outra vez no além. Ao fazer isso, deixam de ver que o “além” sempre está presente. O além é o âmbito transcendental das formas materiais. Na verdade, precisamos de fato transmutar tudo o que é visível na consciência, e avançarmos para além das formas. Todos os fenômenos visíveis não passam de uma metáfora. Por que as coisas teriam de ser diferentes no que se refere aos seres humanos? O objetivo da nossa vida é tornar supérfluo o mundo visível, e isso também vale para o nosso parceiro. Os problemas surgem quando ambas as partes “usam” o relacionamento de modos diferentes, na medida em que um elabora e reabsorve suas projeções e o outro fica completamente estagnado nelas. Então chegará o ponto em que um se torna independente do outro, enquanto o coração deste outro se “quebra” de dor. Se, porém, ambas as partes ficarem estagnadas na projeção, temos o caso em que o amor dura até a morte, e depois há o grande luto porque falta a outra metade! Feliz daquele que compreende que a única coisa que não lhe podem tirar é aquilo que ele efetivou em si mesmo. O objetivo do amor é ser uno, caso contrário ele perde sua razão de ser. Enquanto ele ainda estiver voltado para os objetos exteriores, não atingirá sua meta. É de vital importância conhecermos a estrutura interior de uma união a fim de podermos estabelecer as relações analógicas entre a mesma e o que acontece com os rins. No corpo humano, dispomos de órgãos singulares (por exemplo, o estômago, o fígado, o pâncreas, o baço) mas também de órgãos dispostos em pares (como os pulmões, os testículos, os ovários e os rins). Se observarmos os órgãos duplos, logo notamos que todos têm correlação com o tema “contato”, “associação”, “parceria”. Os pulmões representam a esfera informal do contato e da comunicação; os órgãos genitais, os testículos e os ovários representam a sexualidade. Simultaneamente, os rins correspondem à parceria, aos relacionamentos humanos mais íntimos. Estes três âmbitos, na verdade, também correspondem aos três antigos termos gregos para amor: filos (amizade), eros (amor sexual) e agape (amor fraternal). Trata-se de uma paulatina transformação até tornar-se uno com o todo. Todas as substâncias absorvidas pelo corpo acabam por se transformar em sangue. O trabalho principal dos rins é servir de estação de filtragem. Para exercê-lo, eles têm de saber reconhecer quais substâncias são benéficas ao organismo e podem ser usadas, e quais são resíduos tóxicos e, portanto, venenosas, que precisam ser eliminadas. Os rins têm a sua disposição vários mecanismos para cumprir essa difícil tarefa. Para simplificar o tema, devido à complexidade fisiológica, vamos falar de duas funções básicas. O primeiro passo do processo de filtragem funciona de acordo com o modelo de um filtro mecânico, no qual são retidos pedaços de determinado tamanho. Os poros desse filtro têm o tamanho exato para reter as menores moléculas das proteínas (albumina). O segundo passo do processo, mais complicado, se baseia na mescla de dois princípios, o da osmose e o do contrafluxo. Em essência, a osmose consiste na compensação entre a pressão e a concentração de dois fluidos, separados um do outro por uma membrana semipermeável. Durante o processo, o princípio do contrafluxo faz com que ambos os líquidos, cuja concentração é diversa, sempre tornem a passar perto um do outro; a consequência disto é o fato de os rins poderem, caso necessário, excretar urina altamente concentrada (por exemplo, urina matinal). O objetivo final deste equilíbrio osmótico é assegurar ao corpo a capacidade de reter os sais vitais ao organismo, dos quais, entre outras coisas, depende o equilíbrio entre os ácidos e a base. As pessoas leigas em medicina, muitas vezes, nem sequer estão cientes do significado vital desse equilíbrio ácido/base, definido numericamente em termos de valores de pH. Assim, todas as reações bioquímicas (por exemplo, a produção de energia e a síntese de proteínas) dependem de um valor de pH determinado por limites muito estáveis. É assim que o sangue se mantém no centro exato entre o básico e o ácido, entre Yin e Yang. Analogamente, toda união conjugal de certa forma almeja harmonizar e equilibrar ambos os polos, o masculino (ácido, Yang) e o feminino (básico, Ying). Tal como os rins, que devem garantir o equilíbrio entre ácido e básico, a união tem de funcionar analogamente no sentido da obtenção da totalidade: um parceiro, através do relacionamento, concretiza a sombra do outro. É assim que a outra metade (ou a metade “melhor”) compensa através de sua existência algo que lhe faz falta. O pior risco que qualquer união pode enfrentar enquanto dura é a convicção de que todas as formas problemáticas ou perturbadoras de comportamento são causadas unicamente pelo outro, e que nada têm a ver conosco. Nesse caso, ficamos estagnados na projeção e não reconhecemos a necessidade e a utilidade de elaborar os nossos âmbitos de sombra refletidos pelo parceiro, para podermos crescer e amadurecer através dessa conscientização. Se este engano se somatizar, os rins também deixam que substâncias de importância vital (albumina, sais) passem pelo sistema de filtragem e, desta forma, eles perdem partes essenciais para seu próprio desenvolvimento ao expeli-las para o mundo exterior (por exemplo, no caso da glomerulonefrite). Com isso, demonstram a mesma incapacidade de reconhecer que determinadas substâncias importantes são suas, como a psique que não reconhece que certos problemas lhe pertencem e que por isso os transfere para terceiros. Assim como o ser humano tem de se reconhecer no parceiro, os rins também precisam da aptidão de reconhecer as substâncias “estranhas” provindas do exterior como elementos importantes para o próprio confronto com elas e para o seu desenvolvimento. A intensidade do vínculo entre os rins e o tema da união conjugal e a sociabilidade pode ser vista com bastante facilidade em certos hábitos do dia-a-dia. Em todas as oportunidades em que as pessoas se reúnem existe a intenção de estabelecer contatos e a ingestão de bebidas alcoólicas representa um papel importante. Não devemos nos admirar, pois beber estimula os órgãos de contato (rins) e também, consequentemente, a capacidade de se relacionar. O contato logo se torna mais íntimo se fizermos um brinde, tocando os copos cheios ou as canecas de cerveja. Também a substituição de um tratamento formal de “senhor” pelo cordial “você” está sempre associada a um ritual de beber em companhia; a bebida estabelece as bases, agindo como um tipo de ligação à fraternidade humana. O estabelecimento de contatos humanos é quase inimaginável na ausência de uma bebida - quer se trate de uma festa, de um encontro feliz ou de uma festa popular -, por toda parte se bebe para obter a coragem para se aproximar dos outros. O grupo contempla com certa desconfiança aquela pessoa que não bebe ou que bebe muito pouco, pois esta demonstra que seus órgãos de contato não se estimulam e que, assim sendo, ela prefere manter-se a distância. Em todas as ocasiões desse tipo dá-se preferência significativa a bebidas bastante diuréticas, que estimulam intensamente os rins, como chá, café e as bebidas alcoólicas. (Num sentido hierárquico, depois de se beber socialmente, vem a atividade de fumar. O fumo estimula outros órgãos de contato, os pulmões. Sabe-se que as pessoas, em geral, fumam muito mais quando estão acompanhadas do que quando estão a sós). Aqueles dentre nós que bebem demais demonstram um forte desejo de contato, ao risco, porém de estagnarem no nível das gratificações substitutivas. Os cálculos renais acontecem como resultado da sedimentação e da cristalização de determinadas substâncias presentes na urina em quantidade excessiva (por exemplo, ácido úrico, fosfato de cálcio, óxido de cálcio). Além de várias condições ambientais responsáveis pelos cálculos, o risco da formação de pedras nos rins está intensamente relacionado à quantidade de líquidos ingerida; grandes quantidades de líquidos diminuem a concentração dessas substâncias e acarretam sua solubilidade. Se, mesmo assim, se formar um cálculo, ele interrompe o fluxo e pode ocasionar um ataque de cólicas. A cólica renal é uma tentativa bastante sensível nessa parte do corpo de eliminar a obstrução provocada pelo cálculo, através de movimentos peristálticos dos ureteres. Esse processo extremamente doloroso pode ser comparado ao do parto. A cólica deixa a pessoa muito inquieta e há um impulso para ela se movimentar. Se a cólica não for bem sucedida na remoção da pedra, o médico aconselha o paciente a adicionar saltos a sua movimentação para provocar deslocamento do cálculo. Além disso, a terapia renal tenta acelerar o “nascimento” da pedra por meio de relaxamento, aplicações térmicas e ingestão de líquidos. No nível psíquico, é fácil ver correlações. A pedra bloqueadora é feita de substâncias que, em última análise, teriam de ser expelidas por não contribuírem mais para o desenvolvimento do corpo. Ela corresponde a um acúmulo de assuntos que já deveríamos ter solucionado há tempos, visto não serem úteis para a nossa evolução. Quando nos apegamos a assuntos sem importância ou ultrapassados, eles bloqueiam a corrente do desenvolvimento e ocasionam uma estagnação. O sintoma da cólica também obriga aquele movimento que, na verdade, tentamos impedir devido ao nosso apego. O médico exige do paciente exatamente a atitude correta: saltar. Só um salto para além do que é velho pode mobilizar outra vez o fluxo da vida e livrar-nos dos velhos temas (a pedra). As estatísticas revelam que o homem sofre com maior frequência do que a mulher de cálculos renais. Os homens não sabem lidar tão bem com os temas ligados à harmonia e à união conjugal quanto as mulheres, que se sentem em seu elemento natural no que se refere a tal questão. Contudo, as mulheres têm mais dificuldade com o problema da autoafirmação, que é de índole mais agressiva, e este é um princípio com que os homens se sentem mais à vontade. Estas correlações estão estatisticamente demonstradas na maior incidência de cálculos biliares em mulheres. As medidas terapêuticas tomadas nos casos de cólicas renais descrevem muito bem os princípios que são úteis na solução harmoniosa de problemas conjugais: o calor, expressão de simpatia e de amor; o relaxamento das vias contraídas, como um sinal de “abrir-se” e de “expandir-se” e, finalmente, a grande ingestão de líquidos que deve fazer tudo fluir e se movimentar outra vez. Doenças Renais Quando temos algo nos rins devemos fazer a nós mesmos as seguintes perguntas: 1- Quais problemas me afligem no âmbito conjugal? 2- Por acaso tenho tendência a estagnar na projeção e, desta forma, a considerar os erros do meu parceiro como problemas que só dizem respeito a ele? 3- Deixo de ver a mim mesmo no modo como o meu parceiro se comporta? 4- Ando me apegando a velhos problemas e, deste modo, interrompendo o fluxo no meu corpo, o fluxo do meu próprio desenvolvimento? 5- A que salto para o futuro, o meu cálculo renal está tentando me estimular? CÁLCULOS - litíase Plano corporal: diferentes regiões podem ser afetadas, sobretudo a região dos rins (equilíbrio, relacionamento), ducto biliar (agressividade, veneno e fel), intestino (assimilação de impressões materiais) e bexiga (segurar e liberar pressão). Plano sintomático: empedramento de energias; certos temas não podem mais ser mantidos sem solução e caem; reagir de forma rígida e empedrada: empedrar e face de determinados problemas; solidificar-se em estátua de sal (como a mulher de Ló, que olhou para trás): não fluir para adiante e com agilidade junto da corrente da vida; os sais (dos quais é feita a maioria das pedras), como recusa de forças básicas (femininas) e ácidas (masculinas), apresentam-se como algo inteiramente novo, neutro, que liga extremos; desencadeadores de -> Cólicas, que lutam contra a pedra em ondas de ataques dolorosos, a fim de pari-la em meio às respectivas dores do parto. Tratamento: defrontar-se com as correspondentes energias de maneira consequente, clara e firme; procurar se desembaraçar do que não tem mais solução (secretar); ficar saturado de certos temas, levá-los a cabo; não se pode suplantá-los justamente por se estar farto deles, e então eles se fazem representar, provocando mais aborrecimentos; é preferível tornar-se insolente do que deixar que os temas se cristalizem em pedras; manter num equilíbrio resolvido as forças femininas e masculinas em seu próprio jogo da vida e, a partir daí, criar algo novo, qualitativamente neutro, mas que ligue ambos os lados entre si; mediante contrações musculares ofensivas (dolorosas), pôr em movimento o que está retido, entalado e empedrado em si mesmo, para livrar-se de tudo isso. Remissão: com representações concretas, debruçar-se sobre a realização do tema relativo à formação de cálculos no órgão em questão. PEDRA NOS RINS - litíase Plano corporal: rins (equilíbrio, parceria) Plano sintomático: acumulação de temas que há muito deviam ter sido abandonados: temas remanescentes do circuito problemático; a harmonia e a parceria bloqueiam o fluxo de desenvolvimento e provocam acúmulo; areia na máquina da parceria, empedramento de temas do âmbito da parceria e da harmonia, temas esses que não podem mais continuar separados; problemas não dissolvidos, endurecidos; reagir obstinada e petrificadamente: petrificar-se em face dos problemas correspondentes; os sais (matéria da maior parte das pedras) como união das forças básicas (femininas) e ácidas (masculinas) são algo de inteiramente novo, neutro, que une os extremos; sais são concentrados e atuam conservando, isto é, conservam o problema – não vivo, mas empedrado – e dessa forma o eternizam; transformar em estátua de sal (como a mulher de Ló, que olhou para trás): não desaguar mais à frente e habitualmente na corrente de vida; pedras como desencadeadoras de cólicas, que aumentam em ondas de dolorosos ataques contra a pedra e buscam dá-la à luz com as devidas dores do parto. Tratamento: tornar-se consciente dos temas que são transformados em pedra e bloqueiam o desenvolvimento; reconhecer a areia na máquina das suas próprias relações; cristalizar para fora animicamente em vez de corporalmente o que está pendente; confrontar as energias correspondentes de modo consequente, claro e rígido; tornar-se consciente dos temas que não se pode dissolver e que na relação pendem como pedras de moinho; procurar desembaraçar-se (soltar-se) do que não tem mais solução; estar saciado de determinados temas com os quais se sabe lidar: não reprimir justamente aquilo do que se está farto, caso contrário ele se personificará e causará medo; ousar o salto a partir do antigo; manter as forças femininas e masculinas equilibradas em seu próprio jogo da vida e, a partir daí, criar algo novo e qualitativamente neutro que una em si ambos os lados; orientar-se para adiante na corrente da vida; pôr em movimento (Cólicas); considerar obstáculos como tarefas que têm de ser dominadas; (é preferível cair em necessidade do que cair como uma pedra). Remissão: com ideias concretas de domínio dos respectivos temas; prevenir a formação de cálculos nos órgãos correspondentes; fazer de boa vontade e conscientemente o trabalho de relação; abrir-se e tornar-se amplo para o amor e harmonia, para reconciliação dos contrários; lembrar-se que duas pessoas opostas podem produzir algo inteiramente novo e singular quando se associam (“o encontro de duas personalidades é como uma mistura de duas químicas corpóreas diferentes”, C.G. Jung). CÓLICAS Plano corporal: diferentes órgãos podem ser afetados, sobretudo na região dos rins (equilíbrio, parceria), ducto biliar (agressividade), intestino (assimilação de impressões materiais) e bexiga (segurar e liberar pressão). Plano sintomático: batalha campal contra um obstáculo com ondas de ataque sempre renovadas; atacar obstáculos com esforços ritmados (tentativas de expulsão); dores ao modo de contrações, que na maioria das vezes fazem expelir uma pedra; intensificação extrema do peristaltismo naturalmente caducante em suas respectivas regiões. Tratamento: pôr em movimento o retido e entalado, e livrar-se dele mediante contrações musculares ofensivas; chegar a soluções em vez de o fazer por meio de mobilização prolongada de inchaço e desinchaço rítmicos; atacar bloqueios com pretensões e exercícios de abandono sempre renovados; (de modo doloroso) largar o que lhe atravanca a vida. Remissão: livrar-se de obstáculos que estejam em seu caminho. PLANTA MEDICINAL: Quebra-Pedra-Phyllanthus niruri - EM ARTIGOS CIENTÍFICOS Revista Fitos da Fiocruz - Phyllanthus niruri (Quebra-Pedra) no Tratamento de Urolitíase: Proposta de Documentação para Registro Simplificado como Fitoterápico. 2010. Clique aqui para ler mais. Universidade Federal de São João Del-Rei - Curso de Farmácia - O quebra-pedra e suas propriedades medicinais: ação do quebra-pedra sobre os rins. 2012. Clique aqui para ler mais. Revista Brasileira de Plantas Medicinais - Avaliação de extratos de quebra-pedra (Phyllanthus sp) frente à patógenos causadores de infecções no trato urinário. 2015. Clique aqui para ler mais. FONTES: LIVRO: A Doença Como Caminho: Uma Visão Nova da Cura Como Ponto de Mutação em que Um Mal se Deixa Transformar em Bem. Rüdiger Dahlke, Thorwald Dethlefsen. São Paulo, Cultrix, 1992. LIVRO: A Doença Como Símbolo: Pequena Enciclopédia de Psicossomática. Sintomas, significados, tratamentos e remissão. Rüdiger Dahlke. São Paulo, Cultrix, 2005. https://revistafitos.far.fiocruz.br/index.php/revista-fitos/article/view/124/123 https://ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/cimplamt/Edicoes%203/CIMPLAMT_ed_11.pdf https://www.scielo.br/j/rbpm/a/DPnmQgJG3QGbqyncXq7ncHN/?format=pdf&lang=pt

  • FÍGADO - Doença como Símbolo, Sintomas e Plantas Medicinais

    Vejamos a doença de um modo novo e construtivo. As doenças têm um significado simbólico que indicam conflitos não resolvidos da alma. Como uma ocorrência que tem sentido, a doença pode ser entendida e também superada. A pessoa atingida pela doença dá assim um passo rumo ao amadurecimento, à libertação e à verdadeira cura. Portanto, é preciso decifrar o significado da doença, dando os passos de desenvolvimento necessários no dia-a-dia. Com o resgate desse processo de conhecimento e de crescimento, nos é conferida uma nova qualidade interior, uma personalidade mais amadurecida. Resumo da teoria 1. A consciência humana é polarizada. Isto, por um lado, confere-nos discernimento mas, por outro, torna-nos incompletos e imperfeitos. 2. O Ser Humano está doente. A doença é expressão da sua imperfeição e é inevitável no estado de polaridade. 3. A doença do Ser Humano manifesta-se por via de sintomas. Os sintomas são partes da sombra da consciência que se precipitam na matéria. 4. O Ser Humano é um microcosmo que carrega, latentes na sua consciência, todos os princípios do macrocosmo. Uma vez que o Homem, em virtude da sua faculdade decisória, apenas se identifica com uma metade dos princípios, a outra metade permanece na sombra e subtrai-se à consciência do homem. 5. Um princípio que não seja vivido conscientemente busca a sua justificação de existência e de vida através do sintoma corporal. O Ser Humano tem de viver e realizar no sintoma aquilo que não queria viver na consciência. Os sintomas compensam assim todas as unilateralidades. 6. O sintoma torna o Ser Humano sincero. 7. O Ser Humano tem no sintoma tudo aquilo que lhe falta na consciência. 8. A cura só é possível quando o Ser Humano assumir a parte de sombra que o sintoma representa. Quando o Ser Humano tiver encontrado aquilo que lhe faltava, o sintoma se tornará supérfluo. 9. A cura aponta sempre para a concretização da plenitude e da unidade. O Homem fica curado quando descobre o seu verdadeiro ser e se unifica com tudo aquilo que é. 10. A doença obriga o Ser Humano a não abandonar o caminho da unidade e, por essa razão, a doença é o caminho da perfeição. O Fígado Não é fácil examinar o fígado, órgão encarregado de múltiplas funções. É um dos órgãos maiores do Ser Humano, e o principal do metabolismo intermediário, ou - expressado de modo mais gráfico - o laboratório da pessoa. Esquematizemos, então, as funções mais importantes: 1. Armazenamento de energia: o fígado produz glicogênio (força) e armazena-o (cerca de 500 quilocalorias). Além disso, transforma os hidratos de carbono ingeridos em gordura que armazena em depósitos distribuídos pelo corpo. 2. Produção de energia: com os aminoácidos e as gorduras ingeridas com a alimentação, o fígado produz glicose (energia). As gorduras vão para o fígado onde são utilizadas na combustão para a obtenção de energia. 3. Metabolismo da albumina: o fígado tanto pode desintegrar como sintetizar os aminoácidos. Por essa razão, o fígado é o elemento de união entre a albumina (proteína) do reino animal e vegetal procedente dos alimentos, e a do Ser Humano. A albumina de cada espécie é perfeitamente individual, mas os elementos que a compõem - os aminoácidos - são universais. Exemplo: casas diferentes (albumina) construídas com tijolos idênticos (aminoácidos). As diferenças entre a albumina dos vegetais e animais, e a dos humanos consistem na ordenação dos aminoácidos; a ordem dos aminoácidos está codificada no código DNA. 4. Desintoxicação: as toxinas, tanto as do corpo como as que lhe são alheias, são desativadas e hidrolisadas no fígado para poderem ser eliminadas pela vesícula ou pelos rins. Também a bilirrubina (produto de desintegração da hemoglobina, o corante do sangue) tem de ser transformada no fígado para poder ser eliminada. A perturbação deste processo provoca a icterícia. Para finalizar, o fígado sintetiza a ureia que é eliminada pelos rins. Eis, então, uma rápida passagem das mais importantes funções do multifacetado fígado. Comecemos a nossa interpretação simbólica pelo último ponto citado: a desintoxicação. A capacidade do fígado para desintoxicar pressupõe a faculdade de diferenciação e de avaliação, porque quem não consegue diferenciar o tóxico do não-tóxico é incapaz de desintoxicar. As perturbações e disfunções do fígado, sugerem, portanto, problemas de avaliação, ou seja, assinalam uma classificação errônea do que seja benéfico e do que seja prejudicial (alimento ou veneno?). Por outras palavras, enquanto a avaliação daquilo que é tolerável e das quantidades em que pode ser processado e digerido for efetuada corretamente, nunca ocorrerão excessos. São precisamente os excessos que podem fazer o fígado adoecer: excesso de gorduras, excesso de comida, excesso de álcool, excesso de drogas, etc. Um fígado doente indica que o paciente ingeriu algo em excesso, numa medida que supera a capacidade de processamento, e revela falta de moderação, uma ânsia de expansão desmesurada e ideias demasiado ambiciosas. O fígado é o provedor de energia. O doente hepático perde energia e vitalidade: perde a sua potência e perde o apetite. Perde o ânimo em relação a tudo o que tenha que ver com manifestações vitais e, dessa forma, o próprio sintoma corrige e compensa o problema criado pelo excesso. Trata-se de uma reação do corpo à incontinência e à megalomania, e de uma exortação à moderação. Ao deixar de se formar coagulante, o sangue - seiva vital - torna-se mais fluido e escapa-se do paciente (escorre-lhe do corpo). Por via da doença, o paciente aprende os benefícios da moderação, do sossego, da continência e da abstinência (sexo, comida, bebida), processo que a hepatite ilustra claramente. Por outro lado, o fígado tem uma acentuada relação simbólica com o terreno filosófico e religioso, afinidade talvez difícil de apreciar para muitos. Recordemos a síntese da albumina. A albumina é a pedra angular da vida. É composta por aminoácidos. O fígado produz a albumina humana a partir da albumina vegetal e animal contida nos alimentos, mudando a ordem dos aminoácidos (esquema). Por outras palavras: o fígado, conservando os componentes (aminoácidos), modifica a sua estrutura espacial provocando um salto qualitativo, ou seja, um salto evolutivo desde o reino vegetal e animal para o reino humano - mas não deixa de manter, simultaneamente, a identidade dos componentes, assegurando assim a união com a origem. A síntese da albumina é, à escala microcósmica, um processo equivalente ao que no plano macrocósmico se apelida de evolução. Através da modificação do modelo com elementos originais, cria-se a infinita diversidade das formas. Em virtude da homogeneidade do "material" tudo permanece ligado entre si, pelo que os sábios sempre nos ensinaram que o Todo está no Uno e o Uno no Todo (pars pro toto). Uma outra forma de exprimir esta ideia é através da palavra religio que significa literalmente "religação". A religião procura essa reunião com o princípio, com o ponto de partida, com o Todo e com o Uno, e encontra-o porque a pluralidade que nos separa da unidade não passa, definitivamente, de uma ilusão (Maya) nascida desse jogo da diferente ordenação das mesmas essências. Por essa razão, apenas conseguirá achar o caminho das origens aquele que não se deixe enganar pela ilusão das formas. Pluralidade e unidade: é neste campo de tensão que atua o fígado. Doenças Hepáticas 0 doente do fígado deverá colocar as seguintes perguntas: 1. Em que áreas perdi a faculdade de avaliar com precisão? 2. Em quais circunstâncias sou incapaz de distinguir entre o que posso assimilar e o que é "tóxico" para mim? 3. Em quais circunstâncias não fui capaz de me moderar, quando é que procurei voar demasiado alto (megalomania), quando é que me "passei"? 4. Preocupo-me suficientemente com o tema da minha "religião", da minha religação com a origem, ou será que a multiplicidade me impede de ver a unidade? Será que as questões filosóficas ocupam na minha vida uma parcela demasiada pequena? 5. Tenho falta de confiança? A Vesícula Biliar A vesícula armazena a bílis produzida pelo fígado. Acontece com frequência, porém, de as vias biliares ficarem obstruídas por cálculos, impedindo assim que a bílis chegue à digestão. A bílis simboliza agressividade, conforme nos revela a linguagem popular. Dizemos: "aquele cospe bílis por onde passa", e o "colérico" é assim chamado em virtude da agressividade biliosa que armazena. Chamamos a atenção para o fato de os cálculos biliares incidirem sobretudo nas mulheres, sendo os cálculos renais, correspondentes ao polo oposto, mais frequentes entre os homens. Mais ainda, as mulheres casadas e com filhos estão mais sujeitas a sofrerem de cálculos biliares do que as solteiras. Talvez, essas estatísticas facilitem a nossa interpretação. A energia deseja fluir e se o fluxo for obstruído, produz-se uma acumulação de energia. Se a acumulação se mantiver durante demasiado tempo, a energia tende a solidificar-se. As sedimentações e calcificações no corpo são sempre indicadores de energia coagulada. Os cálculos biliares são agressividade petrificada. Energia e agressividade são conceitos quase idênticos. Há que assinalar que não valorizamos negativamente palavras como "agressividade": a agressividade é-nos tão necessária como a bílis ou os dentes. Não é de estranhar, por isso, a grande incidência de cálculo biliar entre mães de família. Essas mulheres ressentem a família como uma estrutura que as impede de dar livre curso à sua energia e agressividade. As situações familiares são vividas sob uma coerção da qual a mulher não se atreve a libertar-se e as energias coagulam e petrificam. Através da cólica, a paciente é obrigada a fazer tudo aquilo que não se atreveu a fazer até então: através das convulsões e dos gritos liberta toda a energia reprimida. Doença é sinceridade! DOENÇAS DO FÍGADO - hepatite Plano corporal: fígado -> vida, avaliação, retroligação. Plano sintomático: conflito inconsciente com relação aos temas da cosmovisão, religio e avaliação: real descuido desses temas; luta agressiva e de forças pela medida certa; problemas de avaliação do que é útil e nocivo/tóxico; imoderação na recepção, desejos de expansão excedidos, ideais elevados demais, grandes fantasias; perda de energia e potência como corretivo para um excesso, melancolia e depressão. Tratamento: discussão consciente e aberta (ofensiva) sobre filosofia, espiritualidade e questionamento do sentido; revisão crítica do que se tem por medida certa; distinguir conscientemente o que lhe é salutar e o que é nocivo; reconhecer que a dose faz o veneno (Paracelso); expansão nos âmbitos da filosofia e da religião em vez de se expandir no fígado; ocupação espiritual com temas da cosmovisão em vez de ocupar-se com as bebidas espirituais (o "In vino veritas" não basta); exigir mais de si no plano anímico-espiritual e com isso aliviar o estômago e o fígado; limitar-se ao esgotamento das energias (sexuais e gerais); aprender limitação e restrição apropriadas; chegar à paz e encontrar a paz em si; dar à vida a orientação correta, encontrar um objetivo, uma orientação para o que lhe é próprio; pôr-se ofensivamente em combate pela justiça - diante de si mesmo e dos outros. Remissão: vida (fígado) na medida (bitola) certa; confiar. CIRROSE HEPÁTICA Plano corporal: fígado -> vida, avaliação, retroligação. Plano sintomático: ponto de vista enrijecido com relação à avaliação e ao questionamento do sentido da vida: fígado enrijecido por causa de um tecido hepático que é incapaz de executar suas funções no tecido conjuntivo que contém a cicatriz (doenças que estão em sua base: -> Alcoolismo, -> Icterícia (mal curada), -> Intoxicação); fígado não cumpre mais suas tarefas; seus temas ficam em segundo plano; firmar-se obstinadamente no conceito de ausência de sentido de vida; atrofia frequente como polo oposto à expansão e ao crescimento incipientes (num eventual estágio prévio a uma adiposidade do fígado); intoxicação: o estabelecimento em que se faz o serviço vem abaixo; a inferiorização da realização faz um paralelo com os progressos da cirrose; desvanece (desaparece) o prazer pela vida em todos os planos: inapetência até a apatia; a seiva vital escapa a partir daí (tendência para a hemorragia devido à falta de fatores coagulantes); vasos dilatados no esôfago (-> Varizes no Esôfago) e vasos dilatados no abdômen (chamados "cabeça-de-medusa") devido ao acúmulo, ou seja, ao refluxo na corrente de energia vital no fígado, isto é, diante dele; efeminação nos homens no sentido de castração, pois os hormônios ativos femininos não podem mais ser decompostos; desenvolvimento dos seios, de pelos pubianos femininos, involução dos testículos; -> Hidropisia estomacal: o anímico acumula-se no centro, não pode ser mantido em fluxo; estrelas do fígado: em vez de dirigir o seu olhar às estrelas no firmamento como expressão de uma ordem superior, na qual todos têm o seu lugar (que lhes é conveniente), são produzidas estrelas na pele (vasículos arrebentados). Tratamento: tornar-se consciente de seu próprio enrijecimento na questão do sentido da vida e da avaliação e mudar de direção interiormente, em vez de reconstruir o fígado; deixá-lo atrofiar de maneira desmedida; ocupar-se criticamente da toxicidade de sua própria condução da vida; renunciar a pretensões de realização, voltar-se para as questões essencialmente interiores; guardar distância do caráter devorante do mundo e aprender a modéstia; esgotar suas energias vitais com o essencial e abandoná-las conscientemente; em seu próprio mundo energético, confrontar-se com o acúmulo que delineia seu abdômen; satisfazer o polo feminino da própria vida, resolver-se com o masculino (a ilusão do macho em muitas doenças relacionadas ao alcoolismo); dar importância à alma (a água feminina no ventre) e acumulá-la (em seu centro); o jejum como processo de convalescença e para a recuperação da medida correta. Remissão: restabelecer-se no tempo certo e encontrar o essencial (o sentido da própria vida) pela diferenciação e pela avaliação; reconhecer na cirrose hepática (na Alemanha, a quarta causa mortis mais frequente) o preço do crescimento a qualquer custo. ICTERÍCIA Plano corporal: 1- vesícula biliar (agressividade, veneno e fel); 2- metabolismo sanguíneo (força vital), por exemplo, em recém-nascidos; 3- pulmão/hepatite (vida, avaliação, religio). Plano sintomático: 1- acúmulo de energia: escoamento no âmbito de uma energia biliar enigmática, decomposta e besuntada; acumulam-se veneno e bílis; 2- rápida desagregação dos portadores da energia vital, caso em que podem ser substituídos e decompostos; amarelo (cor da inveja) no rosto: expressão sem vida, sem vivacidade, sem energia e abatida; 3- carência de força de diferenciação: luta em torno do laboratório do corpo; a medida certa está em perigo: a toxicidade de todo o excesso. Tratamento: 1- aprender a controlar a energia enigmática do bilioso; 2- renovar conscientemente a base da energia vital; deixar a calma entrar e voltar-se para o interior. 3- ousar discussões agressivas sobre questões de visão de mundo; polemizar corajosamente em torno da filosofia de vida; ocupar-se de maneira crítica com a correta medida pessoal. Remissão: 1- tanto poder reter a força biliosa como poder deixá-la fluir em caso de necessidade (função da vesícula biliar); relação consciente com essa forma de energia; 2- reconhecer e aceitar a eterna mudança da força vital; 3- encontrar o sentido da própria vida e adotar sua medida pessoal. FÍGADO ADIPOSO Plano corporal: fígado -> vida, valoração, religio; tecido adiposo -> abundância, reserva. Plano sintomático: expansão devido às altas exigências na assimilação do excesso (o mais das vezes, bebidas espirituais); no começo um crescimento razoável, logo, porém, se tornando apenas uma massa gordurosa, havendo perda de função; avaliação errônea do que é útil ou nocivo/venenoso; imoderação na recepção: o armazenamento - na verdade uma tarefa secundária do fígado - aqui vem exceder a sua capacidade e todas as outras funções dominantes; o desejo de expansão é excedido, bem como os ideais elevados demais e as grandes fantasias; perda de energia e de potência como corretivo para algo excessivo: desleixo com assuntos ideológicos. Tratamento: expansão nos domínios da filosofia e da religião em vez de expandir-se no plano da vida; conflito espiritual com temas ideológicos e não com bebidas espirituais ("In vino veritas" não basta); exagerar no plano anímico-espiritual; encontrar planos resolvidos de armazenamento: até mesmo o saldo de conta bancária confere-lhe mais segurança do que o fígado; ser mais econômico no esgotamento das energias (também as sexuais). PLANTAS MEDICINAIS E ARTIGOS CIENTÍFICOS Pesquisa, de 2012, avalia a eficácia da planta uxi-amarelo - Endopleura uchi - na redução de gordura no fígado, no Amazonas, realizado pela estudante do 8º período do Curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e bolsista do Programa de Apoio à Iniciação Científica da Fundação Hospital Adriano Jorge (FHAJ), Natasha Valois Castelo. Clique aqui para ler mais. Em 2018, a Sociedade Brasileira de Clínica Médica publicou o efeito do chá de uxi - Endopleura uchi - na esteatose hepática. Clique aqui para ler mais. Estudo de 2015, sobre o Potencial Hepatoprotetor das plantas medicinais listadas na RENISUS - Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS: revisão sistemática, especialmente sobre Curcuma longa - Açafrão; Cynara scolymus - Alcachofra e Glycine max - Soja. Clique aqui para ler mais. FONTES: LIVRO: A Doença Como Caminho: Uma Visão Nova da Cura Como Ponto de Mutação em que Um Mal se Deixa Transformar em Bem. Rüdiger Dahlke, Thorwald Dethlefsen. São Paulo, Cultrix, 1992. LIVRO: A Doença Como Símbolo: Pequena Enciclopédia de Psicossomática. Sintomas, significados, tratamentos e remissão. Rüdiger Dahlke. São Paulo, Cultrix, 2005. http://www.fhaj.am.gov.br/pesquisa-avalia-eficacia-de-planta-na-reducao-de-gordura-no-figado-no-am/ https://docs.bvsalud.org/biblioref/2018/06/884989/dezesseis_vinte_cinco.pdf https://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_ciencias_saude/article/view/3739/pdf

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