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- Suicídio entre indivíduos com TEA - Transtorno do Espectro do Autismo na Dinamarca
(Tradução Livre) OBJETIVOS DO ESTUDO - Analisar se as pessoas com TEA têm taxas mais altas de tentativa de suicídio e suicídio de fato em comparação com pessoas fora do espectro, usando dados de registro nacional dinamarquês; - Identificar potenciais fatores de risco para tentativa de suicídio e suicídio consumado entre aqueles com TEA; - Examinar comorbidades com outros transtornos. PROJETO, LOCAL E PARTICIPANTES Neste estudo de coorte, registram-se os dados de 1º de janeiro de 1995 a 31 de dezembro de 2016. Foram reunidos 6.559.266 indivíduos na Dinamarca com 10 anos de idade ou mais. A análise estatística foi realizada de 20 de novembro de 2018 a 21 de novembro de 2020. PRINCIPAIS MEDIDAS Taxas de tentativa de suicídio e suicídio consumado entre pessoas com TEA foram comparadas com as taxas de pessoas fora do espectro, usando Modelo de Regressão de Poisson para calcular as taxas de incidência ajustadas por sexo, idade e período de tempo. RESULTADOS A população total do estudo foi de 6.559.266 indivíduos, sendo que 35.020 indivíduos receberam o diagnóstico de TEA, sendo 25.718 homens (73,4%) com idade média [DP] no momento do diagnóstico de 13,4 [9,3] anos de idade. Pessoas com TEA tiveram uma taxa 3 vezes maior de tentativa de suicídio (Razão da Taxa de Incidência ajustada [aIRR], 3,19; IC de 95%, 2,93-3,46) e suicídio de fato (aIRR, 3,75; IC de 95%, 2,85-4,92) do que aqueles sem TEA. Para indivíduos com TEA, o aIRR para tentativa de suicídio entre indivíduos do sexo feminino foi 4,41 vezes (IC 95%, 3,74-5,19) maior em comparação com indivíduos do sexo masculino; para indivíduos sem TEA, a aIRR para indivíduos do sexo feminino foi de 1,41 vezes (IC de 95%, 1,39-1,43) maior em comparação com indivíduos do sexo masculino. Taxas mais altas de tentativas de suicídio foram observadas em todos grupos de idade para aqueles com TEA. TEA E COMORBIDADES Um total de 25.401 indivíduos (72,5%), dos 35.020 com TEA, receberam um diagnóstico comórbido de outros transtornos psiquiátricos. Pessoas com diagnóstico único de TEA tiveram apenas uma taxa elevada de 1,33 vezes (aIRR de 1,33, IC de 95%, 0,99-1,78) para tentativa de suicídio, enquanto aqueles com TEA e outros transtornos comórbidos tiveram uma taxa 9 vezes maior (aIRR de 9,27, IC de 95%, 8,51-10,10) para tentativa de suicídio em comparação com os que não tinham outros transtornos psiquiátricos. No estudo dos indivíduos com TEA, 92,3% dos que tentaram suicídio e 90,6% dos que morreram por suicídio tinham pelo menos uma outra comorbidade. A comorbidade psiquiátrica mais prevalente entre aqueles com TEA foi TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, com 11.456 sujeitos (32,7%), seguido pelos transtornos de ansiedade, dissociativo, relacionado ao estresse e somatoformes, com 9.646 (27,5%) e transtornos afetivos, com 5.770 (16,5%). TENTATIVA DE SUICÍDIO com TEA e COMORBIDADES Embora taxas mais altas de tentativas de suicídio tenham sido observadas para a maioria dos examinados com transtornos psiquiátricos comórbidos, nenhuma diferença foi observada para TDAH e deficiência intelectual. A Razão das Taxas de Incidência ajustadas foram mais altas para comorbidades relativamente raras, incluindo TEPT - Transtorno de Estresse Pós-Traumático, Transtornos por Uso de Substâncias e Transtorno de Personalidade Limítrofe. MORTES POR SUICÍDIO com TEA e COMORBIDADES No que diz respeito às mortes por suicídio de indivíduos com TEA e pelo menos uma comorbidade psiquiátrica (90,6%), a prevalência foi de transtornos afetivos, com 27 sujeitos (50,9%), seguido por transtornos de ansiedade, dissociativos, relacionados ao estresse e somatoformes, com 25 (47,2%) e transtornos do espectro da esquizofrenia, com 24 (45,3%). A Razão da Taxa de Incidência para suicídio foi mais alta para a comorbidade com depressão e transtornos por uso de substâncias. FATORES DE PROTEÇÃO| FATORES DE RISCO Fatores que foram identificados como protetores contra a tentativa de suicídio na população em geral, como idade avançada e maior nível educacional, não foram encontrados entre indivíduos com TEA e alguns fatores, como ser casado ou coabitar e trabalhar, foram identificados como menos protetores entre os sujeitos com TEA. A maioria dos fatores associados ao suicídio na população em geral não foram associados ao suicídio entre aqueles com TEA (por exemplo, sexo masculino ou não ser casado ou coabitar). Comorbidade psiquiátrica foi identificada como um fator de risco importante, com mais de 90% das pessoas com TEA que tentaram ou morreram por suicídio (com ansiedade e transtornos afetivos sendo os mais comuns). Esses fatores são cruciais para avaliar o risco de suicídio por profissionais que trabalham com pessoas com TEA. Uma possível causa associada entre o TEA e o suicídio, particularmente em adultos, pode ser uma combinação de isolamento social e acesso precário aos cuidados de saúde. Embora seja possível que a dificuldade/incapacidade de estabelecer e manter relações sociais e íntimas esteja associada a tentativas de suicídio entre mulheres adultas com TEA, elas também podem receber um diagnóstico e tratamento tardio no curso do transtorno, sendo capaz de camuflar seus traços autistas. Os resultados apontam implicações importantes para os profissionais da saúde que trabalham com pessoas com TEA e aqueles que trabalham com pacientes suicidas, destacando a necessidade de uma customização na prevenção ao suicídio. Uma intervenção precoce para aperfeiçoar as habilidades sociais em crianças com TEA provavelmente diminuirá os riscos de comportamento suicida ao longo da vida. No entanto, é essencial expandir o apoio e os serviços para adultos com TEA, especialmente aqueles com comorbidade psiquiátrica, considerando o maior risco de tentativa de suicídio durante a vida. As altas taxas de tentativa de suicídio e suicídio de fato entre indivíduos do sexo feminino com TEA sugerem a necessidade de melhorias nas ferramentas de diagnóstico para evitar atrasos na intervenção. Novos estudos são necessários para identificar as melhores ferramentas para medir o suicídio entre os sujeitos com TEA. PONTOS FORTES - Registro longitudinal em toda a Dinamarca, com poucos dados ausentes. - As análises foram ajustadas para efeitos de período, evitando um aumento no número de casos ao longo do tempo, o que pode estar associado a diferentes critérios diagnósticos. - Critério diagnóstico de TEA foi determinado por um psiquiatra infantil em hospital psiquiátrico, utilizando ferramentas diagnósticas padronizadas. - As análises foram tratadas com relação ao sexo e à idade. LIMITAÇÕES Diagnóstico de autismo infantil no hospital psiquiátrico foi considerado válido, entretanto há menos informações sobre TEA nos registros, com possível subnotificações, provavelmente há a perda de alguns casos (por exemplo, se algumas pessoas receberam um diagnóstico apenas na atenção primária). Tentativas de suicídio estão subestimadas nos registros hospitalares dinamarqueses; portanto, as estimativas podem ser consideradas conservadoras. CONCLUSÕES E RELEVÂNCIA Este estudo de coorte retrospectivo de âmbito nacional dinamarquês encontrou uma taxa mais elevada de tentativa de suicídio e suicídio consumado entre pessoas com TEA. A comorbidade psiquiátrica foi considerada o principal fator de risco, com mais de 90% daqueles com TEA que tentaram ou morreram por suicídio tendo outra condição comórbida. Vários fatores de risco são diferentes dos fatores de risco na população geral, o que sugere a necessidade de estratégias personalizadas para a prevenção de suicídio. FONTE: https://jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2774853
- Elon Musk: o que é a Síndrome de Asperger, que o CEO da Tesla revelou ter
O empresário Elon Musk revelou que tem a síndrome de Asperger durante o programa de TV dos Estados Unidos 'Saturday Night Live'. Aos 49 anos, o CEO da Tesla disse aos telespectadores que foi "a primeira pessoa com Asperger" a apresentar o programa, e foi aplaudido pelo público. Pessoas com síndrome de Asperger interpretam o ambiente ao seu redor de forma diferente para outras pessoas. Elon Musk foi o apresentador convidado do show de esquetes — uma posição cobiçada, que já foi preenchida por uma série de celebridades desde o início do programa na década de 1970, como Adele, Chris Rock, Ringo Starr e Will Ferrell. "Eu nem sempre tenho muita entonação ou variação em como eu falo... o que me disseram que é bom para fazer comédia", brincou Musk, em sua fala de abertura. "Na verdade, estou fazendo história esta noite como a primeira pessoa com Asperger a apresentar o Saturday Night Live." A fala gerou uma onda de palmas da plateia do estúdio, mas o conteúdo dela foi questionado nas redes sociais. Alguns apontaram que o comediante Dan Aykroyd, que falou publicamente sobre sua experiência com síndrome de Tourette e Asperger, já havia apresentado o programa. Em tom de piada, acrescentou: "Então não farei muito contato visual nesta noite com o elenco, mas não se preocupem, eu estou indo muito bem em emular o comportamento humano." Musk, que tem mais de 53 milhões de seguidores no Twitter, também fez piada sobre o uso das redes sociais. Ele já enfrentou críticas e até ameaças legais por causa de seus tuítes no passado. Nas redes sociais, Musk já recebeu críticas por alguns de seus comentários, como quando insultou um mergulhador que ajudou no resgate de um grupo de crianças presas em uma caverna na Tailândia. Em 2020, ele passou a usar as redes sociais para questionar a gravidade da pandemia de coronavírus e combater as medidas de distanciamento social impostas pelas autoridades da Califórnia, onde está a sede de sua fábrica de carros. "Olha, eu sei que às vezes digo ou posto coisas estranhas, mas é assim que meu cérebro funciona", disse ele. "Para qualquer um que tenha ficado ofendido, só quero dizer que reinventei os carros elétricos e estou mandando pessoas para Marte em um foguete. Você achou que eu também seria um cara normal e tranquilo?" Ele brincou que precisa reafirmar as coisas que fala por ter sempre o mesmo tom de voz e que ficou conhecido por ter fumado maconha em um podcast. “Muitas vezes as pessoas são reduzidas pela coisa mais boba que fizeram na vida. Como na vez em que fumei maconha no podcast do Joe Rogan. Agora, o tempo todo, o que eu escuto é que Elon Musk é o cara que só fuma maconha. Como se eu fosse de podcast em podcast acender um baseado. Isso só aconteceu uma vez!!”, brincou Musk. A mãe do empresário sul-africano, Maye Musk, também aparece no programa, questionando sobre seu presente de Dia das Mães. "Só espero que não seja Dogecoin", diz Maye. O CEO da Tesla responde rindo que "é sim" - a criptomoeda já caiu 24% após a declaração. Mais de 37 milhões de pessoas já foram diagnosticadas com Asperger no mundo todo. Bill Gates, Steven Spielberg e Tim Burton são alguns dos portadores famosos. Os cientistas acreditam que Albert Einstein, Isaac Newton e o pintor Vincent Van Gogh sofriam da condição. Outro caso recente que chamou atenção foi o da jovem ativista climática sueca Greta Thunberg, diagnosticada com a síndrome de Asperger e que demonstrou grande habilidade em galvanizar o público em torno de sua causa. Ela foi nomeada para o Prêmio Nobel da Paz de 2020. O que é a síndrome de Asperger? A síndrome de Asperger é uma condição vitalícia que afeta as pessoas de muitas maneiras diferentes Alguns optam por continuar usando o termo síndrome de Asperger, enquanto outros preferem se referir a si mesmos como autistas ou no espectro autista Pessoas com a síndrome podem ter dificuldade em interpretar a linguagem verbal e não verbal e podem precisar de mais tempo para processar informações Também podem ter problemas para expressar seus sentimentos de forma convencional. Mas podem ser mais empáticos ou emocionalmente conscientes do que pessoas não autistas Muitas pessoas com síndrome de Asperger têm interesses intensos e altamente focados — alguns os direcionam para uma carreira de sucesso Fonte: Autism.org.uk Transtorno do Espectro do Autismo A Síndrome de Asperger faz parte do chamado Transtorno do Espectro do Autismo - TEA. Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, "pessoas com Asperger geralmente processam detalhes adicionais ao seu redor e possuem grandes habilidades em observação e ordem detalhadas, processando muito mais os sentidos, fazendo com que cores, sons, cheiros e sentimentos pareçam mais brilhantes, mais altos e mais fortes". Além da Síndrome de Asperger, o Transtorno do Espectro do Autismo - TEA - reúne desordens do desenvolvimento neurológico presentes desde o nascimento ou começo da infância, como Autismo Infantil, Autismo de Kanner, Autismo de Alto Funcionamento, Autismo Atípico, Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra especificação e Transtorno Desintegrativo da Infância. E quais são os sintomas de uma criança no espectro autista? O Ministério da Saúde aponta que, geralmente, a criança apresenta os seguintes sintomas: dificuldade para interagir socialmente, como manter o contato visual, expressão facial, gestos, expressar as próprias emoções e fazer amigos dificuldade na comunicação, optando pelo uso repetitivo da linguagem e bloqueios para começar e manter um diálogo alterações comportamentais, como manias, apego excessivo a rotinas, ações repetitivas, interesse intenso em coisas específicas, dificuldade de imaginação e sensibilidade sensorial O ministério aponta, ainda, que "a diferença entre os transtornos é o grau, dentro do espectro autista, já que é possível ter pessoas com TEA com apenas pequenas dificuldades de socialização até indivíduos com afastamento social, deficiência intelectual e dependência de cuidados ao longo da vida". Nome do filho: X Æ A-12 Musk Durante o programa, o bilionário também brincou sobre o nome incomum do seu último filho — ele e a cantora canadense Grimes anunciaram o nascimento do primeiro filho do casal, X Æ A-12 Musk, no ano passado e foi alvo de memes e até da justiça da California quando nasceu. "A pronúncia é como um gato correndo pelo teclado", disse Musk. Criptomoeda Dogecoin Ainda no programa de TV, o CEO da SpaceX falou sobre a criptomoeda Dogecoin. A moeda foi criada em 2013 por dois profissionais de software e, no início deste ano, seu valor aumentou 50% depois que Musk a apelidou de "a criptomoeda do povo". Ela usa um cachorro Shiba Inu como mascote e é baseada em um meme que caracteriza o animal. Musk descreveu a moeda como "um veículo imparável que vai dominar o mundo", mas depois disse que uma "confusão" provocou uma queda quase imediata no valor. Sem nenhum valor intrínseco como ouro ou propriedade, e sem capacidade de gerar renda, as criptomoedas são extremamente voláteis e podem perder valor tão rápido quanto sobem. Isso as torna difíceis de avaliar e torna seus preços suscetíveis a falas de apoiadores como Musk. A NBC, responsável pela transmissão do programa, disse que o episódio foi transmitido ao vivo no YouTube para mais de 100 países. FONTE: https://www.bbc.com/portuguese/geral-57056509 https://exame.com/ciencia/o-que-e-a-sindrome-de-asperger-que-afeta-elon-musk/ https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/05/09/elon-musk-revela-que-tem-sindrome-de-asperger-entenda-o-que-e https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2021/05/09/elon-musk-participa-do-saturday-night-live-e-diz-que-tem-sindrome-de-asperger.ghtml https://link.estadao.com.br/noticias/cultura-digital,elon-musk-revela-sindrome-de-asperger-no-saturday-night-live-veja-melhores-momentos-da-participacao,70003710083
- Declaração de conferência de consenso da AACN sobre a classificação uniforme de escore de teste
(Tradução livre, envie-me um e-mail caso tenha sugestões de melhorias) Última edição em 01mar2021 Objetivos: As classificações descritivas dos escores dos testes de desempenho são um componente crítico na comunicação dos resultados das avaliações neuropsicológicas e psicológicas. No entanto, não existe um sistema mundialmente aceito para atribuir descritores qualitativos a pontuações em faixas específicas. Além disso, a definição e o uso do termo "prejuízo" carecem de especificidade e consenso. Consequentemente, as classificações de pontuação de teste e a definição de prejuízo são inconsistentemente aplicados pelos clínicos, criando confusão entre os consumidores de serviços neuropsicológicos, incluindo os solicitantes, os estagiários, os colegas e o sistema judiciário. Para minimizar essa confusão, especialistas em avaliação neuropsicológica e psicológica clínica e forense se reuniram em uma conferência de consenso na Reunião Anual da Academia Americana de Neuropsicologia Clínica - AACN - American Academy of Clinical Neuropsychology - de 2018. Os objetivos da conferência de consenso foram recomendar (1) um sistema de classificações qualitativas para descrever resultados de testes baseados em desempenho com distribuições normais e não normais e (2) uma definição de prejuízo e sua utilização nas decisões de casos individuais. Resultados: As metas da conferência de consenso foram cumpridas, resultando em recomendações específicas para o emprego de classificações uniformes para os testes de desempenho e para a definição de prejuízo, que estão descritas neste artigo. Além da declaração de consenso, está incluída uma descrição do processo de conferência e das justificativas para essas recomendações. Conclusões/Importância: Esta conferência de consenso é a primeira tentativa formal da comunidade neuropsicológica profissional de fazer recomendações para as classificações uniformes de pontuação de teste de desempenho e avançar em uma definição consistente de prejuízo. O uso de descritores e termos uniformes reduzirá a confusão e aumentará a compreensão dos relatórios pelos nossos clientes, bem como por nossos estagiários e colegas. Palavras-chave: prejuízo; teste de desempenho; descritores qualitativos; classificação dos escores Declaração do problema O método mais comum de descrever o desempenho do escore de teste em relatórios neuropsicológicos clínicos e forenses é pelo uso de descritores qualitativos (Guilmette, Hagan, & Giuliano, 2008), como classificações médias, acima da média, superiores e deficitárias, que são geralmente consideradas como mais significativas e compreensíveis na comunicação dos resultados do que as pontuações brutas, os escores padrão ou as classificações de percentil. Considerando que vários sistemas de classificações foram propostos (por exemplo: Groth-Marnat, 2009; Heaton, Grant, & Matthews, 1991; Schoenberg & Rum, 2017; Schretlen, Testa, & Pearlson, 2010; Wechsler, 2009, 2014), não existe consenso ou um sistema mundialmente aceito para atribuir descritores ou classificações qualitativas para testes baseados em desempenho. Vinte e cinco anos atrás, em seu discurso presidencial à Divisão 22 (Psicologia da Reabilitação) da Associação Americana de Psicologia - APA - American Psychological Association, Bruce Caplan identificou o problema afirmando que "Termos como 'moderadamente prejudicado' e 'dentro dos limites normais' frequentemente carecem de referências quantitativas e, portanto, estão sujeitos a interpretações diferentes entre indivíduos e contextos" (1995, p. 236). A preocupação de Caplan surgiu de um estudo realizado por ele em que solicitou aos participantes de uma "grande organização neuropsicológica" que atribuíssem uma classificação descritiva a cada uma das 22 possíveis avaliações de quatro pacientes hipotéticos. Ele encontrou uma considerável inconsistência entre as taxas. Caplan ainda opinou que "Para aumentar nossa credibilidade, especialmente em contextos forenses onde diferentes clínicos podem fornecer diferentes interpretações de pontuações para testes idênticos, precisamos de pesquisa e discussão para haver algum consenso sobre no que implicam várias classificações descritivas" (p. 239). Da mesma forma, Hebben e Milberg (2002) em suas revisões da interpretação do teste neuropsicológico também concluíram: "Classificações como 'médio' ou 'abaixo da média' não são precisas e podem se referir a diferentes faixas de pontuação, dependendo do clínico." Em uma pesquisa com neuropsicólogos certificados pelo conselho, Guilmette et al. (2008) pediram aos entrevistados que atribuíssem uma classificação descritiva a 12 escores padrão diferentes, de 50 a 130, provenientes de um teste de memória de um breve caso. O número médio de diferentes classificações descritivas atribuídas pelos 110 participantes da pesquisa a cada uma das 12 pontuações padrão foi de 14, com intervalo de 9 a 23. Este resultado forneceu novamente evidências empíricas da variabilidade significativa e da falta de uniformidade na atribuição de descritores qualitativos a pontuações padrão específicas. É importante ressaltar que Guilmette e seus colegas também encontraram variância de atribuição de classificações relacionada a diferentes métodos ou padrões interpretativos. Alguns entrevistados se basearam em descritores comparativos normativos ou interindividuais (por exemplo: superiores, médios, abaixo/acima da média, inferiores), em prejuízos ou em comparações intraindividuais que descrevem normalidade ou anormalidade baseadas em algum histórico pré-mórbido estimado (por exemplo: normal, sem prejuízo, comprometido), ou em comparações intraindividuais sobre a expectativa de um escore baseado em outros fatores como o QI que foram incluídos no contexto do caso (por exemplo: abaixo/acima das expectativas). Dada a falta de confiabilidade na aplicação de descritores de teste de desempenho, Guilmette et al. sugeriram que "a psicologia clínica e neuropsicológica profissional se esforça para articular recomendações específicas ou adotar padrões explícitos que estabeleçam terminologia bem definida e atribuição mais consistente de descrições qualitativas por faixas de pontuação de teste" (2008, p. 136). Somando-se à confusão para os clínicos ao decidir quais classificações de pontuação de teste aplicar, os editores de testes são inconsistentes em suas recomendações para as classificações das pontuações em seus exames. Como estagiários e clínicos praticantes estão bem cientes, diferentes manuais de teste podem recomendar diferentes classificações qualitativas para as mesmas pontuações padrão. Por exemplo, os manuais de inteligência e teste de memória do Wechsler listam descritores qualitativos para suas pontuações padrão e a maioria dos profissionais aplica esses descritores ao descrever o desempenho nessas escalas. No entanto, o descritor qualitativo do sistema Wechsler para uma pontuação padronizada específica nem sempre é o mesmo descritor recomendado para a mesma pontuação em um teste diferente. Considere um escore padrão de 75, que seria definido como "limítrofe" pelos testes para adultos de Wechsler; "muito baixo" pelo Wide Range Achievement Test-5 (Wilkinson & Robertson, 2007) e pela Escala de Inteligência Wechsler para Crianças-5 (Wechsler, 2014); "muito abaixo da média" pelo Procedimento de Avaliação Neuropsicológica De Kaufman (Kaufman & Kaufman, 1994); "baixo" pelo Woodcock-Johnson IV (Schrank, McGrew, & Mather, 2014); "fraco" pelo Teste de Inteligência Não Verbal-3 (Brown, Sherbenou, & Johnsen, 1997), e "abaixo da média para levemente prejudicado" pelo Sistema de Pontuação Qualitativa de Boston para a Figura Complexa de Rey-Osterrieth (Stern et al., 1999). Consequentemente, o clínico está propenso a atribuir classificações diferentes a mesma pontuação padrão de diferentes testes para aderir às recomendações do editor dos testes. Embora os desvios das recomendações dos manuais de diferentes testes possam ser bastante justificáveis, tais desvios podem tornar as interpretações clínicas vulneráveis a ataques em contextos litigiosos. Essas inconsistências em um relatório podem ser confusas tanto para os pacientes quanto para os solicitantes, bem como para os estagiários que tentam entender as complexidades da interpretação do escore do teste. Da mesma forma, a identificação de uma faixa de escore de teste "prejudicada" tem sido tratada de forma inconsistente por pesquisadores e clínicos, com pontos de cortes variadamente aplicados a escores a partir de um desvio padrão; 1,5 desvios padrão; ou dois desvios padrão abaixo das expectativas normativas (Beauchamp et al., 2015; Heaton et al., 1991; Ingraham & Aiken, 1996; Meyer, Boscardin, Kwasa, & Price, 2013; Schoenberg et al., 2018). Na pesquisa de Guilmette et al. (2008) observada anteriormente, o termo "prejudicado" foi utilizado por alguns entrevistados como uma classificação descritiva a partir de uma pontuação padrão de até 95. Não surpreendentemente, o termo comprometimento (juntamente com outros termos como deficitário, anormal e deficiente) foi aplicado com frequência crescente à medida que os escores padrão diminuíam. Ao classificar os escores como prejudicados, também ocorreu discordância em relação às classificações que identificam grau de desempenho anormal, às vezes começando com um termo que transmite incerteza (por exemplo: limítrofe) antes de passar a utilizar classificações que transmitem maior certeza (por exemplo: leve, moderada e grave) para escores que presumivelmente se desviam em maior extensão das expectativas normativas. No entanto, esses modificadores também não têm qualquer definição de consenso. Em cada um desses casos, o uso de termos destinados a transmitir anormalidade ou "prejuízo" tem sido baseado puramente em um escore de teste, desviando-se das expectativas normativas. Esse hábito na prática pode ser considerado como "limite de teste", uma abordagem concreta inadequada que considera cada escore de teste específico como tendo significado clínico inerente, sem considerar o perfil geral do resultado do teste e o contexto de vida do examinando em particular. Tal abordagem não é vista como um método aceitável de chegar a conclusões clínicas. A falta de consistência na aplicação de classificações de pontuação de teste e de uma definição do termo “prejuízo/comprometimento” prejudica a prática profissional da neuropsicologia clínica. Apesar de ser uma questão de décadas, ainda não foi adequadamente abordada por nossas organizações profissionais. Para isso, a Academia Americana de Neuropsicologia Clínica (AACN) estabeleceu uma conferência de consenso para propor um conjunto consistente de descritores qualitativos e definir o “prejuízo” com o objetivo de orientar os clínicos e facilitar o aumento da consistência na aplicação desses termos. Desenvolvimento da conferência de consenso A criação desta conferência de consenso começou em fevereiro de 2014, quando o Conselho Administrativo da AACN (Board of Directors – BOD) aprovou uma proposta iniciada por Manfred Greiffenstein, com a ajuda de Thomas Guilmette, de formação de um grupo de trabalho para criar um documento de orientação sobre a classificação uniforme de pontuações de teste. O Conselho delegou a Greiffenstein e Guilmette a seleção de membros para o grupo de trabalho; o desenvolvimento de questões-chave da pesquisa; a organização, a análise e a coleta de dados da pesquisa entre os membros e a redação de um documento de orientação. Os copresidentes do grupo de trabalho pediram a 13 experientes neuropsicólogos/psicólogos que representaram pesquisadores, clínicos e formadores de opinião a participarem dessa empreitada com a reserva de que cada membro poderia concordar que (a) as diretrizes de classificação eram necessárias, (b) o nível de desempenho e interpretação de pontuação precisavam ser distinguidos, e, em última análise, que (c) a interpretação de pontuação deve ser sempre contextualizada. Os membros originais deste grupo de trabalho eram: Corwin Boake, Bruce Caplan, Robert Denney, Jacobus Donders, Anthony Giuliano, Leigh Hagan, Bernice Marcopulos, Ann Marcotte, Scott Millis, Neil Pliskin, Kirk Stucky, Joseph Snow e Keith Owen Yeates. Uma série de pesquisas on-line e sugestões foram distribuídas entre os membros do grupo de trabalho com posterior comunicação e discussão, ocorrendo por e-mail. O objetivo não era um consenso, mas sim encontrar uma opinião majoritária sobre descritores para escores de teste com distribuições normais e distribuições não normais, bem como uma definição de prejuízo. O progresso foi lento e incompleto, mas um rascunho preliminar do documento de orientação foi escrito por Greiffenstein e Guilmette e encaminhado ao Comitê de Publicações da AACN para revisão em junho de 2016. No entanto, os trabalhos no projeto cessaram após a morte de Manfred Greiffenstein em agosto de 2016. Guilmette consultou o presidente do Comitê de Publicações da AACN, Jerry Sweet, que sugeriu que o conteúdo do rascunho do documento de orientação provavelmente não seria instrutivo para os clínicos, e particularmente dada a importância desta questão, uma conferência de consenso seria o meio mais apropriado para avançar no uso de classificações uniformes de testes de desempenho. Guilmette e Sweet abordaram o Conselho Administrativo da AACN com uma proposta de conferência de consenso formatada após a conferência de consenso da AACN sobre a avaliação neuropsicológica, viés de resposta e simulação de doença (Heilbronner et al., 2009). A AACN BOD aprovou a proposta em sua reunião anual em junho de 2017. A conferência de consenso foi planejada para ocorrer durante um dia inteiro na reunião anual de 2018 em San Diego. A AACN BOD também aprovou o convite a aproximadamente 25 participantes, com relevante expertise e experiência, na conferência e esses seriam convidados pelos copresidentes, Guilmette e Sweet, para propor classificações para as pontuações normalmente distribuídas, as pontuações não normalmente distribuídas, e para definir o prejuízo, assim como o seu uso e aplicação. Todos os potenciais membros da conferência também precisariam concordar com as três condições estabelecidas por Greiffenstein e Guilmette para a sua proposta de documento de orientação acima mencionado. Após a conferência de consenso, uma apresentação de 90 minutos ou "fórum público" seria realizada e aberta a todos os participantes da conferência da AACN. O fórum público incluiria a apresentação das recomendações da conferência de consenso e obteria um parecer crítico dos participantes. Uma declaração de conferência de consenso, resumindo os resultados e recomendações, seria então submetida para publicação na revista oficial da AACN, The Clinical Neuropsychologist (O Neuropsicólogo Clínico). Os organizadores da conferência identificaram 28 especialistas do Canadá e dos Estados Unidos que representaram a diversidade entre gênero, foco adulto/criança, cultura e ambiente de trabalho para participar da conferência. Cinco especialistas interessados em participar desse processo não estavam disponíveis para participar da conferência, e como alternativa concordaram em fornecer revisões da declaração de consenso antes da publicação, embora apenas dois pudessem revisar o manuscrito. Os demais membros da conferência foram divididos, considerando as preferências e a diversidade, em três grupos de trabalho que buscariam consenso sobre as classificações de escore de teste para os normalmente distribuídos; os não normalmente distribuídos; e a definição de prejuízo, assim como a sua utilização. Copresidentes do grupo de trabalho foram identificados, refletindo novamente sobre o equilíbrio entre os gêneros e os focos adultos versus crianças. As leituras e referências pré-conferência foram selecionadas pelos organizadores e, através de sugestões, pelos próprios membros da conferência, e foram distribuídas a todos os participantes. Os materiais de recursos incluíam artigos científicos ou acadêmicos e capítulos de livros (listados no apêndice abaixo) bem como outras propostas informais de classificação de escore de teste, incluindo as do grupo de trabalho inicial de classificação Greiffenstein e Guilmette, e uma breve versão da Classificação Internacional de Funcionamento da Organização Mundial da Saúde. Processo de criação de consenso e a redação da declaração de consenso Os participantes da conferência se reuniram em 20 de junho de 2018, um dia antes da Reunião Anual da Academia Americana de Neuropsicologia Clínica em San Diego. Dos 25 membros que estavam agendados para se reunir, três, não puderam comparecer, mas concordaram em rever a declaração de consenso antes da publicação, resultando em um total de 22 participantes de 17 estados dos EUA, Distrito de Columbia e Canadá. Após uma breve visão geral da história e dos objetivos da conferência, os participantes se reuniram em seus grupos de trabalho e iniciaram a discussão. O restante do dia alternou entre os descansos do grupo de trabalho e a discussão geral do grupo na tentativa de chegar a um consenso nos três domínios. Todo o grupo chegou a um consenso sobre uma série de pontos específicos nas três áreas de trabalho. Os copresidentes resumiram suas descobertas e recomendações em uma apresentação aos participantes da conferência da AACN durante um fórum público de 90 minutos em 22 de junho de 2018, durante o qual foram solicitados feedbacks e críticas. Para incentivar a transparência e a abertura às opiniões dos membros da AACN em geral, a apresentação do PowerPoint da reunião de 22 de junho de 2018 foi distribuída através do listserv da AACN, solicitando comentários, recomendações, críticas e perguntas de 11 de julho a 28 de julho de 2018. Os comentários e análises recebidos da listserv resultaram em discussão e consideração em e-mail adicional entre os 22 participantes da conferência de consenso. Essencialmente, todas as recomendações iniciais de consenso que saíram da conferência de 20 de junho de 2018 foram reconsideradas. A importante discussão on-line e a consideração de múltiplas alternativas levaram ao reconhecimento de que os pontos iniciais do consenso, já alcançados durante a reunião de junho, haviam evoluído, levando à necessidade de restabelecer o consenso. Copresidentes do grupo de trabalho e copresidentes da conferência trabalharam com cada grupo, com pontos de consenso revisados para consideração final. Finalmente, foi obtido um consenso para os três tópicos: classificações de escore para testes com distribuições não normais em 13 de dezembro de 2018, para definição e aplicação de prejuízos em 1º de fevereiro de 2019, e para classificações de escore para testes com distribuições normais em 2 de maio de 2019. Um resumo do processo de consenso e suas recomendações foi escrito e revisado por todos os 22 participantes da conferência e também foi revisado por especialistas externos, resultando nesta declaração de conferência de consenso. A declaração de consenso reflete a expertise combinada de 27 neuropsicólogos/psicólogos, que consideraram literatura científica, perspectivas históricas e fatores clínicos, bem como extensa contribuição de muitos membros da AACN. Esta contribuição e revisão também incluiu o Comitê de Publicação da AACN e a aprovação final pelo Conselho Administrativo da AACN. As recomendações contidas nesta declaração não devem ser consideradas normas de prática obrigatórias. Em vez disso, refletem orientação consensual de especialistas ou "melhores práticas" que os clínicos podem considerar incorporar em seu trabalho para obter maior uniformidade e consistência na aplicação de classificações de escore de teste ou descritores e o uso do termo prejuízo. Para ser muito claro, esta afirmação não se destina a instruir ou limitar os clínicos na sua interpretação dos dados de testes neuropsicológicos. A análise integrativa de um perfil de teste neuropsicológico baseia-se unicamente no julgamento individual de clínicos e sua apreciação e expertise na sintetização de informações de múltiplas fontes médicas, históricas, culturais, comportamentais, dentre outras para chegar a formulações clínicas, impressões e diagnósticos. Recomendações do consenso para classificações de testes com distribuições normais O grupo de trabalho de distribuição normal, inicialmente se baseou nos seguintes conceitos para orientar suas deliberações: · A interpretação dos escores é diferente da classificação dos escores. · Os escores não podem ser "prejudicados", apenas uma função pode ser prejudicada. · A simplicidade dos descritores pode melhorar a comunicação. · Os descritores devem se basear na frequência ou na semelhança do desempenho, não na patologia. Ao considerar a melhor maneira de fundamentar as classificações para os escores, modelos de 5 categorias e de 7 categorias foram revisados pelos seus valores relativos. O modelo de 5 categorias teria classificações atribuídas a pontuações em cada desvio padrão. Por exemplo, ±1 desvio padrão seria englobado sob uma classificação, média, com outras classificações atribuídas para cada desvio padrão adicional acima e abaixo da média até três desvios padrão, produzindo cinco classificações de escore de teste no geral. As principais vantagens dessa abordagem seriam que as classificações mapeiam facilmente os desvios padrão e há simplicidade em ter relativamente poucas classificações a considerar. No entanto, esse modelo diverge significativamente das práticas clínicas comuns, tornando menos provável a adoção por profissionais. Além disso, a faixa média se estenderia por dois desvios padrão que abrangem cerca de 68% da distribuição. Em contrapartida, quando os escores padrão, entre 90 e 109, são categorizados como médios, cerca de 50% da distribuição se enquadra nessa faixa, o que é consistente com a maioria dos sistemas descritivos (Groth-Marnat, 2009; Schoenberg & Rum, 2017; Schretlen et al., 2010; Wechsler, 2009). Sendo assim, foi adotado o modelo de 7 categorias derivado do sistema Wechsler. Este modelo tem mais relevância clínica, com melhores gradações que não estão ligadas a unidades completas de desvio padrão. Além disso, esse modelo foi considerado mais próximo das práticas clínicas atuais e, portanto, provavelmente mais fácil para os profissionais o incorporarem em suas práticas. Em conformidade com grupo de consenso, as classificações específicas atribuídas a várias faixas de pontuação foram discutidas detalhadamente durante a sessão de feedback com os participantes da conferência da AACN e, posteriormente, entre os membros da lista da AACN que ofereceram comentários e sugestões. Havia uma forte crença de que as classificações de escore de teste deveriam estar livres de termos que pareçam críticos, tendenciosos ou seriam vistos como representando uma conclusão clínica e, ao invés disso, deveriam refletir apenas uma posição da pontuação dentro da distribuição normal. Especificamente, a intenção era que as classificações de escore não parecessem transmitir um processo separado de interpretação do clínico, que é o passo necessário na conceituação do prejuízo ou déficit. As classificações iniciais de escore de teste recomendadas pela conferência de consenso foram as seguintes: pontuação extremamente alta (≥130); pontuação alta (120-129); pontuação acima da média (110-119); pontuação média (90-109); pontuação abaixo da média (80-89); pontuação baixa (70-79); e pontuação extremamente baixa (<70). Surgiram algumas preocupações na reunião aberta da AACN de que o termo "extremamente" não refletia adequadamente a frequência incomum de escores de teste nas extremidades da distribuição. Após a discussão entre os membros da conferência de consenso, foi acordado mudar o termo para "excepcionalmente". O debate e as considerações mais prolongadas e detalhadas envolveram especialmente as classificações "média inferior" ou "abaixo da média" na faixa de escore padrão de 80-89 devido à ambiguidade potencial de "média inferior" ainda ser considerada "média" e se um escore padrão abaixo de 90 deve ser considerado "abaixo da média". Uma consideração foi que até 24% da população seria considerada "abaixo da média" se o corte para "média" fosse de todos os escores padrão abaixo de 90. Essa atenção parecia ser particularmente importante entre alguns dos neuropsicólogos infantis. Foi realizada uma discussão sobre o uso de um termo adicional, como "ligeiramente" abaixo ou "levemente" abaixo da média, mas estes termos foram rejeitados devido à sua ambiguidade e falta de significado padrão. Na tentativa de encontrar uma resolução entre essas considerações e dada a aceitação da classificação "média inferior" para escores padrão de 80-89 entre muitos clínicos e sistemas de descritores qualitativos existentes (Groth-Marnat, 2009; Schretlen et al., 2010; Wechsler, 2009), o painel de consenso recomendou o descritor "médio inferior" para escores padrão entre 80 e 89. Partindo do princípio de que os escores padrão entre 80 e 89 são categorizados como "médio inferior", então as pontuações que estiverem abaixo desse nível, na faixa de escore padrão de 70-79, são consideradas "abaixo da média". O sistema de classificação Wechsler adulto refere-se a essa faixa como "limítrofe", mas esse termo foi considerado muito ambíguo e propenso a sugerir uma conclusão interpretativa. Como observado anteriormente, outros editores de teste descreveram as pontuações nesta faixa como "baixas", "muito baixas", "bem abaixo da média", "pobres" e "abaixo da média para levemente prejudicadas". Esses termos também foram rejeitados por parecerem críticos ou tendenciosos, muito abertos à interpretação ou à fusão de um escore de teste com uma característica de prejuízo. Embora a conferência de consenso original recomendasse "pontuação baixa" como uma classificação na faixa de escore padrão de 70-79 em oposição à atual "abaixo da média", isso acabou sendo rejeitado pois essa faixa reflete pontuações que estão obviamente abaixo da média e, como indicado acima, ficam abaixo das pontuações que são "média inferior". Além disso, acreditava-se que a descrição de uma pontuação sendo simplesmente "baixa" ou "alta" (na faixa 120-129) era considerada muito ambígua e aberta à interpretação. Por último, as sugestões de que o termo "bem" fosse adicionado às classificações "abaixo da média" e "acima da média" também foram consideradas pela maioria dos copresidentes do grupo como acrescentando pouco, ou nenhum valor agregador. As recomendações finais de consenso para classificações descritivas de escores de teste distribuídos normalmente estão listadas abaixo em escores padrão gerais comumente usadas em testes de inteligência. Transformar outros tipos de pontuações, como T-escores, Z-escores ou percentis, em descritores qualitativos seguiria a mesma abordagem de classificação. Considerando que, com a maioria dos testes baseados em desempenho, as pontuações padrão mais baixas indicam pior desempenho, em casos específicos, pontuações padrão mais altas podem indicar pior desempenho. Nesses casos, os clínicos escolhem as classificações que refletem essa distinção (Tabela 1). Tabela 1. Recomendações de Classificações de Escores de teste com base em escores padrão e percentis para testes com distribuições normais. O grupo de consenso também recomenda que os clínicos especifiquem o grupo normativo e quaisquer ajustes demográficos utilizados para a determinação do escore padrão (por exemplo, se os escores forem ajustados por sexo, idade, escolaridade, etc.). Os profissionais também devem reconhecer que a nomenclatura é baseada em escores derivados específicos, que são estimativas psicométricas limitadas por intervalos de confiança. Assim, os clínicos devem considerar cuidadosamente a classificação de escores próximas aos pontos de corte, incluindo a consideração da margem de erro. Além disso, o consenso do grupo é que esse sistema seja utilizado ao invés daqueles fornecidos dentro de manuais de teste específicos, pois isso promoverá a uniformidade em toda a disciplina e facilitará a comunicação consistente e eficaz com as partes interessadas. Finalmente, para esclarecer ainda mais a atribuição de classificações e descritores para escores de teste, uma recomendação do consenso é que os clínicos incluam uma tabela ou gráfico dentro dos relatórios para identificar explicitamente quais escores padrão coincidem com quais classificações. Isso é especialmente importante, pois reconhecemos que, apesar dos nossos esforços, o público leigo e outros clientes podem ter dificuldade em avaliar e entender as distinções entre as nossas recomendações de classificações de escore de testes qualitativos. Como observado anteriormente, essas classificações de escore de teste destinam-se exclusivamente a serem descritivas, identificando posições de escores em relação a uma distribuição de curva normal. Sendo assim, as classificações não transmitem prejuízo ou outros julgamentos avaliativos; escores isoladamente não podem ser prejudicados ou deficientes. Mesmo reconhecendo que o risco de um escore representar uma função prejudicada aumenta com o desvio estatístico das probabilidades normativas, ainda assim, há o consenso de que a indicação de déficits ou prejuízos é de responsabilidade do profissional, que chega a tal determinação, utilizando uma ampla gama de informações específicas sobre a singularidade do paciente. Considerando isso, ao descrever os escores dos testes, a recomendação do consenso foi de colocar a palavra "pontuação" antes do descritor, a fim de enfatizar a diferença entre um resultado específico do teste e uma habilidade. Como uma questão prática, os clínicos podem achar complicado sempre colocar a palavra "pontuação" antes do descritor (por exemplo, pontuação média inferior), e assim pode decidir eliminar a palavra para diminuir a redundância e aumentar a concisão. Recomendações do consenso para classificações de testes com distribuições não normais Na neuropsicologia clínica são utilizados quatro tipos de testes que têm distribuições não normais. A. Testes destinados a avaliar domínios cognitivos específicos, mas com distribuições altamente enviesadas na população normal (por exemplo, Teste de Nomeação de Boston, Judgment of Line Orientation - JLO, desenho do relógio, cópia de figura, etc.). B. Testes utilizados para determinar a presença ou ausência de sinais patognomônicos ou condições específicas (por exemplo, testes para apraxia, sequenciamento motor manual, exame sensorial-perceptivo, etc.). C. Testes de validade de desempenho (Performance Validity Tests - PVTs) e medidas usadas principalmente para identificar preocupações quanto ao engajamento no teste, ampliação dos sintomas, empenho e validade do teste (por exemplo, Test of Memory Malingering, Word Memory Test, Advanced Clinical Solutions Word Choice, etc.). D. Questionários e escalas de classificação sobre habilidades cognitivas e/ou condições ou sintomas comportamentais frequentemente avaliados por neuropsicólogos (por exemplo, Behavioral Rating Inventory of Executive Function, Behavioral Assessment System for Children, Child Behavior Checklist - CBCL, etc.). Os participantes da conferência de consenso não abordaram a classificação de escore de teste para questionários e escalas de classificação no Grupo D pois estes não são testes baseados em desempenho; fornecer recomendações sobre a classificação de escore para esses tipos de instrumentos estava além do escopo da AACN BOD. Para testes dos grupos A, B e C, o objetivo da administração do teste e o tipo de informação que o teste fornece são fundamentalmente diferentes entre si, bem como de testes que possuem distribuições de escore normais ou quase normais. Consequentemente, abordamos os testes em cada categoria separadamente e fornecemos uma discussão sumária com recomendações nas seções abaixo. A. Testes com Distribuições Altamente Enviesadas Os testes nesta categoria são fundamentais em uma avaliação neuropsicológica completa, pois muitos são projetados para avaliar uma capacidade cognitiva ou domínio específico (por exemplo, Judgment of Line Orientation, Neuropsychological Assessment Battery Naming Test, categorias concluídas no Wisconsin - WCST, teste de reconhecimento no Brief Visuospatial Memory Test - Revised - BVMT-R, etc.). A natureza desses testes é mais comparável às “medidas de critérios” que avaliam uma capacidade específica para a qual há pouca variabilidade entre indivíduos considerados "normais" ou saudáveis. Em geral, o objetivo desses testes é identificar áreas específicas de comprometimento ou déficit nos exames, ao contrário de “medidas normativas” que mostram alta variabilidade entre indivíduos "normais" ou saudáveis e situam resultados dentro da distribuição normal da população. Duas questões relacionadas a essas medidas foram ponderadas em profundidade pelos membros do grupo: É apropriado usar escore padrão para testes com faixas altamente restritas? E os escores nesses testes devem ser classificados de forma diferente dos testes com distribuições normais? Em relação a testes com faixas de pontuação altamente restritas, o consenso era que percentis deveriam ser usados em vez de escores padrão. A justificativa para esta recomendação baseia-se no fato de que as classificações de percentil são mais comparáveis e significativas do que outros escores convertidos quando a distribuição é altamente enviesada. É importante ressaltar que os percentis para testes de distribuição não normal baseiam-se na contagem acumulada real de indivíduos que obtiveram pontuação específica e, portanto, não são estimativas estatísticas baseadas em unidades de desvio padrão em torno da média do grupo de referência. Assim, recomendamos evitar o uso de escores padrão para estes resultados de teste. Para alguns testes com distribuições enviesadas, a normalidade pode ser aproximada através de vários procedimentos de "suavização". O uso de escores padrão nessas situações pode ser justificável, mas o clínico deve ponderar cuidadosamente os riscos e benefícios da transformação do escore padrão e dar uma consideração adicional sobre como esses escores devem ser classificados. Quanto à questão de saber se as pontuações nesses testes devem ser classificadas de forma diferente dos testes com distribuições normais, o consenso do grupo foi de que as classificações deveriam ser as mesmas entre os dois tipos de testes, pelos seguintes motivos: · Usar uma linguagem comum e um sistema simplificado para classificações descritivas nos dois tipos de testes é muito menos confuso para os clínicos e para os clientes. · O uso de um sistema de classificação separado para testes nesta categoria criaria um sistema desnecessariamente complexo que poderia ser difícil de empregar em alguns ambientes clínicos. · Às vezes, o neuropsicólogo pode não saber se a distribuição subjacente para um teste específico é normal ou não normal. Além disso, a distribuição subjacente do teste pode estar sujeita a alterações dependendo de variáveis demográficas específicas (por exemplo, sexo, idade, educação e considerações multiculturais). · Neuropsicólogos competentes devem entender o teste, seu propósito e sua distribuição de pontuação na população normal. Esta recomendação para utilizar classificações descritivas comparáveis a testes com distribuições normais ou enviesadas é feita com quatro exceções importantes: a. Recomendam-se as mesmas classificações utilizadas com testes de distribuição normal, desde que a classificação percentil seja usada para determinar a descrição, e não um escore padrão. Isso é simples quando aplicado aos escores de classificação na extremidade inferior da distribuição, mas não na extremidade superior da distribuição (veja o item b. abaixo). b. Em testes altamente enviesados, às vezes, é estatisticamente impossível atingir uma pontuação percentual nas faixas mais altas. Em muitos desses testes, uma pontuação bruta perfeita ou quase perfeita é tipicamente descrita como sendo igual ou acima do percentil 16. Por exemplo, uma pontuação perfeita de 6 categorias corretas no WCST é notada como simplesmente acima do percentil 16. Isso também é verdade para uma pontuação perfeita no reconhecimento BVMT-R ou na cópia da Figura Complexa de Rey. Considerando essa medição e a realidade estatística, descrever tais pontuações diferente de “dentro das expectativas normais” ou “dentro dos limites normais” seria inapropriado. c. Partindo do princípio de que os testes enviesados têm efeitos de teto ou piso significativos e que, muitas vezes, são projetados para identificar déficits, não desempenho excepcional, classificar as pontuações mais altas desses testes como “acima da média” ou “excepcionalmente alta” (mesmo quando a faixa do percentil é alta) pode não ser significativo e pode ser falso. Por exemplo, o JLO, um teste de 30 itens, tem um teto baixo, em que 28% da amostra normativa obteve pontuações corrigidas de 29 a 30 e pontuações acima de 21 foram obtidas por 93% da amostra. Embora as pontuações de 29 ou 30 estejam no percentil 86, classificando essas pontuações como “superiores”, como descritas no manual (página 59), não é tão significativo quanto simplesmente indicar que a pontuação estava “dentro dos limites normais” ou “dentro das expectativas normais” (Benton, Sivan, Hamsher, Varney, & Spreen, 1994). Para exemplificar, uma pontuação no percentil 86 do JLO não tem o mesmo significado clínico de um teste com pontuações de distribuição normal, como alcançar o percentil 86 no Block Design. Para este último, as altas camadas percentuais sempre indicam que uma pequena porcentagem da amostra normativa obteve uma pontuação nessa faixa superior. Como este exemplo ilustra, isso não é verdade para testes com distribuições altamente enviesadas. Assim, recomendamos que os profissionais evitem utilizar os descritores “média superior”, “acima da média” ou “excepcionalmente alta” ao classificar pontuações na extremidade superior de uma distribuição altamente enviesada. Ao invés disso, utilizar uma descrição que transmita o significado geral de uma pontuação do teste, como o “desempenho estava dentro das expectativas normais” ou “dentro dos limites normais”, seria mais apropriado e isto inclui a faixa média ou acima do percentil 24. A tabela abaixo ilustra as recomendações de escores de teste de distribuição não normal com base em percentis. Advertimos, no entanto, que nem todos os testes de distribuição não normal se encaixarão no exemplo que fornecemos. É importante ressaltar que essas classificações não devem ser aplicadas aos PVTs (veja item C abaixo). d. Finalmente, para testes nos quais os procedimentos de “suavização” têm sido empregados no desenvolvimento de normas, o uso de classificação de escore "excepcionalmente alto" é fortemente desencorajado pois esta classificação é destinada a testes com distribuições normais genuínas ou quase normais, ou seja, quando as pontuações na categoria “excepcionalmente alta” representam desempenhos igual ou acima do percentil 98 (Tabela 2). Tabela 2. Recomendações de Classificações de Escores de teste com base em percentis para testes com distribuições não normais. B. Testes utilizados para determinar a presença ou ausência de sinais patognomônicos Testes para determinar a presença ou ausência de sinais patognomônicos ou condições específicas não são tipicamente impactados por diversas variáveis demográficas. Por exemplo, espera-se que adultos saudáveis realizem com poucos ou nenhum erro ou sem irregularidades testes de prática, sequenciamento motor e bisseção de linha. É claro que há exceções no atendimento a crianças devido às etapas do desenvolvimento. Por exemplo, certos erros de linguagem observados em uma criança de 4 anos são normais, entretanto se forem observados em um adolescente de 17 anos, tais erros seriam considerados patognomônicos (por exemplo, inversões de letras, erros de parafasia frequentes, etc.). As principais questões que consideramos foram: "Quando transtornos específicos, síndromes ou sinais patognomônicos são evidentes durante o teste é necessário, útil ou acurado relatar uma pontuação? Talvez, fazê-lo poderia ser um engano?” Após cuidadosa consideração, a recomendação do consenso é de que quando um examinando apresentar um sinal patognomônico específico ou uma condição neurocomportamental, estes devem ser nomeados e/ou descritos em termos comportamentais específicos. Por exemplo, "Em várias tarefas de linguagem, não havia fluência na fala e apresentou múltiplos erros de parafasia. Ele era incapaz de ler ou escrever. No entanto, ele podia repetir palavras e frases curtas. Essas manifestações são consistentes com a afasia transcortical motora." Além disso, ao se referir a achados negativos ou à ausência de patologia ou desempenho anormal nesses tipos de exames, sugere-se o uso dos termos “intactos”, “presentes” ou “ausentes”, como apropriados ao tipo de manifestação. Nossa posição é que descrever ou nomear um sinal ou condição patognomônicos é muito mais instrutivo e preciso do que atribuir um escore, mesmo que existam faixas de pontuação disponíveis. O uso de classificações para escores de teste nesta categoria não é tão significativo ou informativo quanto descrições específicas e precisas do desempenho ou identificação da condição/síndrome específica. Um neuropsicólogo competente tem uma compreensão sofisticada das relações cérebro-comportamento e será hábil em identificar apresentações neurocomportamentais clássicas sem necessidade de escores de teste (por exemplo, afasia, apraxia, negligência/desatenção hemiespacial, agnosia, etc.). Isso é particularmente evidente quando procedimentos de avaliação são usados para revelar ou investigar a presença ou ausência de sinais patognomônicos ou condições neurocomportamentais específicas na categoria B. C. Testes de validade de desempenho (Performance Validity Tests - PVTs) De todos os tipos de teste considerados pelo grupo de trabalho de distribuição não normal, este recebeu a maior atenção da comunidade neuropsicológica. As razões para isso são provavelmente multifatoriais, mas certamente ligadas às implicações da classificação de pontuações de forma específica, especialmente em contextos forenses. Após considerar uma série de sugestões fornecidas por clínicos da AACN interessados nesta categoria específica de testes, o consenso foi de que o seguinte sistema de três níveis de pontuação deve ser utilizado – “faixa válida”, “faixa indeterminada” e “faixa inválida”. Embora uma variedade de sistemas existentes tenha sido considerada, muitos foram rejeitados por conter ou ter implícito uma posição interpretativa (por exemplo, aprovado versus reprovado), eram potencialmente críticos (aceitáveis versus inaceitáveis), careciam de especificidade ou concisão, ou não representavam adequadamente a gama de razões para o baixo desempenho (ou seja, um indivíduo pode obter pontuações baixas em PVTs por diversos motivos, um deles é uma recusa intencional de empenho). A possível inclusão de uma quarta categoria (ou seja, “desempenho abaixo do nível de probabilidade”), foi discutida, entretanto foi rejeitada pelas seguintes razões: (1) ultrapassar a classificação de “faixa inválida” em uma subcategoria de pontuações abaixo do nível de probabilidade pode parecer estender a descrição ainda dentro da faixa inválida; (2) adicionar uma faixa de pontuação de subcategoria dentro da faixa já classificada como inválida seria potencialmente mais confuso e mais difícil de ser utilizada consistentemente entre os profissionais; e (3) espera-se que um neuropsicólogo competente comente sobre desempenhos e implicações significativamente abaixo do nível de probabilidade ao integrar todas as informações pertinentes em seu resumo interpretativo e formulação de casos. Um ponto crítico é que alcançar uma pontuação de “faixa inválida” em um PVT nem sempre ou não automaticamente indica a presença de simulação de doença ou "empenho comprometido" e pode ou não invalidar todos os resultados dos testes. Em relação a essas questões, os participantes da conferência de consenso não tiveram áreas de discordância relacionadas às recomendações técnicas descritas na declaração de consenso da AACN de 2009 sobre validade de resposta e simulação de doença (Heilbronner et al. 2009). Em situações em que um examinando apresenta escores com uma ou mais faixas inválidas ou faixas indeterminadas, é, em última análise, o clínico, o responsável por julgar, com base na totalidade das informações disponíveis, o que esses escores significam e como devem ser interpretados. Finalmente, são fornecidos três exemplos de como essas classificações podem ser usadas em um relatório. Esses exemplos podem ser incluídos em uma seção do relatório que descreve os resultados individuais dos testes. Em cada exemplo há uma clara referência ao escore, ao invés de uma instrução interpretativa específica. · O escore do examinando em um stand-alone PVT (exemplos de testes, clique aqui) estava dentro da faixa válida. · Em um embedded PVT (exemplos de testes, clique aqui), o examinando atingiu o escore na faixa indeterminada. · A pontuação forced-choice memory PVT (exemplos de testes, clique aqui) estava dentro da faixa inválida. Recomendações do consenso para definição e utilização de “prejuízos” Das três áreas consideradas pela conferência de consenso, a definição de prejuízo evocou o menor número de respostas e sugestões da maior comunidade neuropsicológica da AACN. No entanto, após a própria conferência de consenso e a postagem de nossas recomendações na lista da AACN, os participantes da conferência de consenso revisitaram a definição inicial de prejuízo. O diálogo e a discussão em curso resultaram na seguinte recomendação de consenso para o termo prejuízo: O comprometimento/prejuízo neuropsicológico é uma capacidade neurocognitiva ou neurocomportamental anormal. O prejuízo pode resultar da perda de uma habilidade previamente adquirida ou ser o resultado de um desenvolvimento atípico, pode ser transitório ou fixo ao longo do tempo, podendo ter impacto variável desde a capacidade funcional até a incapacidade. Os escores dos testes, por si só, não definem o comprometimento. Uma combinação de fatores, incluindo escores de teste que se desviam das expectativas, e outros achados relacionados à capacidade funcional, identificam o prejuízo neuropsicológico. Na utilização da definição de prejuízo em casos individuais, devem ser considerados os seguintes fatores, dentre outros. · Variabilidade intraindividual normal e a frequência de baixos escores em populações normais (Binder, Iverson, & Brooks, 2009; Donnell, Belanger, e Vanderploeg, 2011; Heyanka, Coldre, & Golden, 2013; Palmer, Boone, Lesser, & Wohl, 1998; Schretlen, Munro, Anthony, & Pearlson, 2003). Este último está relacionado, entre outros fatores, ao número de exames administrados e ao ponto de corte utilizado para definir a anormalidade. · A convergência de variância compartilhada versus variância única entre os testes. ·As características do padrão normativo/de comparação (por exemplo, demograficamente estratificado versus normas populacionais gerais). · Validade de desempenho. · Engajamento no teste. ·Fatores culturais associados a diferentes diversidades (por exemplo, linguagem, alfabetização, nível e qualidade da educação, familiaridade e conforto com a situação de teste, vieses de teste, oportunidades de aprendizagem, conceito de comportamento inteligente e estilo de comunicação). · Condições médicas e emocionais, medicamentos, fatores cognitivos e físicos (sem doenças). · Pontuações altas, ou a falta de escores baixos, não impedem a determinação de limitações funcionais ou "prejuízo". Por outro lado, os escores baixos não indicam necessariamente prejuízo funcional; é necessário considerar o contexto para fazer tais determinações. · A relevância funcional da conclusão no contexto do encaminhamento. · Demandas de tarefas e ambientais, bem como os suportes que melhorem ou que atenuem a capacidade neurocognitiva ou neurocomportamental. Ao relatar os resultados aos solicitantes, as informações devem ser claras e específicas, e transmitir conclusões interpretativas significativas, como indicar a presença ou ausência de prejuízo, ou que as conclusões são equívocas. Este relatório pode ser feito somente para a posse individual ou para um propósito geral. Resumo A falta de uniformidade na utilização de classificações de escore de teste de desempenho tem sido um problema de longa data na neuropsicologia clínica. Esta conferência de consenso é a primeira tentativa formal da comunidade neuropsicológica profissional de fazer recomendações para classificações uniformes de pontuação de teste de desempenho e para avançar em uma definição consistente de prejuízo. Nossas recomendações não são decretos ou normas, entretanto representam uma opinião de consenso de especialistas sobre essas questões importantes. Esperamos que os profissionais incorporem nossas recomendações em suas práticas clínicas para aumentar a uniformidade dos descritores de escore de teste, que é a maneira mais habitual de comunicar em relatórios clínicos e forenses o desempenho nos exames. O uso de descritores e termos uniformes reduzirá a confusão e aumentará a compreensão dos relatórios pelos clientes, bem como por nossos estagiários e colegas. Nossas recomendações não são de forma alguma destinadas a interferir ou restringir a interpretação dos escores de teste, que continua a depender apenas do julgamento clínico do profissional. Reconhecemos e aceitamos que nem todos os neuropsicólogos considerarão nossas recomendações apropriadas para adoção em suas práticas clínicas ou concordarão com nossas recomendações de consenso. No entanto, nossas recomendações de consenso são a primeira tentativa sistematizada de alcançar a uniformidade dos descritores de teste feita pelos nossos especialistas e, como tal, pode iniciar um diálogo contínuo de toda a especialidade sobre essa questão crítica. Também reconhecemos que nossas recomendações não são permanentes e que a introdução de novos métodos e tecnologias de avaliação podem exigir modificações futuras para acomodar essas inovações. Portanto, os participantes da conferência de consenso respeitosamente saúdam o diálogo contínuo para desenvolver e refinar ainda mais nossa nomenclatura. Também queremos reconhecer o tempo e o esforço de todos os membros da comunidade neuropsicológica da AACN que contribuíram com feedbacks e sugestões úteis para nos ajudar nesse valioso projeto. Agradecimentos Os autores desejam expressar sua gratidão aos seguintes revisores externos: Robert L. Denney, Jacobus Donders, Anthony J. Giuliano, Mike R. Schoenberg e Keith Owen Yeates, bem como à aprovação do Comitê de Publicação da AACN e do Conselho Administrativo da AACN. Declaração de divulgação Nenhum conflito de interesse foi relatado pelos autores. Referências Beauchamp, M. H., Brooks, B. L., Barrowman, N., Aglipay, M., Keightley, M., Anderson, P., … Zemek, R. (2015). Empirical derivation and validation of a clinical case definition for neuropsychological impairment in children and adolescents. Journal of the International Neuropsychological Society, 21(8), 596–609. doi:10.1017/S1355617715000636 [Crossref], [PubMed], [Web of Science ®], [Google Scholar] Benton, A. L., Sivan, A. 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- Educação Financeira Infanto-juvenil
“Eduquem as crianças e não será preciso castigar os adultos.” (Pitágoras) A educação financeira infantil deve ir, e vai, além da simples preocupação com o ensinar sobre o manuseio de dinheiro, a começar pela necessidade de conscientização sobre a importância relativa do dinheiro e das riquezas na vida das pessoas. Há muitas coisas e valores mais importantes do que o dinheiro, claro! Mas isso não reduz a importância dele em nossas vidas. Se o dinheiro é importante, precisamos conhecê-lo, aprender a usá-lo, e saber cuidar dele, principalmente do nosso – nossas finanças pessoais. E precisamos nos preocupar para que nossos filhos também sejam preparados para isso, ou se tornarão adultos tão despreparados para lidar com suas finanças, quanto muitas pessoas da nossa geração. Eis alguns pontos de reflexão importantes a serem ponderados na educação financeira infantil: Escolhas e Limites São palavras-chaves da educação financeira. É preciso entender e ensinar que cada escolha implica numa renúncia. Quem quer atingir um objetivo importante precisa evitar pequenas tentações ao longo do caminho. E poucas coisas deixam tão claras a questão dos limites quanto o dinheiro. Isso ou aquilo? Se não se pode ter tudo o que se deseja, deve-se aprender a cuidar e apreciar tudo o que se tem. Querer e Precisar Crianças precisam ser esclarecidas sobre diferenças entre simples desejos, necessidades básicas, necessidades acessórias e desejos de difícil realização. Quando isso fica claro e as prioridades são respeitadas, raramente falta dinheiro para o básico e desgastes desnecessários são evitados. Dinheiro e Presentes Não Substituem Afeto e Presença A dinâmica da vida moderna faz com que muitos pais e mães fiquem bastante tempo fora de casa, longe dos filhos. Não são poucos os que tentam compensar essa ausência com dinheiro ou presentes, e alguns filhos abusam disso. É o tipo de situação que pode ajudar no momento, mas prejudicar o futuro dos filhos, inclusive na relação familiar. Sim ou Não? O uso adequado e balanceado dessas respostas pode ajudar na educação financeira. Nem tudo o que se pode dar, deve ser dado. Nem tudo o que se gostaria de negar, deve ser negado. Fazer um adequado balanceamento de quando atender ou negar algum pedido dos filhos, especialmente em relação ao consumo, poderá ensinar-lhes a conviver com oportunidades que o dinheiro pode proporcionar e a aceitar que nem tudo o que se deseja será conquistado facilmente, ainda que seja apenas uma questão financeira. Agora ou Depois? Ao acostumar as crianças a esperar, a não terem todos seus impulsos de consumo atendidos, especialmente no momento em que manifestam o desejo, elas aprenderão que muitos dos impulsos são passageiros e que não resistem sequer a uma noite de sono. Ao aprender a esperar, percebem que certos desejos são efêmeros e aos poucos elas vão amadurecendo e desenvolvendo hábitos de consumo responsável. Respeite a Realidade Infantil Nada de economês, contabilês ou financês, ou seja, deve-se evitar o uso de termos técnicos e vocabulários desconhecidos que gerem desconforto às crianças. Nem conversas chatas sobre o futuro distante. Os papos com crianças devem ser baseados em linguagem simples, baseados no cotidiano e no interesse delas. Crianças não pensam em aposentadoria. Não pensam em universidade. Não se imaginam como chefes de família. Enquanto não chegarem à adolescência, basta saberem que precisarão pensar nisso um dia e que precisarão entender para fazerem boas escolhas. Melhor investir na sensibilização do que descarregar teorias. Se o interesse por aprender mais for despertado, o terreno estará fértil para as próximas fases, na adolescência e juventude. Use e Abuse do Lúdico A literatura infantil dirigida, jogos especializados e filmes são excelentes instrumentos para provocar conversas sobre temas importantes de educação financeira. Mas é claro que livros, jogos e filmes sozinhos não têm a mesma capacidade de ensino e atração do que a presença e participação dos pais. Leia, jogue e assista filmes junto com seus filhos. Lições de educação financeira serão apenas parte dos benefícios para ambos. Mesada em detalhes... A mesada geralmente constitui a primeira fonte de renda regular das crianças e jovens. É um excelente instrumento para educação financeira. Proporciona experiências, motivação, responsabilidade, conquistas, reflexões e outras oportunidades de aprendizado, inclusive diante de algumas frustrações e limitações. Sendo um instrumento, precisa ter seu uso orientado para que seja bem aproveitada. Não basta colocar dinheiro nas mãos das crianças e esperar que aprendam a fazer o uso correto por si mesmas. Além de dar instrumentos, os pais precisam orientar, acompanhar, avaliar o uso, ajudar a corrigir rumos, tirar proveito das oportunidades para explorar lições de educação financeira relacionadas à realidade e, de preferência, às próprias experiências e expectativas da criança. Dentre os benefícios de educação financeira que a mesada oferece, podemos destacar: o convívio com limites – o próprio valor da mesada; situações de escolhas – comprar isso ou aquilo; planejamento e autocontrole – esperar a data de receber o dinheiro ou dois ou mais períodos para obter a soma desejada para algum objetivo; desenvolvimento de autoconfiança, independência e autoestima – gestão dos próprios recursos. Com o tempo, crianças que recebem mesada perceberão que se gastarem rapidamente, ou gastarem tudo se defrontarão com situações em que prefeririam não ter gastado todo o dinheiro antes. Muitas aprenderão a poupar, juntar e até a investir. De maneira geral, a prática do manuseio da mesada ajudará as crianças a vivenciarem situações próximas da realidade da vida financeira dos adultos. A vantagem é que nessa fase os erros são inconsequentes e os benefícios de aprendizagem, ao contrário, trarão boas consequências para a vida toda. Questões importantes com as quais muitos pais se deparam: Com que idade começar? Não existe consenso entre os especialistas, mas a maioria concorda que a partir da alfabetização, geralmente aos seis ou sete anos, a mesada pode ser introduzida, se a criança quiser. A mesada deve ser mensal? Mesada é o nome genérico do dinheiro dado com regularidade pelos pais aos filhos, seja ela com frequência semanal, quinzenal ou mensal. Crianças menores geralmente têm dificuldade para lidar com horizontes temporais longos. Isso poderia causar-lhes frustração e ansiedade. O ideal é customizar o intervalo de acordo com a idade, conforme sugerido no gráfico. Como definir o valor da mesada? Não existe regra adequada a todas situações. O local onde moram, o tamanho da família, a situação financeira, a renda familiar e os hábitos de cada família diferem uns dos outros. Um bom parâmetro pode ser obtido a partir da observação dos hábitos e necessidades da criança durante dois a três meses, antes de iniciar o pagamento da mesada. Outra base pode ser obtida a partir da conversa com pais dos amiguinhos próximos para que a mesada de seu filho fique compatível tanto com a capacidade financeira da família, quanto com os valores da mesada da turminha dele. Nem muito acima, nem muito abaixo – na média seria ótimo! Na dúvida entre dois valores, opte pelo menor, pois a escassez ensina mais do que a abundância. Há famílias que estipulam o valor de acordo com a idade da criança: 6 anos, R$6,00 de semanada, 7 anos, R$7,00 de semanada até chegar à adolescência e mudar para mesada. Com o tempo, acompanhe o uso da mesada e as mudanças de hábitos naturais da infância e da adolescência. Periodicamente avalie se o valor está adequado para evitar defasagens. O valor da mesada deve contemplar o lanche na escola? No caso de as crianças levarem dinheiro para lanchar na escola, esse deve ser dado e acompanhado separadamente do valor da mesada. Isso para evitar que a criança opte por deixar de se alimentar para fazer uso do dinheiro com outra finalidade. O valor da mesada deve oscilar de acordo com o desempenho escolar? Isso é delicado, pois pode estimular uma personalidade mercenária na criança. O desempenho escolar deve ter outras motivações, independente do dinheiro. As crianças podem receber mesada para arrumar seu quarto? A mesada, por princípio, não deve exigir contrapartida em atividades. Aí vira salário ou honorário. Arrumar o próprio quarto, cuidar dos próprios bens ou do material escolar são obrigações sociais que podem ou não ser dispensadas, mas não devem ser remuneradas. Assim como para tirar a própria louça da mesa, guardar seus brinquedos, dar banho em seu cachorro ou coisa parecida. Porém, podem ser combinadas regras na família em que as crianças assumam, as vezes, algumas responsabilidades que não sejam naturalmente delas, em troca de pequena remuneração. Mas isso não deve ter relação com a mesada. Também não se trata de educação financeira, tem relação com empreendedorismo, outro tema igualmente importante para a educação financeira infantil. Dicas para os Pais → Escolham dias fixos para pagamento da mesada ou semanada. Para pagamentos semanais, o domingo é o dia geralmente escolhido. No caso de pagamentos mensais, o bom seria coincidir com a data da principal fonte de renda do pai ou da mãe , especialmente quando são assalariados. → Evitem atrasar ou adiantar a mesada. É importante as crianças se acostumarem com conceitos de regularidade , adimplência e responsabilidade. Façam a sua parte. Se houver atraso no pagamento, pode caber uma multa simbólica. Se insistirem em pedir adiantamentos, cabe negociar algum desconto. → O acompanhamento e os controles podem ser mais flexíveis para crianças que demonstrem mais responsabilidade e mais estreitos para aquelas que apresentem sinais de que não vêm fazendo uso adequado. → Regras claras evitam problemas. Estabeleçam regras e limites de maneira clara. Acordem o que pode ou não ser feito com o dinheiro da mesada. → Procurem contemplar na mesada um valor destinado à poupança. É importante que as crianças criem esse hábito desde pequenas. Quando cabível , forneçam também cofrinho, conta de poupança , conta em corretora de valores, etc. → Até a criança acostumar-se com a mesada, o ideal é fazer pagamento em espécie – em dinheiro mesmo. Depois, e já na adolescência, principalmente se vive em grandes centros, pode adotar outros instrumentos, como um cartão de débito ou cartão-mesada. Nem 8, nem 80! Muitos pais ficam orgulhosos quando seus filhos são “econômicos”, não gostam de gastar o próprio dinheiro, juntam 100% da mesada e não ficam pedindo para comprar isso ou aquilo o tempo todo. Atenção! Se isso acontecer com frequência e por longos períodos, sem motivação aparente, pode ser indicativo de muito apego ao dinheiro, o que não é saudável. Bom atentar para outros sinais, como não querer desfazer-se de roupas e calçados que não usa ou não servem mais, não aceitar fazer doação de brinquedos que não brinca há muito tempo, não gostar de compartilhar ou dividir o lanche, bebidas e outros itens que crianças costumam dividir com naturalidade. Esses sinais, quando combinados a outros fatores, podem ser indicativos de personalidade com traços de egoísmo ou avareza. Nada a preocupar se for algo eventual, ou com motivação clara. Caso contrário, pode ser recomendável buscar apoio ou avaliação de um profissional especializado, como psicólogos. Crianças no Supermercado e no Shopping Há quem diga que não se deve levar crianças ao supermercado, para reduzir os gastos. Mas, se elas não forem com os pais, como aprenderão a fazer compras para suas futuras casas? Como perceberão o quanto custa manter um lar? Levar as crianças eventualmente ao mercado e ao shopping pode resultar em mais integração familiar e os pais conhecerão mais os gostos dos filhos, perceberão melhor suas vontades e jeito de ser e terão boas oportunidades para oferecer-lhes lições de educação financeira com bastante naturalidade. Uma boa tática para evitar problemas nessas horas é previamente estabelecer um limite de compras para cada criança: R$ 5,10,20... Não importa! O importante é: as crianças terem esse orçamento pessoal para fazerem suas escolhas; depararem-se com limitações de gastos, com a necessidade de decidir por um ou outro produto ou tamanho de embalagem; comparação de diferentes tamanhos de embalagem para ver a mais econômica; pesquisa de marcas de produtos similares em busca de produtos melhores ou mais econômicos; atenção às promoções, falsas e verdadeiras; atenção à variação de preços de produtos sazonais; descobrirem preços dos produtos preferidos. e tudo isso ao invés de ficar discutindo com os pais por querer comprar muito, independente do preço e da quantidade. A História do Dinheiro De Onde vem o Dinheiro? LIVRO: Zequinha e a porquinha Poupança Autor: Álvaro Modernell Ilustradora: Cibele Santos LIVRO: A Economia de Maria Autora: Telma Andrade Ilustradora: Silvana Rando LIVRO: A Menina, o Cofrinho e a Vovó Autora: Cora Coralina Ilustradora: Cláudia Scatamacchia FÁBULAS DE ESOPO: A Cigarra e a Formiga MORAL DA HISTÓRIA: Quem não sabe manter o equilíbrio entre o trabalho e o lazer fica sem ter o que comer Cartilha do SEBRAE - Educação Financeira Infanto-juvenil Jogo de Cartas da Serasa Experian, recomendado para crianças de 7 a 10 anos, permite perceber: o valor das coisas o consumo como um processo de escolhas que envolve presente e futuro a diferença entre valores e preços, com temas próximos do cotidiano. Cada uma das 32 cartas contém uma atividade, como ir ao cinema ou desenhar, e vale mais ou menos pontos de acordo com cinco classificações: diversão, amigos, preço, movimentação física e criatividade. O objetivo do jogo é escolher o item de sua carta que pode bater a pontuação do outro jogador, e assim ver, na prática, que algumas riquezas são grátis, mas valem muito, como amizades e diversão. Dicas de Livros FONTE:https://www.sebraeprevidencia.com.br/wp-content/uploads/2012/09/Sebraeprev_Fasciculo02_EF_Infantil.pdf https://www.sebraeprevidencia.com.br/planejar-criancas.php
- Empresas Descobrem as Notáveis Qualidades dos Profissionais Autistas (Aspergers)
Não à toa, eles começam a ocupar mais terreno no mercado de trabalho “Não é frescura” “Eu me descobri autista aos 30 anos, pouco antes do meu filho nascer, quando tive grandes crises de estresse. Até então, cresci como o rapaz diferentão, o fã de heavy metal que tentava se encaixar na turma. Muitos duvidam que eu tenha TEA, pois existe uma visão estereotipada. Acham que minhas restrições são ‘frescura’. Não lido bem com barulho ou reuniões longas. Por observar padrões com rapidez e disciplina, consegui me tornar um especialista em tecnologia.” Robim Castro Gaia, 36 anos, analista de dados da consultoria Everis “Você é autista? Nem parece, é tão inteligente e comunicativo.” Frases como essa têm se tornado cada vez mais comuns em escritórios e reuniões virtuais de trabalho. Apesar de ofensivas e baseadas em velhos e equivocados estereótipos, trata-se de um ótimo sinal. No passado, os debates sobre o autismo se baseavam na esteira dos avanços da medicina, girando em torno da infância, das formas de identificá-lo e do papel dos pais para minimizar os danos de um transtorno incurável. Mas essas crianças crescem e precisam tocar sua vida como qualquer adulto, com os mesmos sentimentos e fragilidades, e eventualmente com muito mais habilidades. E essa é a grande mudança. Eis um fato inconteste, cientificamente comprovado, que o mercado de trabalho está assimilando rapidamente: autistas podem ser excelentes profissionais — e excelentes profissionais podem ser autistas. O Brasil ainda é carente de dados confiáveis. Nos Estados Unidos e no Reino Unido, um em cada cinco autistas já consegue emprego — uma taxa modesta de 20%, mas em franco crescimento, uma vez que a inserção no mercado de trabalho era quase inexistente no passado. Autistas de grau leve podem apresentar algumas dificuldades, como sensibilidade a luz e barulho ou falhas na compreensão de figuras de linguagem — nada que não seja contornável, sobretudo levando-se em conta as contrapartidas. “O cérebro dos autistas tem qualidades específicas que podem e devem ser aproveitadas. Em diversos aspectos, eles são mais eficientes”, diz Joana Portolese, neuropsicóloga da Faculdade de Medicina da USP. Com a propensão ao hiperfoco (estado de concentração intensa), os autistas têm sido especialmente aceitos nos ramos de tecnologia e programação, pois respondem muito bem quando lhes é dado um planejamento. São disciplinados e tendem a se especializar em assuntos de seu interesse (leia os depoimentos ao longo desta reportagem). Há profissões não recomendadas, como cozinheiro ou guarda de trânsito, pois são atividades que geram situações de estresse exagerado e imprevistos. Estudos recentes mostram que há 2 milhões de autistas diagnosticados no Brasil, mas estima-se que o número real possa ultrapassar 3 milhões, devido a diagnósticos tardios e à imensa subnotificação. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o transtorno acomete uma a cada 160 crianças, mas estudos nos Estados Unidos apontam incidência bem maior, de uma a cada 59. Esmiuçada pela primeira vez em 1943 pelo psiquiatra infantil austríaco Leo Kanner (1894-1981), a condição passa por constantes releituras. Em 2013, a Associação Americana de Psiquiatria decidiu abarcar diversos tipos de desordens neurológicas, incluindo a síndrome de Asperger — grau mais leve de autismo constantemente relacionado à genialidade, dentro de uma única definição, o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). No Brasil, um ano antes, a aprovação da lei 12.764, também conhecida como Lei Berenice Piana, tornou-se um marco ao incluir autistas entre os demais portadores de deficiência, garantindo a eles tratamento via Sistema Único de Saúde (SUS) e sua presença no mercado de trabalho pelo sistema de cotas. Nenhum autista é igual a outro, mas há similaridades como a dificuldade de interação social e a presença de padrões restritos de comportamento, interesses ou atividades. Em suma, há três gradações: o autismo leve ou funcional, em que chamam atenção comportamentos excêntricos ou repetitivos; o moderado, no qual há déficit nas habilidades de comunicação verbal e não verbal; e o severo, quando a capacidade cognitiva é altamente prejudicada, exigindo suporte absoluto. O primeiro grupo é plenamente capaz de viver de forma autônoma, ter filhos e uma profissão. O americano Donald Triplett, hoje com 88 anos, primeira pessoa diagnosticada com TEA, aos 5 anos, demonstra excepcional memória e trabalhou na empresa da família. “Autistas crescem” “Não tive boas experiências em entrevistas por cotas e prefiro não me apresentar como autista em meu currículo. Consegui um bom emprego em um processo seletivo convencional e me firmei graças à minha proatividade e hiperfoco. Há muitos programas voltados para a infância, mas autistas crescem. Por isso, decidi criar o projeto Inclusão Humanizada para integrar pessoas como eu no mercado.” Milena Yamamoto, 30 anos, analista de TI da B2W Boas iniciativas vêm ganhando impulso nos últimos anos. A Specialisterne é uma das organizações que mais contribuem para a neurodiversidade no Brasil, trabalhando em parceria com empresas como Itaú e Danone. A ONG já propiciou a contratação de cerca de 120 autistas, com 90% de taxa de retenção nos cargos. O processo de capacitação e seleção dura quatro meses, e a chegada ao escritório do colega “atípico” (termo que autistas costumam usar para se definir) exige adaptação e suporte. “Um workshop esclarece aos funcionários tanto sobre o que é o autismo quanto acerca das particularidades da pessoa”, afirma Rute Rodrigues, gerente da Specialisterne. Há algumas recomendações simples de integração que fazem toda a diferença no ambiente de trabalho, como reservar ao autista um local silencioso, com iluminação controlada, e evitar conversas fora de hora e mudança abrupta de rotina. A neurodiversidade não é um tipo de assistencialismo, mas, sim, parte de uma estratégia lucrativa das empresas. Pesquisa da consultoria McKinsey mostrou que companhias que promovem diversidade em seus quadros têm receitas até 33% maiores. Com a inclusão de minorias, elas conseguem ampliar seus horizontes e atingir suas metas. “Pessoas com visões diferentes trazem soluções mais robustas, o que é fundamental para uma empresa de inovação”, diz Ricardo Neves, CEO da Everis, multinacional de consultoria de Negócios e TI. “Sou exceção da exceção” “Eu me orgulho de minhas conquistas, mas é importante ressaltar que sou a exceção da exceção: mulher, autista, negra e da periferia. Consegui me destacar, fundar minha própria empresa e organizar um evento como o Autismo Tech. Tive sorte, acompanhamento médico e boas influências — além, é claro, de meus atributos, como criatividade e raciocínio lógico. Meu sonho é que casos de sucesso como o meu se tornem mais comuns.” Joyce Rocha, 28 anos, designer e fundadora da startup aTip Transformação de tal magnitude, evidentemente, tem seus desafios. Uma reclamação recorrente entre os profissionais autistas é sobre a ausência de um plano de carreira. Assim como ocorre com a maioria dos deficientes físicos ou visuais, eles geralmente não trabalham como funcionários contratados, e têm salário mais baixo. Esse é um dos motivos que levam muitos a esconder sua condição e a priorizar processos seletivos tradicionais. Outra razão é o constrangimento provocado por colegas desinformados, que insistem em tratá-los de maneira infantilizada. Esse comportamento tem nome: capacitismo, o preconceito contra deficientes, uma segregação muitas vezes velada. Filmes e séries de TV costumam influenciar as pessoas, fazendo-as olhar para os autistas como incapazes ou, no outro extremo, gênios excêntricos. Na maioria dos casos, porém, são indivíduos que têm fragilidades intensas tanto quanto talentos notáveis — como todo e qualquer ser humano. Publicado em VEJA de 21 de abril de 2021, edição nº 2734 Por Luiz Felipe Castro FONTE: https://veja.abril.com.br/economia/companhias-descobrem-as-notaveis-qualidades-dos-profissionais-autistas/
- Diferença entre o Psicopata e o Suposto Sociopata
(Tradução livre) A desinformação persistente sobre o psicopata reforça a confusão pública. O tópico da psicopatia surge com frequência na mídia, e uma das perguntas mais comuns que os psicólogos fazem na televisão e na mídia impressa parece aparentemente ser simples: "Qual é a diferença entre um sociopata e um psicopata?" A resposta, infelizmente, é complexa, em parte porque, em primeiro lugar, a pergunta é mal elaborada. A resposta correta requer uma reformulação integral da pergunta. Para começar, “psicopata” é um termo usado para se referir a alguém que apresenta psicopatia, ou traços psicopáticos. “Sociopata”, “sociopatia” e “sociopático” não são termos clínicos verdadeiros, o que significa que são termos não endossados pela American Psychiatric Association – Associação de Psiquiatria Americana – e nem por um profissional de saúde mental amplamente reconhecido e focado em pesquisas, como Robert Hare, psicólogo canadense que criou a escala para diagnosticar a psicopatia, Psychopathy Checklist - Lista de Verificação de Psicopatia. Então, “psicopata” é um termo clínico e “sociopata” não é um termo clínico. Os profissionais de saúde mental devem evitar o uso de qualquer versão do termo "sociopata". Desde que fui treinado na Psychopathy Checklist - PCL - de Robert Hare aprendi a fazer isto. O assunto da psicopatia é ainda mais complicado pela existência de outro termo que é frequentemente usado para descrever um conjunto semelhante de características e comportamentos de personalidade: Transtorno da Personalidade Antissocial. Na mídia e em consultórios de terapeutas em todo o mundo, os termos “psicopata” e “sociopata” são frequentemente usados como sinônimos, apesar de apresentarem diferenças reais. As diferenças são ilustradas aqui de forma concisa no esforço de ajudar a reduzir a confusão entre os profissionais de saúde mental, na mídia e também entre o público. O Transtorno da Personalidade Antissocial é um transtorno de personalidade que aparece no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (5ª ed., DSM5, American Psychiatric Association, 2013). O Transtorno Antissocial é focado principalmente em comportamentos. Os critérios do DSM5 incluem a desconsideração e a violação dos direitos de terceiros desde os 15 anos de idade, conforme indicado por sete características possíveis: falha em obedecer às leis e às normas devido a comportamento que resulta em detenção ou que justificaria a prisão criminal; mentira, engano e manipulação, para lucro ou autodiversão; comportamento impulsivo; irritabilidade e agressividade, que se manifestam em frequentes insultos a outras pessoas ou envolvimento em brigas; evidente descaso pela própria segurança e a dos outros; um padrão de irresponsabilidade; e ausência de remorso por ações. A estruturação para o diagnóstico do Transtorno Antissocial, com foco nos comportamentos, foi elaborada na tentativa de tornar o diagnóstico mais confiável (e menos subjetivo). A limitação, no entanto, é que, ao focar nos comportamentos, o construto não explica satisfatoriamente as características de personalidade que são frequentemente vistas em indivíduos que apresentam esta constelação complexa de comportamentos conturbados. Em outras palavras, a estruturação do DSM5 pode ser confiável, mas não tão válida, pois omite um foco relevante dos componentes cruciais da personalidade psicopática. Devido à evidente deficiência na estruturação do Transtorno da Personalidade Antissocial pelo DSM5, o psicólogo canadense Robert Hare criou a Psychopathy Checklist - PCL (Hare, 1980), uma escala de avaliação e inventário de traços de personalidade percebidos e de comportamentos observáveis usados na análise da psicopatia em populações criminosas. A Psychopathy Checklist - PCL - original consistia em 22 itens distintos e incluía uma entrevista semiestruturada com revisão de informações paralelas, que podem incluir registros oficiais. O desenvolvimento da Psychopathy Checklist - PCL - reflete a crença de Hare e seus colegas de que uma medida diagnóstica mais completa - incluindo comportamentos e características de personalidade - era necessária, pois a estruturação do Transtorno da Personalidade Antissocial não foi completa o suficiente para diagnosticar homens e mulheres que apresentem descaso às regras, às convenções sociais e às leis; eles são charmosos, manipuladores e exploradores; e eles não têm empatia, culpa ou remorso. A PCL foi criada com a intenção de estabelecer uma escala mais objetiva e acessível a investigadores clínicos e não clínicos; para permitir a consideração da personalidade de toda uma vida e traços comportamentais exibidos pelo agressor; e conectar a escala de avaliação ao construto clínico da psicopatia, conforme descrito por Hervey Cleckley, verdadeiramente considerado o pioneiro da psicopatia (Brazil & Forth, 2016). Os principais traços de personalidade de Cleckley avaliados na PCL incluem charme superficial; mentira e falta de sinceridade; ausência de nervosismo; comportamento antissocial com motivação inadequada (eles podem fazer algo prejudicial sem motivo aparente); egocentrismo patológico; falta de remorso e vergonha; e a incapacidade de seguir um plano de vida, entre outros (Cleckley, 1982). Esta lista dos principais traços de personalidade psicopática ressalta como a psicopatia é diferente da atual estruturação do Transtorno da Personalidade Antissocial, essa lista é uma avaliação mais aprofundada da personalidade. Em 1991, Hare publicou a versão revisada, Psychopathy Checklist-Revised – PCL-R (Hare, 1991), e publicou a segunda revisão em 2003 (Hare, 2003). Observe que a versão atual possui 20 itens e que uma pontuação de 30 ou mais na escala designa alguém como um "psicopata". Sobre os termos que os profissionais devem utilizar em seus relatórios clínicos, aprendi em meu treinamento que não deve incluir a classificação de "psicopata" , devendo se referir às características como apresentação de "traços psicopáticos" ou "traços psicopáticos graves". Simplificando, qual é a diferença entre Transtorno da Personalidade Antissocial e psicopatia? A principal diferença entre o Transtorno da Personalidade Antissocial e a psicopatia é que Transtorno se concentra mais no comportamento, enquanto a psicopatia (diagnosticada, utilizando a PCL-R) inclui um grupo de itens (conhecido como Fator 1 da PCL-R) que são comumente considerados como o núcleo dos traços da personalidade da psicopatia (Skeem, Poythress, Edens, Lilienfeld e Cale, 2002). O fato da psicopatia não estar incluída no DSM5 (como o Transtorno da Personalidade Antissocial) não significa que a psicopatia seja uma construção diagnóstica inferior ou imprecisa. A Psychopathy Checklist e suas revisões foram desenvolvidas com base na validade de estudos e na análise estatística, e a PCL-R é utilizada atualmente no sistema judicial, pelo Federal Bureau of Investigations e em outras instituições. Para reduzir a desinformação e a confusão do público em torno dos termos usados para descrever a personalidade antissocial e psicopática, meu desejo é que a American Psychiatric Association, que publica o DSM5, e Robert Hare e seus prodígios possam chegar a um consenso significativo e estabelecer uma estrutura de diagnóstico que englobe melhor os comportamentos complexos e as características de personalidade que são vistos nesses raros indivíduos (um por cento?). Além do mais, a personalidade psicopata não deveria ser incluída de alguma forma na "bíblia" profissional dos diagnósticos, o DSM? Pode ser que a construção requeira um termo com duas variações. Outros transtornos são conceituados dessa forma, incluindo, por exemplo, Transtorno Bipolar I e Transtorno Bipolar II. Talvez, seja necessária uma estrutura no DSM que inclua o Transtorno da Personalidade Psicopática I ou o Transtorno da Personalidade Psicopática II; talvez, seja necessário incluir o Transtorno da Personalidade Antissocial e o Transtorno da Personalidade Psicopática no DSM. Até que haja uma reconciliação desses termos semelhantes, mas diferentes - antissocial e psicopata - eles continuarão a ser usados incorretamente como sinônimos, e o termo não clínico “sociopata” continuará a ser utilizado. Até que uma mudança ocorra, os profissionais de saúde mental devem utilizar "personalidade antissocial" (termo endossado pela APA) ou "traços psicopáticos" (termo endossado por Hare e usado na avaliação da psicopatia no âmbito forense) . Referências American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed.). Washington, DC: Author. Brazil K.J., Forth A.E. (2016) Hare Psychopathy Checklist. In: Zeigler-Hill V., Shackelford T. (eds) Encyclopedia of Personality and Individual Differences. Springer, Cham. Cleckley, Hervey (1982). The mask of sanity. Revised Edition. Mosby Medical Library. Hare, R. D. (1980). A research scale for the assessment of psychopathy in criminal populations. Personality and Individual Differences, 1,111–119. Hare, R. D. (1991). The Hare Psychopathy Checklist—Revised. Toronto: Multi-Health Systems. Hare, R. D. (2003). The Hare Psychopathy Checklist—Revised (2nd ed.). Toronto: Multi-Health Systems. Skeem, Jennifer L.; Poythress, Norman; Edens, John F.; Lilienfeld, Scott O.; Cale, Ellison M. (2002). "Psychopathic personality or personalities? Exploring potential variants of psychopathy and their implications for risk assessment" (PDF). Aggression and Violent Behavior. 8 (5): 513–546. doi:10.1016/S1359-1789(02)00098-8. Autores Katie Gilbert, jornalista freelance que escreve regularmente para Institutional Investor. Seth Meyers, Psy.D., é psicólogo clínico e especialista em relacionamentos. Fonte https://www.psychologytoday.com/us/blog/insight-is-2020/201812/difference-between-the-psychopath-and-so-called-sociopath
- Como os Psicopatas Corporativos Usam as Emoções para Manipular os Outros
(Tradução livre) Um mito persistente sobre psicopatas envolve a crença de que eles são criminosos insensíveis e sem emoção, principalmente assassinos em série. Os meios de comunicação de massa (por exemplo: programas de televisão, filmes e livros) muitas vezes reforçam essa imagem imprecisa. Um programa do canal de TV ABC, "Secrets of Your Mind" (Segredos da sua Mente), apresentou a história de um terrível assassino em série/psicopata encarcerado que foi diagnosticado com anormalidades cerebrais na região da regulação de suas emoções. Dois fatos contradizem essa falsa crença. Primeiro, vários (possivelmente a maioria) dos psicopatas são encontrados em posições gerenciais ou de poder, ao invés de estarem na prisão/cadeia. Da perspectiva da evolução biológica, os psicopatas prosperam na sociedade pois a maioria realmente tem a habilidade de evitar a prisão. Tanto os psicopatas criminosos quanto os corporativos são prejudiciais ao bem-estar dos outros. No entanto, ao contrário dos criminosos violentos que dependem da agressão física para manter seu controle sobre os indivíduos, os psicopatas corporativos tendem a empregar a brutalidade verbal, o engano, o abuso emocional e os estratagemas para arruinar a vida das pessoas. Em segundo lugar, não faltam emoções aos psicopatas. As emoções podem ser divididas em egoístas e direcionadas aos outros. Embora não tenham emoções direcionadas aos outros ou sociais, eles têm muitas emoções egoístas e/ou mal-adaptativas. Os psicopatas em posições de poder são bons em prejudicar e controlar os outros, em parte porque sabem como usar as emoções para manipular os outros às custas do bem-estar alheio. Pesquisas e observações mostram que psicopatas corporativos possuem muitas emoções egoístas e/ou inadequadas, como: arrogância, grandiosidade, prazer, raiva, fúria, hostilidade, desprezo, presunção, inveja, ciúme, ganância, desconfiança, impaciência e irritabilidade. Devido ao seu encanto superficial, as pessoas muitas vezes interpretam erroneamente sua impulsividade e inescrupulosidade como sendo corajosas e determinadas, e confundem seus egos inflados e suas autoadmirações como sendo sinais de autoconfiança. Por outro lado, as pesquisas e as observações também revelam que os psicopatas são severamente deficientes em emoções sociais, tais como: amor, compaixão, gratidão, paz, gentileza, simpatia, culpa, remorso, empatia e emoções morais gerais (por exemplo: vergonha, ansiedade e medo). Certamente, eles fingem as emoções, mas são muito superficiais e artificiais. Resta uma pergunta a ser respondida: por que as pessoas boas e emocionalmente inteligentes se tornam, muitas vezes, vítimas de psicopatas, indivíduos com temperamentos abusivos, que exibem loquacidade, irresponsabilidade e engano, com uma necessidade excessiva de controle e interferência correspondente ao seu senso de incompetência? Em minhas observações, isso ocorre porque os psicopatas corporativos usam as emoções, incluindo as emoções dos outros, para progredirem nos seus próprios interesses. Deixe-me usar como exemplo um gerente de nível médio. Ele usou três truques típicos para derrotar suas vítimas: Primeiro, ele mentia constantemente para alguém desde que isso ajudasse a manter o seu controle sobre a pessoa. A vítima, que tentou se comunicar com o gerente, sempre se frustrou porque o chefe sempre negou o que fez ou justificou suas ações, dizendo "O que há de errado nisso?" Em segundo lugar, embora o gerente não tivesse sentimento de culpa, ele conseguiu fazer a vítima abusada a se sentir inadequada, repetindo "Está tudo bem" (logo após sua explosão emocional violenta contra a pessoa que discordou dele). Basicamente, ele fez a vítima sentir que a reação emocional normal ao abuso foi exagerada. Como resultado, a vítima se sentiu culpada. Terceiro, ele era bom em usar a empatia de outra pessoa. Embora a raiva fosse seu temperamento primário para controlar os outros, ele se destacou em mudar suas expressões emocionais de extrema raiva para extrema tristeza, automaticamente ou voluntariamente. De repente, ele parecia ser uma pessoa desamparada e triste, precisando imediatamente ser mimado por outros, despertando a empatia de suas vítimas rapidamente (essa mudança faz parte de sua atuação e é diferente da instabilidade emocional observada nos Transtornos de Personalidade Borderline). Como lidar com eles? Concordo com a sugestão de Martha Stout de que o melhor método para lidar com psicopatas é separar-se deles ou das situações em que eles atuam. No entanto, não compartilho do consenso de que não existe cura nem tratamento eficaz para a psicopatia, que tem um forte componente genético. Acho que a pesquisa do falecido psicólogo britânico Hans Eysenck sobre condicionamento e consciência lança uma luz sobre a psicopatia (embora ele não tenha examinado a psicopatia em si). Eysenck afirmou que as pessoas que são impulsivas, não têm (ou não aprenderam) o sentimento de culpa ou consciência sobre a culpa, que eles têm baixo condicionamento, influenciado pelo processo de condicionamento clássico, principalmente durante a infância. Embora o sistema límbico regule a eficácia do condicionamento clássico, processos de condicionamento mais frequentes e intensos podem melhorar o baixo condicionamento inato. Em suma, os psicopatas representam uma categoria muito mais complicada do que os criminosos retratados na mídia. Eles prosperam não porque lhes faltem emoções em geral, mas porque usam as emoções (além de outros truques) para controlar os outros. Key Sun, Ph.D., é psicólogo e assistente social, lecionou na Central Washington University e na Bastyr University. FONTE: https://www.psychologytoday.com/us/blog/the-justice-and-responsibility-league/201011/how-managerial-psychopaths-use-emotions-manipulate
- Pare de Pisar em Ovos: Como agir quando alguém que você ama tem Transtorno Borderline (Limítrofe)
Tem alguma coisa errada comigo! Essa era a única explicação que eu conseguia imaginar para o comportamento dele. Por que ele agia de forma tão amorosa em um instante, para logo depois arrasar comigo? Por que ele me achava talentosa e maravilhosa, e logo depois me acusava de ser desprezível e a causa de todos os problemas dele? Se ele me amava tanto quanto dizia, por que eu me sentia manipulada e impotente? E como alguém tão inteligente e culto podia às vezes agir de forma tão completamente irracional? Eu tinha consciência de que não havia feito nada para merecer tal tratamento. Porém, ao longo de vários anos, acabei por aceitar o ponto de vista dele: eu estava errada, e tudo era minha culpa. Mesmo após o término do nosso relacionamento, a desconfiança e a baixa autoestima permaneceram. Então, comecei a fazer terapia. Após vários meses, a terapeuta me disse algo sobre meu ex-namorado que mudaria radicalmente a minha vida e a de muitas outras pessoas: “Esse tipo de comportamento que você está descrevendo é característico de Transtorno de Personalidade Borderline - TPB. Como não conheço seu ex-namorado, não posso diagnosticá-lo. Mas, pelo que você contou, ele com certeza se encaixa nos critérios.” Transtorno de Personalidade Borderline? Eu nunca tinha ouvido falar nisso. A terapeuta me indicou a leitura do livro I Hate You - Don’t Leave Me [Odeio você - Não me abandone], escrito pelo médico Jerold Kreisman em 1989. Assim descobri que o comportamento confuso do meu namorado se enquadrava em sete dos nove critérios do Transtorno de Personalidade Borderline - TPB - listados na “bíblia” dos psiquiatras, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM, na sigla em inglês. São necessários apenas cinco critérios para a confirmação do diagnóstico. Muitos livros não relacionados ao TPB influenciaram minha maneira de pensar. O mais importante deles foi The Dance of Anger [A dança da raiva] (1985), de Harriet Goldhor Lerner, Ph.D., cujos conceitos fundamentais permeiam cada página deste livro. The Dance of Anger mudou a minha vida desde o momento em que o li. É uma grande honra passar adiante a sabedoria de Lerner, que tanto me inspirou. Os livros de Susan Forward, Ph.D., também influenciaram este trabalho, principalmente Chantagem emocional (1998) e Pais tóxicos (1990). Eu recomendo muito esses três livros. Eu queria saber mais sobre como o transtorno havia me afetado. Eu precisava descobrir como me curar. Mas só encontrei dois livros sobre TPB voltados para o público leigo, e eles eram apenas explicações simplificadas sobre o transtorno, não manuais de autoajuda para familiares dos borders. Desta forma, decidi escrever meu próprio livro de autoajuda. Como o TPB afeta 6 milhões de pessoas apenas na América do Norte, eu imaginei que pelo menos 18 milhões de familiares, namorados, cônjuges e amigos — como eu — se sentiam culpados por comportamentos que pouco tinham a ver com eles próprios. Uma amiga soube que eu gostaria de escrever o livro em parceria com algum profissional de saúde mental e indicou Paul Mason, um psicoterapeuta que havia trabalhado por dez anos com borders e familiares tanto em regime hospitalar como ambulatorial. Sua pesquisa sobre os subtipos do TPB havia sido publicada em uma revista respeitada, e ele já havia ministrado várias palestras sobre o assunto para plateias leigas e profissionais. Como eu, Paul estava convencido de que amigos, namorados, cônjuges e familiares de portadores de transtorno borderline precisavam saber que não estavam sozinhos. “Alguns familiares me contavam que se viam em uma guerra emocional e não sabiam mais como reagir”, comentou. Paul deu início à pesquisa para o livro, procurando estudos relevantes entre a literatura específica. Muitos artigos discutiam as dificuldades de se tratar pacientes borderline, vistos por alguns profissionais de saúde mental como carentes, desafiadores e de progressão terapêutica lenta ou nula. A maioria dos textos, no entanto, propunha estratégias de enfrentamento para profissionais que viam os pacientes durante apenas uma hora por semana e negligenciava as necessidades dos familiares que conviviam com o border sete dias por semana e não tinham treinamento específico. Nos estudos que discutiam “a família”, este termo quase sempre se referia à família de origem da pessoa com TPB, e o enfoque principal era determinar o papel do ambiente familiar remoto no desenvolvimento do transtorno. Em outras palavras, os estudos enfocavam o comportamento em relação aos borders, e não o comportamento do border em relação ao outro. Enquanto Paul mergulhava nos periódicos especializados, comecei a entrevistar dezenas de profissionais de saúde mental sobre o que as pessoas que não têm TPB, as não borders (namorados, cônjuges, amigos ou parentes de borders), podem fazer para assumir o controle das próprias vidas e parar de viver “pisando em ovos”, mas sem deixar de lado o apoio a alguém querido. Alguns desses especialistas eram pesquisadores de TPB renomados, e outros, profissionais indicados por amigos. Uma grande surpresa estava à minha frente. Embora, por definição, o Transtorno de Personalidade Borderline afete negativamente as pessoas que convivem com o paciente, a maioria dos profissionais de saúde — com algumas exceções dignas de nota — ficava tão sobrecarregada pelos pacientes borderline que mal aconselhava os não borders. As entrevistas continuaram, e o volume de conhecimento aumentou. Paul e eu havíamos reunido informações essenciais para quem mantém relações afetivas com borders, mas ainda não tínhamos um livro — não o guia de apoio detalhado que queríamos. E então, veio a internet. Meu computador novo, que eu havia comprado para escrever e trabalhar com marketing e relações públicas, veio com um disquete do America Online (AOL), o provedor de serviços de internet. Fiquei curiosa para experimentar a internet, então instalei o programa. Descobri um mundo novo do qual eu não fazia ideia. Os fóruns de discussão do AOL eram como gigantescos grupos de apoio reunidos no maior salão de igreja do mundo. Os internautas que encontrei nesses grupos on-line, borders ou não borders, não esperavam por respostas de especialistas. Aquelas pessoas dividiam estratégias de enfrentamento, trocavam informações técnicas e davam apoio emocional a desconhecidos íntimos, pessoas que entendiam exatamente o que as demais sentiam. Comecei pela leitura dos anos de postagens acumuladas de centenas de borders e não borders nos fóruns e enviei e-mails para os autores das últimas mensagens, perguntando-lhes se gostariam de participar da nossa pesquisa. Muitos aceitaram o convite, encantados com o fato de alguém finalmente dar atenção à inexistência de informações sobre o TPB. Conforme as conversas via e-mail avançaram, comecei a identificar as principais preocupações dos familiares, amigos, cônjuges e namorados. Em seguida, eu pedia que os borders me dessem suas próprias perspectivas sobre a questão. Por exemplo, quando os não borders me contavam do desamparo sentido diante de acessos de fúria, eu pedia que os borders tentassem relatar o que eles próprios sentiam e pensavam durante essas explosões e como os familiares poderiam responder de forma melhor. De início, os borders não se abriam muito comigo. Contudo, com o passar dos meses e conforme a confiança em mim aumentava, eles começaram a revelar sentimentos muito profundos e a descrever a devastação incrível que o transtorno borderline provoca. Muitos contaram histórias de abuso sexual, automutilação, depressão e tentativas de suicídio. “Ser border é se sentir num inferno sem fim, para dizer o mínimo”, escreveu uma mulher. “Dor, raiva, confusão, mágoa. Nunca saber como vou me sentir no minuto seguinte. Tristeza, porque sei que machuco quem eu amo. Muito de vez em quando eu me sinto alegre demais, e isso me deixa ansiosa. Aí, faço cortes no meu corpo. E então, morro de vergonha por ter me cortado. Sinto como se minha vida fosse um labirinto sem fim, e a única forma de sair é acabar com tudo de uma vez.” Alguns terapeutas não acreditavam na possibilidade de recuperação das pessoas com TPB. Porém, conheci muita gente na internet que havia melhorado bastante por meio de uma combinação de terapia, medicação e apoio emocional. A alegria dessas pessoas ao se sentirem normais pela primeira vez na vida me levou às lágrimas em várias ocasiões. E, pela primeira vez, compreendi como o meu border deve ter sofrido. Comportamentos que eram incompreensíveis agora faziam sentido. Pela primeira vez, entendi profundamente que todos aqueles ataques emocionais gratuitos não tinham nada a ver comigo. As explosões provavelmente eram o resultado da vergonha e do forte medo de abandono que meu namorado sentia. A descoberta de que ele também era uma vítima transformou parte da minha raiva em compaixão. As histórias de familiares que eu lia na internet também eram assustadoras. Li sobre pessoas que espalhavam mentiras embaraçosas e prejudiciais dos respectivos cônjuges e os denunciavam por abuso. Pais amorosos e desnorteados gastavam todas as economias tentando ajudar os filhos com traços do transtorno, apenas para serem acusados implícita ou explicitamente de abuso infantil. Filhos adultos de borders relatavam o pesadelo por que passaram na infância. Um homem relatou: “Até minhas funções fisiológicas eram criticadas. Minha mãe era borderline e dizia que eu não comia direito, não caminhava, pensava, sentava, urinava, chorava, espirrava, tossia, sorria, sangrava nem escutava direito.” Irmãos de borders contavam da luta pela atenção dos pais e se preocupavam com a possibilidade de seus próprios filhos desenvolverem o transtorno. Com a ajuda de voluntários que conheci nos fóruns da internet, fiz um site sobre TPB (www.BPDCentral.com) e organizei uma comunidade on-line para não borders, chamada Welcome to Oz [Bem-vindos a Oz], minha comunidade on-line para pessoas próximas a borderlines, entrou no ar em janeiro de 1996. Muitas pessoas ficavam pasmas ao descobrir que suas vivências eram compartilhadas por muitos, que aquilo por que passavam não acontecia só com elas. Por exemplo, três membros da Welcome to Oz contaram sobre brigas com borders dentro de aeroportos. Houve quatro relatos sobre borders que sonharam que o familiar fazia alguma coisa errada e passaram dias com raiva por causa disso. Pouco a pouco, Paul e eu começamos a organizar esses dados. Desenvolvemos um sistema: eu passava a Paul ideias e sugestões recolhidas na internet, e ele desenvolvia e conceituava teoricamente o material. Às vezes, Paul propunha estratégias a partir de suas pesquisas, e eu ajustava essas recomendações e as divulgava entre os membros da comunidade, que faziam observações com base em suas vivências. Nós estávamos maravilhados com a tecnologia: com o toque de uma tecla, a internet nos devolvia o feedback de centenas de pessoas de todo o mundo. Quando já estávamos satisfeitos com o material, nós o mostramos a alguns colegas do Paul, a outros profissionais de saúde mental e a pesquisadores de TPB conceituados que passaram anos trabalhando com borders e suas famílias. Todos confirmaram que seus pacientes e respectivos familiares tinham as mesmas preocupações que os membros dos nossos fóruns on-line. Para nos certificar ainda mais da precisão dos dados, pedimos a Edith Cracchiolo, professora de psicologia na Faculdade Cerritos, em Norwalk, Califórnia, que fizesse um levantamento dos não borders no nosso grupo de apoio on-line. Sem dúvida, não foi possível satisfazer a todos. Quando comecei a considerar seriamente a ideia de escrever o livro, eu não conseguia entender por que ninguém havia feito isso antes. Após alguns meses no projeto, a resposta ficou bem clara. O Transtorno de Personalidade Borderline é um assunto complexo e controverso. Defini-lo é como tentar pescar um peixe com as mãos, de olhos vendados e debaixo de chuva. Há muitas teorias sobre as causas do TPB, mas todas são inconclusivas. As formas de tratamento rendem discussões acaloradas entre os pesquisadores mais proeminentes. Porém, o mais frustrante de tudo era a falta de reconhecimento do transtorno borderline pela comunidade de saúde mental e, consequentemente, pelo público em geral. De acordo com a American Psychiatric Association (Associação Americana de Psiquiatria, ou APA, na sigla em inglês), a incidência do TPB equivale, grosso modo, à soma das incidências de esquizofrenia e transtorno bipolar. Ainda assim, a maioria dos profissionais entrevistados por nós admitia não ter recebido treinamento adequado para diagnosticar e tratar esse transtorno tão desafiador. Alguns haviam apenas assistido a uma ou duas palestras sobre o assunto. Escrever este livro provou ser, na mesma medida, um desafio intelectual e emocional. Ao responder a nossos questionários, muitos borders incluíam ameaças de suicídio implícitas ou explícitas. Eu recebia diariamente pelo menos uma carta desesperada de alguém que havia acabado de saber da existência do TPB no site www.BPDCentral.com e pedia orientação sobre como proceder. O resultado de três anos de esforços é este livro que você tem em mãos agora. Não é a última palavra sobre o assunto. Isto é apenas o começo. Esperamos que este material desperte o interesse por novas pesquisas e ajude médicos a orientar seus pacientes. Queremos que sirva de apoio e consolo para familiares e amigos, e que represente uma esperança de recuperação para as pessoas com transtorno borderline. Acima de tudo, esperamos que ajude você, e muitos outros como você, a descer da montanha russa emocional que tomou conta da sua rotina desde que um borderline entrou na sua vida. — Randi Kreger (Introdução Adaptada do Livro: Pare de Pisar em Ovos) FONTE: LIVRO: Pare de Pisar em Ovos: Como agir quando alguém que você ama tem Transtorno de Personalidade Borderline. Paul T. Mason e Randi Kreger. Editora Fontanar, 2013.
- Autismo - Síndrome de Asperger e outros termos
(Tradução livre) National Autistic Society – Reino Unido A "síndrome de Asperger" foi apresentada ao mundo pela psiquiatra britânica Lorna Wing na década de 1980. O termo deriva de um estudo de 1944 do pediatra austríaco Hans Asperger (novas evidências sobre sua história problemática foram recentemente reveladas e provocaram um grande debate). Muitas pessoas que se enquadram no perfil da síndrome de Asperger agora estão sendo diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista. Cada pessoa é diferente, e cabe a cada indivíduo decidir como se identificar. Algumas pessoas com diagnóstico de síndrome de Asperger podem escolher manter o uso do termo, enquanto outras podem preferir o termo autistas quando se referir a si mesmas ou com espectro autista. O autismo é uma condição do espectro. Todas as pessoas autistas compartilham certas dificuldades, mas ser autista as afetará de maneiras diferentes. Algumas pessoas com síndrome de Asperger também têm problemas de saúde mental ou outras condições, o que significa que as pessoas precisam de diferentes níveis e tipos de suporte. Pessoas com síndrome de Asperger veem, ouvem e sentem o mundo de maneira diferente das outras pessoas. Se você tem síndrome de Asperger, você a terá para sempre - não é uma doença ou enfermidade e não pode ser "curada". Frequentemente, as pessoas acham que a síndrome de Asperger é um aspecto fundamental de sua identidade. Pessoas com síndrome de Asperger não têm as dificuldades de aprendizagem que muitos autistas têm, mas podem ter dificuldades de aprendizagem específicas. Eles podem ter menos problemas com a fala, mas ainda podem ter dificuldades em compreender e processar a linguagem. Tendo o correto suporte, todas as pessoas autistas podem ser ajudadas a viver uma vida mais plena dentro de suas próprias escolhas. A síndrome de Asperger é comum? O autismo, incluindo a síndrome de Asperger, é muito mais comum do que a maioria das pessoas imagina. Existem cerca de 700.000 pessoas autistas no Reino Unido - isso é mais de 1 em 100. Pessoas com síndrome de Asperger vêm de todas as nacionalidades e origens culturais, religiosas e sociais. Historicamente, mais homens foram diagnosticados como autistas do que mulheres, embora isso esteja começando a mudar. Como as pessoas com síndrome de Asperger veem o mundo? Algumas pessoas com síndrome de Asperger dizem que o mundo parece opressor e isso pode causar uma ansiedade considerável. Em particular, compreender e relacionar-se com outras pessoas e participar do quotidiano familiar, escolar, profissional e social pode ser mais difícil. Outras pessoas parecem saber, intuitivamente, como se comunicar e interagir umas com as outras, mas também podem lutar para construir um relacionamento com pessoas com síndrome de Asperger. Pessoas com síndrome de Asperger podem se perguntar por que são “diferentes” e sentir que suas diferenças sociais significam que as pessoas não as entendem. As pessoas autistas muitas vezes não "parecem" incapacitadas. Alguns pais de crianças autistas dizem que outras pessoas simplesmente pensam que seus filhos são travessos, enquanto os adultos podem descobrir que são mal interpretados. Os benefícios de um diagnóstico de síndrome de Asperger Algumas pessoas acreditam que um diagnóstico formal seja um rótulo inútil, mas para muitos, obter uma avaliação e um diagnóstico completo pode ser útil, pois: • ajuda as pessoas com síndrome de Asperger (e suas famílias, parceiros, empregadores, colegas, professores e amigos) a entender por que podem ter certas dificuldades e o que podem fazer a respeito • permite que as pessoas acessem serviços e suporte. Como a síndrome de Asperger é diagnosticada? As características da síndrome de Asperger variam de pessoa para pessoa, embora existam alguns traços importantes que as pessoas autistas compartilham. Aqui estão: • dificuldades persistentes ou diferenças na comunicação social e interação social • padrões restritos e repetitivos de comportamentos, atividades ou interesses desde a primeira infância, na medida em que impactam negativamente na vida cotidiana. O processo de diagnóstico geralmente envolve uma equipe multidisciplinar - muitas vezes incluindo um fonoaudiólogo, pediatra, psiquiatra e/ou psicólogo. Como a síndrome de Asperger varia muito de pessoa para pessoa, fazer um diagnóstico pode ser difícil. Muitas vezes é diagnosticado mais tarde em crianças do que o autismo clássico e, às vezes, os sintomas podem não ser reconhecidos e diagnosticados até a idade adulta. Diferenças na comunicação Pessoas autistas, incluindo aquelas com síndrome de Asperger, geralmente se comunicam de maneira diferente. Eles podem ter dificuldade em interpretar a linguagem verbal e não verbal, como gestos ou tom de voz, ou pode demorar um pouco mais para entender. Algumas pessoas autistas têm uma compreensão muito literal da linguagem e acham que as pessoas sempre querem dizer exatamente o que dizem. Eles podem achar difícil de usar ou entender: • expressões faciais • tom de voz • piadas e sarcasmo • conceitos vagos ou abstratos Essas características podem se expressar de maneiras diferentes. Por exemplo, alguém com síndrome de Asperger pode ser muito engraçado ou sarcástico, mas nem sempre pode entender o sarcasmo. Pessoas com síndrome de Asperger geralmente têm boas habilidades de linguagem, mas podem ainda achar difícil entender as expectativas dos outros dentro de uma conversa, e talvez fique repetindo o que a outra pessoa acabou de dizer (isso se chama ecolalia) ou conversando longamente sobre seus próprios interesses. Pessoas com síndrome de Asperger podem precisar de mais tempo para processar informações e, muitas vezes, acham mais fácil entender uma linguagem clara e consistente ao invés de frases abstratas. Diferenças na interação social Pessoas com síndrome de Asperger muitas vezes têm dificuldade em “entender” outras pessoas - reconhecer ou compreender os sentimentos e intenções dos outros - e expressar suas próprias emoções. Isso pode ser muito difícil para que eles percorram o mundo social. Eles podem: • parecer insensíveis, mesmo que não tenham a intenção de ser • procurar um tempo sozinhos quando sobrecarregados por outras pessoas • não buscar conforto de outras pessoas • parecer se comportar "estranhamente" ou de uma forma considerada socialmente inadequada. Isso não significa que as pessoas autistas (incluindo aquelas com síndrome de Asperger) não tenham empatia ou a capacidade de sentir emoções. Em muitos casos, eles podem ser mais empáticos ou emocionalmente conscientes do que pessoas não autistas. Eles podem ter problemas para expressar seus sentimentos de maneira convencional ou socialmente apropriada. Por essas razões, algumas pessoas autistas podem achar difícil fazer amizades. Alguns podem querer interagir com outras pessoas e fazer amigos, mas podem não ter certeza de como fazer isso. Algumas pessoas com síndrome de Asperger podem parecer muito mais confiantes ou hábeis socialmente do que realmente são. Muitos adultos autistas desenvolvem habilidades mais tradicionais, imitando os outros ao seu redor ou preparando o que vão dizer antes de um evento, como se estivessem aprendendo um script. Isso pode ser eficaz, porém exaustivo. Comportamentos e rotinas repetitivas O mundo pode parecer um lugar muito imprevisível e confuso para pessoas com síndrome de Asperger, que muitas vezes preferem ter uma rotina diária para saber o que vai acontecer todos os dias. Eles podem querer viajar sempre da mesma maneira para a escola ou trabalho, ou comer exatamente a mesma comida no café da manhã. O uso de regras também pode ser importante. Pode ser difícil ter uma abordagem diferente para algo depois de ter sido ensinado sobre a forma “certa” de fazer isso. Eles podem não se sentir confortáveis com a ideia de mudança, mas podem ser capazes de lidar melhor, se puderem se preparar com antecedência. Interesses altamente focados Muitas pessoas com síndrome de Asperger têm interesses intensos e são hiperfocados, geralmente desde uma idade bastante jovem. O interesses podem mudar com o tempo ou durar a vida toda, e podem ser sobre qualquer tema, desde arte ou música a trens ou computadores. Às vezes, um interesse pode ser incomum. Uma pessoa adorava coletar lixo, por exemplo. Com incentivo, essa pessoa em particular desenvolveu um interesse pela reciclagem e pelo meio ambiente. Muitos canalizam seu interesse em estudos, trabalho remunerado, voluntariado ou outras carreiras ou empregos significativos. Pessoas com síndrome de Asperger costumam dizer que a busca por tais interesses é fundamental para seu bem-estar e felicidade. Nomes e termos diferentes para o autismo Ao longo dos anos, diferentes nomenclaturas diagnósticas foram utilizadas, como: Autismo, Transtorno do Espectro do Autismo, Condição do Espectro do Autismo, Autismo Clássico, Autismo de Kanner, Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, Autismo de Alto Funcionamento, Síndrome de Asperger e Evitação de Demanda Patológica. Isso reflete os diferentes manuais e ferramentas de diagnóstico usados e os diferentes perfis de autismo apresentados pelos indivíduos. Devido às recentes mudanças e futuras nos principais manuais de diagnóstico, “Transtorno do Espectro do Autismo” - TEA - provavelmente se tornará o termo diagnóstico mais comumente usado. A síndrome de Asperger continua a ser um perfil útil para muitos profissionais. A problemática história de Hans Asperger A síndrome de Asperger compartilha seu nome com Hans Asperger, uma figura proeminente nas primeiras pesquisas sobre o autismo, que trabalhou como pediatra na Áustria no século 20, inclusive durante o nazismo. Um estudo de oito anos sobre sua relação com o regime nazista foi publicado em 2018, concluindo que ele ajudou no programa de eutanásia. Isso provocou um grande debate entre as pessoas autistas e seus familiares, particularmente aqueles que se identificam com o termo “Asperger”. Estamos ouvindo atentamente a resposta a essas notícias para que possamos continuar a garantir que a linguagem que usamos para descrever o autismo reflita as preferências das pessoas autistas e de suas famílias. FONTE: https://www.autism.org.uk/advice-and-guidance/what-is-autism/asperger-syndrome
- Asperger colaborou com programa de eutanásia nazista, diz estudo em 2018
Documentos mostram que psiquiatra austríaco legitimou políticas de “higiene racial” O austríaco Hans Asperger (1906-1980) ganhou notoriedade mundial com seus estudos sobre psiquiatria e pediatria infantil. Emprestou seu nome à síndrome de Asperger, uma forma de autismo. Agora, a fama de pioneiro na área médica é manchada pela descoberta de que teria construído sua carreira a partir de colaborações ao regime nazista. Documentos e registros de pacientes obtidos pelo historiador médico austríaco Herwig Czech mostram que Asperger legitimou políticas de “higiene racial” do Terceiro Reich. Em um artigo publicado em 2018 na revista Molecular Autism, Czech analisou 1.012 documentos escritos pelo pediatra entre 1938 e 1944 e que estavam esquecidos no Arquivo Municipal de Viena. Embora nunca tenha sido membro do Partido Nazista, Asperger uniu-se a diversas organizações ligadas a Hitler que praticavam esterilizações forçadas e, em várias ocasiões, cooperou ativamente com o programa de eutanásia infantil. Até sua morte, em 1980, o pediatra negou envolvimento com esses programas. Revelou, inclusive, que teria sido procurado pela Gestapo, a polícia secreta do Reich, por se recusar a entregar crianças para o governo. A linguagem empregada no diagnóstico de seus pacientes era dura, contrariando a ideia de que ele tentava protegê-los, apregoada durante décadas por seus defensores. Em um de seus documentos, Asperger avalia que as crianças enviadas para a clínica de Am Spiegelgrund, em Viena, não se enquadravam nos critérios do regime nazista de “valor hereditário” e “pureza racial”. Quase 800 crianças morreram na instituição entre 1940 e 1945 — muitas foram assassinadas por métodos como envenenamento. IDIOTIA E IMBECILIDADE Segundo o estudo, Asperger aconselhou o envio de duas meninas para Am Spiegelgrund — Herta Schreiber, de 2 anos, e Elisabeth Schreiber, de 5. O pediatra anotou que Herta tinha “transtorno de personalidade grave (...), idiotia erética. (...) Em casa a criança deve ser um fardo insuportável para a mãe, que deve cuidar de cinco crianças saudáveis. A colocação permanente em Spiegelgrund parece absolutamente necessária”. Elisabeth também foi retratada como portadora de “imbecilidade”. Sua internação seria “a melhor possibilidade” para que não fosse uma ameaça aos irmãos. Asperger também participou de uma comissão encarregada da vistoria de uma instituição de Viena dedicada à assistência de 200 crianças com deficiência mental. O objetivo era dividi-las segundo suas habilidades intelectuais. Trinta e cinco foram consideradas “incultas” e, por isso, foram mortas em Spiegelgrund. Czech ressalta que a atitude ambivalente do pediatra em relação aos nazistas já era visível em um diário de abril de 1934, quando o austríaco passou algum tempo na Alemanha, já governada por Hitler. Em suas anotações, ele afirma: “Como um povo inteiro marcha em uma direção, fanático — com visão estreita, certamente, mas com entusiasmo e dedicação, com enorme disciplina e vigor formidável”. Após a anexação da Áustria à Alemanha, em 1938, um decreto que reorganizou o serviço público profissional classificou Asperger como “politicamente aceitável”. Na época, o pediatra começou a assinar seus relatórios com a saudação “Heil Hitler” — um gesto que, segundo Czech, é “meramente simbólico, mas revelador”. Dois anos depois, o estreitamento das relações entre Asperger e o Reich repercutiram em uma avaliação elogiosa em outro relatório: “Em relação às questões das leis raciais e de esterilização, ele (Asperger) está em conformidade com as ideias nacional-socialistas. Com relação ao seu caráter e em termos políticos, ele é considerado incontestável”. O historiador avalia que a medicina desempenhou um papel fundamental para a consolidação do regime nazista: — Esperava-se que os médicos implementassem o programa de “higiene da raça” e fortalecessem a força biológica do povo alemão — explica. — O nacional-socialismo era uma ditadura “biopolítica”. Para atingir seus objetivos, o regime realizou esterilizações forçadas em centenas de milhares de pessoas consideradas “biologicamente inferiores” e matou aproximadamente 200 mil pacientes psiquiátricos. Autor do livro “High Hitler”, sobre o envolvimento do Führer com drogas, o jornalista alemão Norman Ohler considera que Asperger soube tomar medidas para se adaptar à realidade imposta pelo governo. — A medicina é uma das categorias profissionais em que há maior envolvimento com o nazismo — assinala. — A expectativa é que a ciência corroborasse as experiências horríveis realizadas nos campos de concentração. E a saudação “Heil Hitler” havia se tornado obrigatória, mesmo dentro de casa. Czech reconhece que seu estudo pode provocar polêmicas relacionadas ao nome da síndrome de Asperger: — Algumas pessoas diagnosticadas podem achar difícil ouvir essa história, mas não conseguiria esconder minhas descobertas. No editorial, um dos editores-chefes da Molecular Autism, Simon Baron-Cohen, também admitiu que a pesquisa pode incitar debates: “Estamos cientes de que o artigo e sua publicação serão controversos”, sublinhou. “Acreditamos que ele merece ser publicado a fim de expor a verdade sobre como um médico que, por muito tempo, era visto apenas como tendo feito contribuições valiosas para o campo da pediatria e da psiquiatria infantil era culpado por ajudar ativamente os nazistas em suas abomináveis políticas de eugenia. Essa evidência histórica deve ser disponibilizada”. Carol Povey, membro da National Autistic Society do Reino Unido, afirmou, em entrevista ao site Science Media Centre, que espera que a descoberta gere uma conversa entre as famílias de pessoas com o transtorno: — O autismo afeta a todos de maneira diferente, e as pessoas geralmente têm seu próprio jeito de falar sobre isso. Ouviremos atentamente a resposta a essa notícia para que possamos nos certificar de que a linguagem que usamos reflete as preferências das famílias. Obviamente, ninguém com um diagnóstico de síndrome de Asperger deve se sentir contaminado por essa história tão preocupante. FONTE: https://oglobo.globo.com/sociedade/historia/asperger-colaborou-com-programa-de-eutanasia-nazista-diz-estudo-22607998
- TDAH nas epilepsias: prevalência e fatores de risco
RESUMO O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) representa uma das comorbidades mais prevalentes da epilepsia, mas a associação entre ambas as condições é pouco compreendida. Esta revisão sistemática da literatura foi realizada em base de dados eletrônica (Medline/Pubmed), no recorte 2011-2016, com o objetivo de investigar os fatores associados à comorbidade. Aplicados os critérios de elegibilidade, foram selecionados 15 artigos. A prevalência de TDAH na epilepsia variou amplamente de 5,3% a 64,9%. Apesar de o TDAH estar presente nas epilepsias focais e generalizadas, alguns tipos ou síndromes epilépticas, como a epilepsia rolândica e a epilepsia frontal, foram fortemente associados aos sintomas de TDAH, especialmente naqueles indivíduos com epilepsia recém-diagnosticada, com crises pouco controladas e com eletroencefalograma anormal. Palavras-chave: epilepsia; TDAH; comorbidade; fatores de risco; prevalência. Introdução A epilepsia, uma doença cerebral caracterizada pela predisposição persistente do cérebro para gerar crises epilépticas e pelas consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais dessa condição (Fisher et al., 2005), acomete cerca de 65 milhões de pessoas no mundo (Thurman et al., 2011). A epilepsia é a doença neurológica mais comum em crianças e adolescentes até 16 anos, e a prevalência estimada varia de 3,2-5,5/1.000 nos países desenvolvidos e de 3,6-44/1.000 nos países em vias de desenvolvimento (Camfield e Camfield, 2015). Crianças com epilepsia apresentam frequentemente transtornos neuropsiquiátricos. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o Transtorno de Aprendizagem e o Transtorno do Espectro Autista (TEA) são mais prevalentes em crianças com epilepsia do que naquelas sem epilepsia e aproximadamente metade das crianças com epilepsia requerem maior assistência educacional (Ferrie et al., 1997). O TDAH, caracterizado por deficit de atenção, desorganização e/ou hiperatividade e impulsividade, acomete de 5% a 7% dos escolares, e são reconhecidas três apresentações: Predominantemente Desatenta, Predominantemente Hiperativa e Impulsiva e a apresentação Combinada (American Psychiatric Association [APA], 2014). A alta comorbidade de TDAH e epilepsia sugere a existência de um mecanismo neurobiológico comum e de uma relação bidirecional entre ambas as condições, aventando-se a participação de fatores genéticos subjacentes a transtornos do neurodesenvolvimento, tipo de epilepsia, efeito das crises epilépticas recorrentes e mecanismos iatrogênicos (Hamoda, Guild, Gumlak, Travers, & Gonzalez-Heydrich, 2009; Gonzalez-Heydrich et al., 2012). Considerando que a epilepsia e o TDAH são comuns na infância e que ambos podem provocar significativas consequências negativas para o comportamento, aprendizado e comportamento social, o objetivo desta revisão sistemática é investigar os fatores associados à comorbidade; o que poderá trazer subsídios para o acompanhamento e a intervenção precoce, com o intuito de minimizar os prováveis prejuízos dos sujeitos acometidos e melhorar a qualidade de vida dos pacientes e familiares. Método Os artigos foram selecionados pela autora principal, no primeiro semestre de 2016, na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos da América, por meio do Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica, utilizando "ADHD" e "epilepsy" como descritores. Foram encontrados 311 artigos em periódicos indexados publicados entre janeiro de 2011 e abril de 2016. A partir da leitura de títulos e resumos dos periódicos, foram selecionados 23 artigos que avaliaram os valores de prevalência de TDAH em indivíduos com epilepsia, e excluídos os artigos de revisão. Posteriormente, a apuração foi efetuada por duas juízas, de modo independente, as quais realizaram leituras criteriosas do material e excluíram aqueles que não identificaram o tipo de epilepsia na casuística, elegendo 15 manuscritos para serem discutidos criticamente na presente revisão sistemática (Quadro 1). Para a exclusão dos artigos, as juízas realizavam a leitura integral dos textos conjuntamente e, após análise minuciosa dos artigos, decidiam consensualmente pela exclusão. Para a avaliação dos fatores preditores de TDAH nas epilepsias (Quadro 2), foram selecionados os artigos que investigaram uma das seguintes variáveis: tipo de epilepsia, idade de início e duração da epilepsia, frequência de crises, história de status epilepticus, história de convulsão febril, história familiar, utilização de fármacos antiepilépticos, descargas epileptiformes não convulsivas e outras doenças associadas. Resultados e Discussão Epilepsia e TDAH são distúrbios neurológicos comuns na infância, mas a relação entre ambos é complexa e mal compreendida. A ampla dispersão na prevalência de TDAH na epilepsia aponta para um conjunto de variáveis contribuintes. Neste estudo foram registradas prevalências de TDAH em crianças com epilepsia que variaram de 5,3% a 64,9% (Quadro 1). As variáveis contribuintes identificadas nos artigos incluíram o tipo de epilepsia ou síndrome epiléptica associada com pouco controle das crises e as descargas epileptiformes, particularmente durante a fase ativa da epilepsia (Quadro 2). A maior prevalência de TDAH foi de 64,9% em crianças com epilepsia rolândica, a síndrome epiléptica mais comum da infância, com maior prevalência em meninos e elevado determinante genético (Kim, Yum, Kim, & Ko, 2014). Entre as 198 crianças acompanhadas pelo serviço terciário de referência, 74 crianças foram incluídas, uma vez que a maioria dos pais refutou a participação dos filhos por não considerar necessária uma avaliação neuropsicológica. As crianças com maior frequência de crises e com descargas centrotemporais foram as que apresentaram maior prejuízo na atenção seletiva. A prevalência elevada de TDAH nessa casuística pode ser atribuída a uma combinação de fatores, como o tipo de epilepsia, a amostra de conveniência que apresentava crises não controladas e eletroencefalograma anormal, aliada a não utilização de escalas padronizadas para o diagnóstico de TDAH. Este estudo corrobora o de Fonseca, Tedrus, Tonelotto, Antunes, & Chiodi (2004), que relataram que crianças com epilepsia rolândica apresentaram desempenho inferior no subteste de leitura e no escore total mais frequentemente do que as sem epilepsia, e aquelas com maior número de descargas centrotemporais apresentam desempenho inferior em leitura comparativamente àquelas com desempenho médio e superior. A literatura aponta que as descargas epileptiformes clínicas impactam o desempenho nos testes neuropsicológico relacionadas com o lobo frontal (Chaudhary et al., 2013; Dinkelacker, Xin, Baulac, Samson, & Dupont, 2016). A epilepsia do lobo frontal é o segundo tipo mais comum de epilepsia da infância e fortemente associada com TDAH. Está amplamente estabelecido que o lobo fontral medeia um papel importante no controle das funções executivas que abarca, entre outros, o controle inibitório, a atenção seletiva e o planejamento de ações direcionados a uma meta, e que ambas, lesões estruturais ou funcionais, como um foco epiléptico nos lobos frontais, podem interferir com essas funções e levar a prejuízos cognitivos e comportamentais. Zhang, Li, Zhu, & Sun (2014) diagnosticaram TDAH em 59% das crianças com epilepsia do lobo frontal, e 89% delas estavam na fase ativa da doença e apresentavam alteração do eletroencefalograma na ocasião do diagnóstico, sugerindo uma estreita associação entre as descargas epileptiformes e o prejuízo das funções corticais frontais com a incidência elevada de TDAH. As pesquisas de G. H. Kim et al. (2012) e de Kang, Yum, Kim, Kim, & Ko (2015) reforçam as evidências que pacientes com epilepsia recém-diagnosticada e com crises não controladas apresentam mais sintomas de TDAH, independentemente do tipo de epilepsia. G. H. Kim et al. (2012) e Kang et al. (2015) não encontraram diferença na estimativa de TDAH entre a epilepsia focal e generalizada, porém a prevalência foi extremamente distinta (6,9% e 49,2%, respectivamente). A baixa prevalência de TDAH apontada por G. H. Kim et al. (2012) pode estar relacionada à exclusão da casuística de crianças na fase ativa da doença e que apresentaram crises nos últimos três meses que antecederam o diagnóstico de TDAH. Nos demais estudos, nos quais a frequência das crises não foi considerada como um fator de risco para os sintomas de TDAH (Duran et al., 2014; G. H. Kim et al., 2012; E. H. Kim et al., 2014; Kwong et al., 2016), a prevalência pode estar relacionada à baixa frequência de crises na casuística estudada, em decorrência dos estritos critérios de exclusão. Corroborando essa hipótese, Chidi, Chidi, Ebele, & Chinyelu (2014) identificaram, na regressão logística, a frequência de crises acima de 24 crises anuais e o eletroencefalograma anormal como fatores significantemente associados com TDAH. Ademais, é amplamente aceito que os medicamentos antiepilépticos causam prejuízos atencionais e que, por conseguinte, poderiam contribuir para a associação entre a epilepsia e o TDAH. No entanto, nos estudos analisados não foram encontradas evidências que os medicamentos antiepilépticos tenham contribuído para os sintomas do TDAH (G. H. Kim et al., 2012; E. H. Kim et al., 2014; Kwong et al., 2016). Em três estudos, a avaliação se restringiu em caracterizar em mono ou politerapia, sem ponderar os medicamentos utilizados individualmente (G. H. Kim et al., 2012; E. H. Kim et al., 2014; Kwong et al., 2016). No estudo de Chidi et al. (2014) não foi identificada associação entre a presença de TDAH com a utilização de carbamazepina, fenobarbital ou ácido valproico. Entretanto, está bem estabelecido que os medicamentos antiepilépticos produzem vários efeitos adversos que poderiam impactar o desempenho cognitivo e comportamental. O fenobarbital produz sintomas cognitivos, incluindo problemas com atenção e hiperatividade. Fenitoína, carbamazepina e ácido valproico também produzem os mesmos efeitos, porém em menor extensão que o fenobarbital. Gabapentina, tiagabina, vigabatrina e lamotrigina produzem poucos efeitos colaterais cognitivos (Williams, Giust, Kronenberger, & Dunn, 2016). Uma possível explicação para a ausência de efeito da terapia antiepiléptica seria o diagnóstico de TDAH ter sido realizado na vigência da farmacoterapia antiepiléptica e os potenciais efeitos adversos minimizados por adaptação fisiológica com a utilização em longo prazo. Na população pediátrica com TDAH, em geral, a apresentação combinada é a mais prevalente, mas, na epilepsia, a apresentação desatenta usualmente é a mais prevalente. Dentre os 15 artigos analisados, somente 8 se propuseram a identificar o tipo de apresentação de TDAH. A apresentação predominantemente desatenta foi a mais prevalente nos estudos de Berl et al. (2015), Chidi et al. (2014) e Duran et al. (2014), a apresentação combinada foi a mais prevalente na casuística de G. H. Kim et al. (2012), Kwong et al. (2016), Tanabe, Kashiwagi, Shimakawa, Tamai, & Wakamiya (2014) e Zhang et al. (2014), e Costa, Oliveira, Gomes, & Maia Filho (2015) não observaram diferença significante entre essas apresentações. Três variáveis podem ter contribuído para a maior ocorrência de uma das apresentações: o gênero predominante na casuística, o controle de crises e a presença de outras comorbidades. Tanabe et al. (2014) correlacionaram a apresentação desatenta ao sexo feminino e a apresentação combinada ao gênero masculino. A predominância de um dos gêneros pode explicar a prevalência da apresentação desatenta no estudo de Duran et al. (2014), em que 87,5% dos pacientes com TDAH eram do sexo feminino, bem como a prevalência da apresentação combinada no estudo de Zhang et al. (2014), no qual 81,0% da casuística era do gênero masculino. Nos estudos nos quais não houve diferença na predominância de gênero (Kim et al. 2012; Kwong et al. 2016), a apresentação combinada foi a mais prevalente. No estudo de Costa et al. (2015), o déficit de atenção alternada foi associado a uma maior frequência de crises e talvez tenha sido esse o fator que determinou a predominância da apresentação desatenta na casuística de Chidi et al. (2014), apesar de a casuística ser composta em sua maioria por meninos. A relação entre a epilepsia e o TDAH é complexa e não existe um único mecanismo fisiopatológico para explicar a associação entre ambas as condições. Nesse contexto, algumas hipóteses não excludentes têm sido propostas. A primeira argumenta que a co-ocorrência se deve a fatores circunstanciais independentes pelo fato de a epilepsia e o TDAH serem comuns na infância (Kaufmann, Goldberg-Stern, & Shuper, 2009). A segunda sugere a presença de fatores subjacentes comuns, como genéticos ou interação gene-ambiente (Gonzalez-Heydrich et al., 2012). Em um elegante artigo de revisão, Lo-Castro e Curatolo (2014) apontam que a co-ocorrência entre epilepsia e TDAH ou TEA tem uma patogênese complexa que resulta da alteração de vários mecanismos neurobiológicos envolvidos com o desenvolvimento cerebral, plasticidade sináptica, transmissão gabaérgica e com a conectividade funcional. Os genes candidatos identificados estão envolvidos na manutenção, formação e remodelagem sináptica (NRX1, CNTN4, DCLK2, CNTNAP2, TRIM32, ASTN2 CTNTN5), na neurotransmissão (SYNGAP1, GABRG1, CHRNA7) e na remodelagem da cromatina ou metilação do DNA (MBD5). Crianças com epilepsia apresentam maiores chances, comparativamente aos seus pares sem epilepsia, de apresentarem, além do TDAH, depressão, transtorno de ansiedade, problemas de conduta, atraso no desenvolvimento e TEA, e, por consequência, maiores dificuldades sociais e acadêmicas (Williams et al., 2016). A população pediátrica investigada nestes estudos frequentemente apresentou outros transtornos neuropsiquiátricos. Os principais transtornos psiquiátricos presentes nos estudos analisados foram transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de conduta disruptivo, bulimia psicogênica, transtorno de oposição desafiante, transtorno específico de aprendizagem, dislexia e TEA (Bedoin et al., 2012; Brabcova, Zarubova, Kohout, Jošt, & Kršek, 2015; Chidi et al., 2014; Dafoulis & Kalyva, 2012; E. H. Kim et al., 2014; Kwong et al., 2016; Tovia et al., 2011). Nesses casos, existe a possibilidade de que os sintomas de TDAH sejam resultantes, além da epilepsia, da combinação das manifestações clínicas de outras doenças neuropsiquiátricas, sugerindo que fatores genéticos subjacentes possam ter desempenhando um papel relevante para a prevalência e para a apresentação do TDAH. A terceira hipótese sugere que uma condição tem efeito causativo sobre a outra, por exemplo, o prejuízo das funções executivas tem sido frequentemente observado nas epilepsias focais (Bedoin et al., 2012; Filippini et al., 2016; Rai et al., 2015) e generalizadas (Gencpinar et al., 2016) e apontado como um fator de risco independente para doenças psiquiátricas na epilepsia, como o TDAH (Alfstad et al., 2016). Em consonância com a condição humana, os modelos animais de epilepsia sugerem a existência de uma associação entre os sintomas de TDAH e de epilepsia. Quando a epilepsia foi induzida em ratos, eles apresentaram hiperatividade e prejuízo das funções executivas, como impulsividade e desatenção (Faure et al., 2014; Pineda et al., 2014; Ramos, Carreiro, Scorza, & Cysneiros, 2016), ou seja, foram secundárias à epilepsia. Pineda et al. (2014) associaram o comportamento desatento e impulsivo dos animais com epilepsia do lobo temporal com o prejuízo da transmissão noradrenérgica no locus coeruleus. Nos estudos analisados, a casuística foi composta por pacientes com epilepsia, que poderiam ter ou não ter TDAH. Entretanto, o desenho metodológico não excluiu a possibilidade de o TDAH ter se manifestado antes do diagnóstico de epilepsia, de tal maneira que as variáveis clínicas da epilepsia deixariam de ser um fator de risco para os sintomas de TDAH. Com exceção, Chidi et al. (2014) estabeleceram como critério de inclusão o diagnóstico primário de epilepsia. Conclusão Com base nos estudos analisados, a prevalência de TDAH na epilepsia varia amplamente, mas é em geral maior do que na população geral. O TDAH está presente nas epilepsias focais e generalizadas, e as apresentações predominantemente desatenta e combinada foram as mais prevalentes. Alguns tipos ou síndromes epilépticas, como a epilepsia rolândica e a epilepsia frontal, foram fortemente associadas com os sintomas de TDAH, especialmente naqueles indivíduos com epilepsia recém-diagnosticada, crises pouco controladas e com eletroencefalograma anormal. Apesar de os medicamentos antiepilépticos apresentarem em teoria efeitos adversos que poderiam contribuir para os sintomas de TDAH, a farmacoterapia não desempenhou papel relevante para a sintomatologia. As conclusões mais contundentes deste estudo não excluem que outras variáveis, como a presença de outras comorbidades neuropsiquiátricas, frequentemente presentes em sujeitos com epilepsia, não tenham contribuído para os sintomas de TDAH, mas realça que, devido às limitações metodológicas dos estudos referente ao controle das variáveis clínicas e a benignidade das casuísticas, não foi possível identificar fatores preditores unânimes para a co-ocorrência. Referências Alfstad, K. 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- Diferença entre uma crise epiléptica e uma crise psicogênica
A crise não epiléptica psicogênica - CNEP - consiste em um diagnóstico operacional que, do ponto de vista neurológico, exclui o diagnóstico de crise epiléptica. Mais precisamente, as CNEPs são definidas como crises, ataques ou acessos recorrentes que podem ser confundidos com epilepsia devido à semelhança das manifestações comportamentais, mas que dela diferem por não serem consequentes de descargas elétricas cerebrais anormais. Do ponto de vista psiquiátrico, a presença de um padrão constante de CNEP pode conduzir aos diagnósticos de transtorno conversivo e de transtorno de somatização, conforme classificação do Diagnostic and statistical manual of mental disorders, 4ª ed. (DSM-IV). Na Classificação internacional das doenças, 10ª versão (CID-10), as CNEPs são incluídas na categoria dos transtornos dissociativos (ou conversivos), mais especificamente das convulsões dissociativas. Embora a expressão crise não epiléptica psicogênica - CNEP - seja de uso recente, diz respeito a um fenômeno bastante conhecido no meio médico, relatado, segundo vários autores, desde tempos remotos na história da medicina. A CNEP também é denominada crise pseudoepiléptica, crise conversiva ou crise histeroepiléptica. Sem levar em conta as diferentes origens e designações dos termos, estima-se que a CNEP apresente cerca de 15 sinônimos na língua inglesa. A partir da década de 1980, o diagnóstico de CNEP passou a contar com a monitorização pelo vídeo-EEG, o que foi considerado o 'padrão ouro' em termos de diagnóstico. Entretanto, na maioria das vezes há grande dificuldade na abordagem desses casos, no que diz respeito tanto aos diagnósticos neurológico e psiquiátrico quanto ao tratamento em si. As especificidades de diagnóstico e tratamento exigem, do ponto de vista psiquiátrico, conhecimentos sobre fenômenos conversivos e dissociativos, negligenciados pela neurologia e pela própria psiquiatria contemporânea. Do ponto de vista neurológico, esse diagnóstico exige conhecimentos sobre a epilepsia que, em geral, os médicos psiquiatras não possuem. Crises não epilépticas psicogênicas, abuso e trauma: década de 1990 Uma mudança relevante observada na década de 1990 foi a emergência frequente na literatura da associação entre diagnósticos de CNEP e histórias de abuso nas biografias dos pacientes. Na década passam também a ser mencionados os diagnósticos de transtorno do estresse pós-traumático - TEPT - e os transtornos dissociativos. Essas associações merecem ser discutidas, uma vez que, conforme apontam alguns estudos, a relação entre as crises não epilépticas psicogênicas e qualquer evento de natureza sexual não fora mencionada até então nos artigos médicos. Somente a partir desse momento se verifica uma proliferação de artigos nessa direção. Para além dos efeitos sobre o desenvolvimento das crianças e adolescentes, o abuso é um conceito que interage com a comunidade científica, a mídia e a sociedade. A partir da década de 1980, tal conceito foi-se constituindo como a pedra angular de um distúrbio mental que passou a ter proporções epidêmicas nos EUA: o distúrbio de múltipla personalidade, objeto de um número significativo de pesquisas, artigos médicos, seminários e menções na mídia. A partir da década de 1990 verifica-se igualmente uma retomada de interesse pela dissociação, no contexto das CNEPs. A dissociação permaneceu silenciosa até a década de 1980, com o surgimento, no DSM-III, do transtorno de múltiplas personalidades e de estresse pós-traumático. Há outra via para compreender e lidar com as CNEPs? A experiência prática com o atendimento psiquiátrico de pacientes com diagnóstico de CNEP, ao mesmo tempo que exemplifica os paradoxos na história de seu conceito, aponta alternativas de desenvolvimento para o manejo do quadro pela psiquiatria contemporânea. Propõe-se, nesse sentido, o cotejamento da discussão histórico-conceitual aqui realizada com a discussão de uma abordagem que o Projeto Epilepsia e Psiquiatria (PROJEPSI) vem desenvolvendo na atenção a pacientes com quadro de CNEP, no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Para a leitura de relato de casos e do artigo completo, acesse aqui: Crise não epiléptica psicogênica: história e crítica de um conceito, 2011. FONTE: SciELO - Scientific Eletronic Library Online #CNEP #PNES #crisenãoepilepticapsicogenica #crisepseudoepiléptica #epilepsia #descargaeletrica #TEPT #PTSD #estresse #trauma #abuso #dissociativo #transtorno #multiplapersonalidade




